CAPÍTULO VINTE E UM

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Algo estava brilhando, mas o que estava brilhando?
-Au..
Minha cabeça começou a latejar com aquilo no alto reluzindo, ouvi um choro, eu estava deitada
sobre o chão frio e úmido..
-Urgh!
Resmunguei franzido o cenho e virando a cabeça, o cheiro de terra começou a aumentar e
quando finalmente consegui abrir os olhos o que brilhava no alto de minha cabeça era uma
lâmpada. O choro estava vindo do meu lado direito, ergui minha cabeça encarando os fios
castanhos e o rosto angelical
-Quem.. quem está aí?
Ela me encarou com o olhar desesperado, suspirei regulando minha respiração. Riley pareceu
se arrastar enquanto controlava as suas lágrimas, ela parou ao meu lado sentada sobre as pernas,
de joelhos. Suas lágrimas começaram a pingar e uma delas caiu na minha boca me fazendo
desdobrar o rosto em uma careta
-Riley.. se afasta um pouquinho
-Desculpe..
Me sentei ao seu lado, um pouco cansada, o lugar era grande e a falta de luz além da lâmpada
me dizia ser subterrâneo. A água escorrendo no canto direito da parede de barro me fez pensar
em como deve estar chovendo do lado de fora
-O que aconteceu?
-Foram aquelas meninas, da delegacia
-Eu não vi nada, minha cabeça está doendo docinho
A encarei, ela fez o mesmo me dando a visão da testa escorrendo uma gota de sangue, minhas
mãos presas atrás das costas me impediram de tocar em seu rosto
-Elas.. elas usaram algum pano no seu rosto?
-Não.. por que?
-Nada
Me limitei a apenas pensar, elas haviam acertado sua cabeça com alguma coisa para desmaiar-
lá, e eu conheço minha amiga bem o suficiente para não colocar medo na mesma. Ela pensaria
estar com algum ferimento grave que a levaria a óbito, e desespero é o que menos precisamos no
momento, agora nós.. nós..
-NÓS VAMOS MORRER!
A encarei berrar em meio as lágrimas, cortando os meus pensamentos, questionando o seu grito
eu fiquei parada alguns segundos, tentando saber se ela estava mesmo fazendo um escândalo ou
se era apenas um delírio meu
-Maya a gente vai morrer!
-A gente não vai morrer Riley
-Vamos, vamos sim, elas odeiam você, elas odeiam a gente.. Nós, nós vamos morrer!
-NÓS NÃO VAMOS MORRER, PARA COM ISSO!
Gritei de volta, ela se encolheu chorando baixinho e me fazendo suspirar arrependida. Abaixei
minha cabeça antes de respirar fundo e apoiar na parede atrás de nós
-Me desculpe, nós vamos ficar bem docinho, precisa fazer o mesmo que eu está bem? -Ela me
encarou -Apenas respire fundo, olha para mim e faça o que eu fizer
Seu nariz estava quase colado ao meu, inspirei o ar pelo nariz e depois soltei calmamente pela
boca, ela fez o mesmo e a cada movimento meu ela repetia. Em um certo momento ela já havia
se acalmado, apoiou sua cabeça na minha e suspirou baixinho
-Nós vamos ficar bem, não vamos ?
Eu não estava muito certa disso, mas precisava dar a ela esperanças
-Não poderíamos perder o seu desfile, quando sairmos daqui vamos tirar as minhas medidas
-Eu já tirei.. -Abriu um sorriso -Você estava dormindo, e eu fui até o seu dormitório
-Isso é medonho Riley
-Você dorme como um anjo
-Own.. obrigada
-Maya.. eu preciso te contar uma coisa, caso.. caso a gente morra
-Nós não vamos mo..
-Eu sei, mas eu preciso
-Está bem, o que foi?
