capítulo 26

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Um artigo online que li há uma semana dizia que suco de fruta pode
ser tão prejudicial à saúde quanto refrigerante no que diz respeito ao
açúcar e às calorias. — Nossa!
E quando eu pensei que estava fazendo as escolhas certas com suco de
frutas, a internet teve que me dar um tapa na cara.
Com um derrotado suspiro, eu segui em frente da grande prateleira
contendo várias marcas coloridas de diferentes sucos de frutas —
comercializados como saudável — para a seção de frutas e legumes
frescos.
Alguém deveria processar essas empresas por suas alegações meio
verdadeiras — às vezes até falsas. De acordo com o artigo, eu também
precisava de fibra, não apenas de frutose líquida, para obter todos os
benefícios.
No caminho, derrubei duas latas de refrigerante da geladeira no meu
carrinho. Eu não gostava muito delas, mas se estivesse desistindo de
quatro litros de suco em um mês, meu corpo poderia pagar duas
pequenas latas de refrigerante.
Equilíbrio, foi o que meus pais enfiaram na minha cabeça quando eu
adoeci devido a dietas radicais aos dezesseis anos.
Equilibre suas refeições; não deixe de comer comida de que gosta. Limite-o
se não for saudável.
Era uma preguiçosa manhã de domingo quando minha mãe me
arrastou para fora da cama para fazer seus recados. Ela me entregou seu
cartão e uma lista de compras antes de me dispensar na porta após o café
da manhã.
Eu não estava no meu melhor humor depois de ser acordada antes das
8 da manhã no domingo, mas pelo menos comprar minha própria
comida era melhor do que importunar minha mãe para conseguir os
cereais certos.
Eu posso ser uma criança às vezes.
Enquanto eu estava coletando maçãs em um saco de papel, avistei uma morena alta familiar no corredor com uma das pequenas cestas da
loja na mão. — Myra. Namorada do Lucas... ou ex-namorada?
Antes que eu pudesse decidir se deveria dizer oi ou fingir que não a
conheço, seus olhos já haviam me encontrado.
Suas sobrancelhas franziram em reconhecimento quando ela olhou
para mim, e não demorou muito para começar a marchar na minha
direção.
Eu não pude deixar de notar como ela estava perfeitamente arrumada,
ao contrário de mim, que estava em um moletom surrado e calças de
treino. Seus traços latinos se destacavam lindamente com seus olhos
verdes.
— Ei, — disse ela, com um sorriso enjoativamente doce, — você é
aquela garota da festa?
— Keily, — eu respondi, segurando a alça do carrinho com força.
— Eu sou Myra.
— Eu sei.
Ela acenou com a cabeça, seus olhos me avaliando de cima a baixo. —
Ouvi dizer que você e Lucas são bons amigos — Seu tom implicava outra
coisa.
Eu me senti confrontada, e a diferença de altura entre nós só
aumentou minha apreensão.
— Somos apenas amigos.
— Com certeza vocês são. — Ela riu, mas não havia humor. —
Andando juntos pelos corredores, tendo o braço dele à sua volta,
beijando na festa do Keith. Vocês dois parecem absolutamente amigos.
— Você está espionando ele? — Eu perguntei em vez disso, sem saber
como refutar suas afirmações. Lucas me tratava como Addison e outras
garotas, mas ele ficava melindroso comigo perto de James para irritá-lo.
Eu, a princípio, pensei que fosse apenas para importunar seu amigo,
mas agora eu descobri que ele estava tentando deixar James com ciúmes.
A culpa também era minha; eu nunca o parei. Eu gostava de irritar
James também porque ele tinha sido um idiota comigo.
— Eu não estou espionando. Eu tenho coisas melhores para fazer. —
Myra revirou os olhos. — Só estou dizendo que outros na sua escola estão assistindo. Sempre há alguma verdade nos boatos. E pelo seu rosto,
há mesmo.
Eu deveria ter considerado a popularidade de Lucas antes de jogar
este jogo com ele. Claro que outras pessoas notaram, e a fofoca viajou
para a Westview High.
— Eu vi aquela postagem de você beijando James também, — ela
acrescentou, me fazendo corar. — Então, você está com os dois?
— Vo— você veio aqui para me insultar? — Eu engasguei, surpreso por
ela me desrespeitar descaradamente.
— Só estou falando a verdade. — Ela encolheu os ombros, tentando
parecer indiferente, mas falhando. Ela estava com o ciúmes a duzentos
por cento. Lucas e ela tinham suas coisas acontecendo, e de alguma
forma eu tinha caído nesse buraco.
