CAPÍTULO SEIS

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O despertador ao meu lado soou como uma ave esganiçada, eu acreditava que minha primeira
noite de sono na verdade não haveria sono nenhum. Por bastante tempo eu passei noites
em claro, relembrando os meus momentos ajoelhada ao lado de minha mãe, desejando que
seu choro cessasse, mas eu não era capaz de fazer isso, então apenas ficava ao seu lado,
mostrando a ela que estaríamos juntas independente do que estivesse havendo
No entanto, desde que Shawn entrou em nossas vidas, ver as tempestades de minha mãe
cessarem e os seus sorrisos aumentarem cada vez mais, isso de algum modo me trouxe conforto.
Voltei a entender o que era fechar os olhos sem passar a noite desejando de fato dormir, mas com
o primeiro dia de aula essa semana se tornou flashbacks do meu passado
Acreditei que passaria a véspera do meu primeiro dia de aula acordada, ansiosa, mas eu estava
muito bem. Acompanhada de minha melhor amiga, abraçada e sendo acolhida por seus braços
durante a madrugada me trouxe algum conforto. Riley me sacudiu diversas vezes e quando eu
finalmente me sentei na cama ela teve esperanças de que eu não me deitasse outra vez, então
seguiu rumo ao seu dormitório onde deveria ter passado a noite
-Maya!
Ouvi aquela voz soar ao longe, abri meus olhos com dificuldade graças ao clarão que entrava
pela janela. Meu resmungo parece ter atingido os ouvidos de quem estava tentando me acordar
-Você vai se atrasar para sua primeira aula, precisa se levantar
Continuei debaixo das cobertas
-Caso você não se levante, eu caminharei com um balde de água muito fria e irei jogar em você!
-Está bem!
Levantei frustrada, encarando por pouco tempo aqueles fios castanhos eu caminhei até o banheiro resmungando. Hanna ficou de pé ao lado da cama com os braços cruzados, tendo a
certeza de que eu vou tomar o meu banho, logo optei pela água fria
-Você não me disse o que está cursando
-Eu faço teatro, nós vamos nos ver bastante, fiquei sabendo que alguns dos materiais feitos a mão nas apresentações às vezes são feitos por alunos de Artes Visuais. Eles fazem algum tipo de seleção.
-Acha que eu conseguiria?
-Se algum destes quadros na sua parede forem seus, acredito que estaria a frente de muitíssimas
pessoas -Falou com um sorriso, admirando as minhas obras -Eles são incríveis, enquanto tomava
banho eu fiquei aqui encarando elas e tive vontade de chorar
Riu outra vez
-Chorar?
-Eles fazem eu me abrir aos meus sentimentos de alguma forma, me sinto segura quando estou
sozinha os encarando. É como se eu pudesse me expressar para eles sem medo -Os olhos
castanhos profundos de minha colega de quarto recaíram sobre mim -Você tem um lindo talento
menina loira
-Menina loira?
-É uma história engraçada, na verdade -Franzi as sobrancelhas enquanto calçava minha bota de
cano curto -Ontem quando eu e sua amiga voltamos do tour, e você tinha desaparecido com
aquele menino lindo que eu me esqueci o nome. Algumas pessoas disseram que ele é ex-colega
de quarto de um tal de chulupalup, eu não entendi essa parte
-É o Josh
-Ele mesmo! -Falou erguendo as sobrancelhas -Bom, parece que começou um falatório pela
universidade onde ele estava com uma menina loira almoçando na lanchonete dos Jolie's
-Como as pessoas ficaram sabendo disso?
-As pessoas conhecem ele, e não gostaram muito de como vocês estavam confortáveis ao lado
um do outro. Então na boca do povo você se tornou a menina loira, eu até que gostei do apelido,
mesmo que tenha mais uma centena de meninas loiras nessa faculdade
-É, mas nenhuma delas é tão linda quanto eu
Começamos a rir enquanto caminhávamos até o corredor, e não era nenhuma mentira o que ela
havia falado, por que todas as pessoas cientes de nosso tour me encararam pelos corredores.
Algumas sorrindo enquanto falavam, outras apenas deslizavam seus olhos de minha cabeça aos
meus pés, eu estava mesmo me sentindo desconfortável com aquilo, não costumo ter a atenção
das pessoas sobre mim de maneira tão abrupta
Apesar da minha sensação incômoda, a minha colega ao meu lado estava sorridente com os
olhares de alguns dos meninos. Ela me encarou erguendo as sobrancelhas duas vezes antes de
seguir na direção oposta da minha, quando finalmente encontrei a minha sala eu entrei pouco
atrasada, desejei nunca mais sentir preguiça de levantar da cama quando a madeira rangeu e
todos me encararam
Assenti escondendo os lábios e procurando um lugar para sentar, o professor me fez o favor de
continuar a sua aula. Me sentei ao lado de uma menina de cabelos pretos curtos na nuca, a
encarei com um sorriso simpático e notei a sua maquiagem e roupas em preto e branco por
completo. Antes que eu conseguisse dizer com quem ela se parecia, a mesma falou primeiro
-Você é a menina loira, não é?
-Não sei, você é a menina preto e branco?

A longo prazo. o fim do acordo Onde histórias criam vida. Descubra agora