-Lucas e eu já.. nós fizemos aquilo nas férias, antes de entrarmos para a faculdade, eu não sabia
como contar a você por que estava com vergonha mas nós somos amigas e eu queria muito que
você soubesse -Ela estava falando disparada e o meu semblante confuso me paralisou, eu estava
congelada
Uma porta foi aberta e dos degraus de madeira desceram as duas malucas, nossos sorrisos
sumiram e eu ergui minha postura as encarado séria. A ruiva se manteve ao pé da escada,
recostada no corrimão enquanto sua amiga vinha com uma faca de caça nas mãos, ela esticou o
celular e na tela mostrava diversas mensagens de Josh e meus pais.
-A senha
Fiquei em silêncio, ergui meu olhar para a mesma e o seu semblante furioso me demonstrava
que ela não estava brincando
-Agora, ou ela vai se machucar
Riley voltou a chorar, mas eu não a encarei, continuei encarando a morena de pé. Ela puxou
minha amiga pelo cabelo que desmoronou totalmente, ela poderia estar blefando, ela tinha de
estar. Me surpreendendo ela começou a cortar a bochecha de Riley, o risco de sangue escorreu
me desesperando
-ESTÁ BEM! -Seu sorriso me atingiu e eu notei estar falando com uma lunática -Eu falo qual é a
senha do maldito telefone, mas nunca encoste nela outra vez
Sem me responder ela apenas empurrou minha amiga contra o chão, voltou a pegar o aparelho
e então segurar nas mãos esperando que eu dissesse
-A senha é.. -Hesitei... -A senha é "Sunshine"
-Ora.. ora -Voltou a sorrir -Parece que nunca mais vai ouvi-lo chamar você assim, é até fofo, mas
pensa no apelido que eu vou ganhar dele quando ficarmos juntos
-Você é louca! Por que acha que ele aceitaria ficar com você?! -Perguntei incrédula -Você me
sequestrou!
-Pensa assim.. -Falou calma, como se fossemos amigas de longa data -Eu não sequestrei você, eu
fui sequestrada com você, aliás! -Se levantou encarando a amiga e alternando o dedo entre as
duas -Nós fomos!
-O que?..
-Isso mesmo, mas.. quando nós tentamos fugir, vocês não conseguiram
-Isso não vai funcionar
-Não?
O telefone começou a chamar, e então eu notei que ela estava ligando para alguém, o nome da
Topanga estava na tela. Eu pensei em gritar, mas ela pôs a faca na garganta de Riley, me
impedindo de fazer qualquer coisa. Topanga estava demorando a atender, mas quando o fez a
garota se afastou levantando e mudando o seu semblante
-Por favor, me ajude!
"Maya? É você? Onde vocês estão?" [Topanga]
-Sou amiga da Maya e da Riley, nós fomos sequestradas, por favor nos ajude a casa está pegando
fogo!
"Onde vocês estão?! Sabe onde estão?!" [Topanga]
-Oh não! A casa vai desabar, elas ainda estão lá dentro! Cuidado! -A amiga gritou ao fundo e ela
desligou a chamada, as duas começaram a rir como se aquele show de horror tivesse alguma
graça. Não era mesmo possível isso estar acontecendo conosco, tudo por causa de um homem,
como isso está me matando... literalmente!
-Vocês são loucas! LOUCAS!
-Mas seremos loucas vivas, agora vocês..
-Loucas queimadas!
Elas voltaram a rir, se aproximaram e me admiraram por alguns segundos, como se quisessem
guardar os detalhes do meu rosto
-Quer brincar um pouco?
Perguntou para a ruiva
-O que você quer dizer?
-Você sabe, deixar ela um pouco diferente
-Quer dizer cortar ela?
-O que você quiser! Deixa de ser uma estúpida, perguntando as coisas o tempo inteiro, quer ficar
aqui com elas?!
-Não, me desculpe
-Vá lá para cima, eu vou subir já, começa a jogar a gasolina logo.. a mamãe da fofinha aqui vai
conseguir descobrir onde estamos em pouco tempo
A ruiva a obedeceu, subiu as escadas correndo e quando ela se aproximou eu chutei o seu rosto
com toda a minha força. Ela voltou com os lábios sangrando e cravou a faca em minha coxa,
soltei um grito antes de lhe acertar o nariz com a minha testa, caindo sobre a minha perna ela deu
a mim uma segunda oportunidade de chutar o seu rosto
Assim que meus pés acertaram seu maxilar, o rosto virou para o outro lado e o som do pescoço
quebrando me atingiu. Encarei minha amiga apavorada com a situação
-Fecha os olhos Riley -Ela estava tremendo -Fecha logo!