Quem poderia imaginar que Bradford tinha tanto drama a me oferecer?
— Não estou enganando ninguém, — eu disse. — Eu sou uma amiga
do Lucas, assim como Addison. E para que você saiba, eu nunca beijei
Lucas na festa de Keith ou em qualquer outro lugar.
Embora estivéssemos prestes a fazê-lo, tínhamos nossos motivos, que
não eram românticos.
No final, James não nos deixou beijar, então tecnicamente não nos
beijamos.
Os olhos de Myra percorreram meu corpo e um sorriso malicioso
apareceu em seus lábios. — Acho que devo acreditar em você. Não
importa o quanto ele seja idiota, o gosto de Lucas não pode ser tão ruim.
— Cuidado! — Eu rebati, provavelmente atraindo os olhos dos outros,
e olhei para ela. Eu estava cansada de ser humilhada por causa do meu
corpo, primeiro meus antigos colegas de classe, depois James e agora ela.
Havia um grande — capacho — soletrado na minha testa?
— Você tem seus problemas com Lucas; não me arraste para eles. Ele e
eu somos bons amigos, o que eu valorizo. Se você não gosta, traga isso
para ele, em vez de descontar em mim.
— Chamar-me de gorda não vai resolver os seus problemas de
relacionamento.
Seu sorriso se desfez e suas feições suavizaram, fazendo-a parecer arrependida. — Bom!
Quando ela não disse nada, passei por ela para continuar com minhas
compras. Eu me senti orgulhosa de me defender e não deixá-la pisar em
mim.
— Espere! — Myra chamou. Eu parei e ela estava na minha frente
mais uma vez. — Desculpa. Eu passei da linha. Eu me empolguei um
pouco.
Eu balancei a cabeça com seu pedido de desculpas. Eu sabia que ela
tinha fortes sentimentos por Lucas, apesar de sua briga.
— Honestamente, eu não deveria dizer essas coisas para você, mesmo
se vocês dois estivessem namorando. Você tem razão; meu problema é
com Lucas, não com você. — Ela suspirou. — Você sabe por que nós
terminamos?
Eu balancei minha cabeça. Lucas nunca falava sobre ela e eu não
insistia, não queria incomodá-lo. Ele nunca ultrapassou meus limites e
eu queria retribuir isso.
— Bem, três meses atrás ele me largou, alegando que eu o estava
traindo. Ele nem me deixou explicar. Ele foi muito teimoso.
— Feito isso, estávamos passando por uma fase difícil na época com
algumas outras coisas também. Portanto, a comunicação não estava indo
muito bem.
— Acontece que o idiota me viu com minha prima, que estava
visitando nossa família. Ele suspeitou que eu estava traindo ele. — Ela
revirou os olhos. — Uma coisa levou à outra, e aqui estamos.
— Ele tentou fazer as pazes com você quando descobriu? — Eu
perguntei.
— Sim, ele fez, mas ele não fez o caminho mais fácil. — Seus lábios se
torceram em uma carranca. — A merda que ele disse e a maneira como
agiu quando tentei alcançá-lo doeu. Agora estou dando a ele um
gostinho de seu próprio remédio.
— Por que você está me contando tudo isso?
— Se você é uma boa amiga de Lucas, você deveria saber disso. —
Myra encolheu os ombros. — Já que ele não te contou, eu contei.
Eu balancei minha cabeça, pressionando meus lábios para esconder um sorriso. — Você está apenas tentando me afastar dele. Você está
reivindicando Lucas.
— Uh... — Sua pele escura escondeu seu rubor. — Eu estou...
— Tudo bem. Não estou interessada nele desse jeito, de qualquer
maneira, — eu a tranquilizei. — A propósito, vocês dois não voltaram a
ficar juntos na casa do James? — Eu perguntei curiosamente. — Nós não
voltamos, — ela disse simplesmente, indicando que era tudo que ela iria
compartilhar.
— Ok.
— Então você não beijou Lucas, mas com certeza beijou James. Então,
vocês dois estão juntos? — questionou Myra.
Meu rosto esquentou. — É complicado.
Suas sobrancelhas se ergueram. — Relacionamentos são complicados,
— ela murmurou.
— Se há algo que posso dizer sobre James, é que ele é um cara bom, às
vezes um pouco insensível com as pessoas de quem é próximo, mas ainda
assim é bom. O resto é com você.
Eu concordei. Sim. James foi muito insensível comigo.
— Acho que devo ir. — Ela olhou para o seu relógio. — Eu tenho de
estar em algum lugar. Mais uma vez, desculpe por essas coisas de antes.
Eu sorri. — Sem problemas.
Observei Myra colocar alguns vegetais em sua cesta e correr para o
balcão antes de voltar a escolher minhas frutas.
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Alguém tinha de azarar minhas segundas-feiras. Cada vez que eu
voltava para a escola nos fins de semana, algo sempre pairava pesado em
minha mente... E de alguma forma, sempre estava relacionado a James.
— Talvez seja ele quem me azara.
Hoje foi constrangedor pelo que aconteceu quando estive com ele da
última vez.
Era uma aula de inglês, e o Sr. Crones estava falando sobre The
Crucible, uma das peças que íamos ler este ano.
James estava ao meu lado. Não tínhamos falado um com o outro depois que ele me deixou em casa na sexta-feira passada. Fiquei com
vergonha de chorar na frente dele depois que nos beijamos.
Mas havia pelo menos algum consolo de que ele estava no mesmo
barco, porque ele havia derramado algumas lágrimas também.
Eu olhei para a fonte de meus pensamentos acelerados. Suas
sobrancelhas estavam franzidas e seus lábios pressionados juntos em
concentração enquanto ele olhava para o quadro, onde o Sr. Crones
estava escrevendo.
Ele era lindo. Eu poderia ficar olhando para ele o dia todo.
De repente, os olhos escuros de James estavam olhando para mim.
Minhas bochechas ficaram vermelhas por ser pega. Eu lancei meu olhar
para longe quando ele sorriu.
Pequenos arrepios percorreram meus braços e eu corei mais, sentindo
seus olhos em mim. — Não importa o que aconteça, ele permanecerá
arrogante como sempre.
Algo atingiu meu pescoço por trás e um bilhete amassado caiu no meu
colo. Eu abri.
Nosso menino é um veterano. Ele não cai sem lutar Se você o quiser, beije-
o como fez na festa.
Eu fiz uma careta e me virei para encontrar alguns caras no fundo da
sala rindo de si mesmos, olhando para mim. Eles estavam no time de
futebol com James.
O bilhete foi arrancado da minha mão. James estava lendo, segurando
as pontas com força. Ele olhou para trás e lançou um olhar ameaçador
para os caras até que suas risadas parassem.
Eles pareceram surpresos. Aparentemente, eles não esperavam que
James não se juntasse a eles na piada.
— Filhos da puta desprezíveis, — eu o ouvi murmurar enquanto ele se
acomodava. Ele olhou para mim. — Se alguém mais lhe causar
problemas, venha até mim.
— Eu posso cuidar de mim mesma, — eu sussurrei, embora eu me
sentisse confusa sabendo que ele queria cuidar de mim. Mas eu tinha de
parar de depender de outras pessoas.
— E ninguém aqui pode se comparar a você quando se trata de me causar problemas.
— Bom, — disse ele, divertido. — Ninguém deve se igualar a mim. Só
eu tenho permissão para te incomodar. Não vou deixar ninguém fazer
isso.
Eu fiz uma careta.
Ele se inclinou para frente e sorriu. — Você é só minha para
incomodar, perturbar e para ter Você é minha, Keily.
Meu corpo se iluminou, minhas bochechas sem dúvida pareciam
tomates maduros. — E-e se eu não quiser ser sua?
— Então eu vou te forçar a ser. — Ele sorriu, com seus caninos
brancos brilhando como os de um predador. Ele estava me provocando
tanto. E gostando. — Você não pode tirar o bully desse cara.
— Mas algo me diz que você não se importará de ser minha.
Eu olhei para ele, ignorando o maldito zoológico vibrando no meu
estômago. Nós dois sabíamos que minha fachada de raiva não estava
funcionando. — Você é o pior, — eu gemi, desviando o olhar.
— Idiota — resmunguei para mim mesma. Ele era um idiota,
brincando comigo daquele jeito.
— Eu sei que você gosta de me chamar assim, mas talvez você devesse
começar a procurar por um apelido mais cativante.
— Você vai precisar, — ele brincou, e se recostou na cadeira quando o
Sr. Crones estreitou os olhos para nós.
E quanto a estúpido?!

Keily Gordinha e Fabulosa-Manjari.Onde histórias criam vida. Descubra agora