Riley me obedeceu ainda com as lágrimas rolando pelo rosto
-Agora me escuta, nós não temos muito tempo, vai fazer uma coisa.. sem olhar
-O.. o que?
-Precisa puxar a faca da minha perna
-Não.. Não Maya, eu.. eu não posso fazer isso
-Você precisa! Ou nós vamos morrer
-Você disse que não iríamos morrer
-Mas nós vamos se você não pegar a faca, então pega a droga da faca!
-Está.. está bem
Ainda soluçando e de olhos fechados ela se virou, me aproximei, sua mão cobriu o cabo da
faca o segurando com firmeza. A expliquei exatamente o que fazer, assim que a lâmina saiu um
gemido de dor me fugiu e acabei gritando bem em seu ouvido, a fazendo soltar a faca
-Me desculpe -Falei, me apoiei contra a parede e respirei fundo por alguns segundos, consegui
pegar a faca e cortar a corda das mãos de Riley -Está bem, corta as minhas
Assim que estava livre eu encarei minha perna que jorrava sangue, peguei a faca e me aproximei
do cadáver a minha frente
-Fecha os olhos Riley
Ela me obedeceu, cortei a camisa da menina e peguei a faixa amarrando em minha perna, eu
estava sem o meu sobretudo, apenas com meu vestido. Me levantei caminhando com calma até a
escada, ainda estava mancando
-Fiquei aqui, suba quando eu mandar.. está bem?
-Está bem.. -Subi um degrau e a mesma me parou, segurando em meu ombro -Maya! -A encarei
-Por favor, tome cuidado e..
-E?
-Acaba com a desgraçada
-Docinho? -Disse incrédula, mas ela ficou em silêncio, beijei seu rosto e me afastei -Eu vou
Um sorriso largo surgiu em seu rosto, ela se afastou recostando na parede de barro e esperando.
Assim que cheguei ao topo a porta estava trancada, e estava um pouco quente, comecei a bater
chamando atenção da ruiva
-Mariana?
Fiquei em silêncio, ela não abriria para mim
-Eu.. eu perdi, perdi a chave
Eu não acredito, ela é realmente estúpida, ouvi som de objetos sendo derrubados, e um grito
desesperado surgiu
-A não! socorro!
Franzi as sobrancelhas e de repente um líquido com cheiro forte de gasolina começou a jorrar
para debaixo da porta e descer pelas escadas. Em segundos o fogo começou a tomar conta, algo
bateu contra a porta e um cheiro forte de carne queimada me atingiu, por alguns segundos eu
quase vomitei
O corpo da ruiva estava caído contra a porta, a maçaneta estava queimando, não teríamos como
sair.. Eu precisava pensar
-Maya?
Perguntou minha amiga ao pé da escada, desci com pressa vendo o fogo passar por debaixo da
porta. Segurei em sua mão e a puxei para o meio do porão, meus olhos passeando por cada canto
daquele lugar
-O que vamos fazer?
-Eu.. eu preciso pensar, me deixa pensar eu..
-Maya!
A encarei
-Eu estou aqui com você, estamos juntas
-Me desculpa por isso Riley
-Está tudo bem, vamos conseguir juntas, e não deve pedir desculpas. Nós somos amigas
-Não deveria ser minha amiga
+Maya... -A encarei com as lágrimas rolando -Você é o meu relacionamento extraordinário, não
tem ninguém no mundo que poderia ser melhor que você
Seu beijo seguido de um abraço me acolheu, senti os fios castanhos tocarem os meus lábios e
enquanto a abraçava eu voltei a observar aquela água escorrendo pela parede de barro. A soltei
me aproximando e ajoelhando frente a ela, era uma área mais baixa, da minha altura
Toquei e encarei minhas mãos sujas com o barro, logo encarei a morena
-Está chovendo
-Mas a chuva não vai acabar com o fogo
-Não, mas ela vai amolecer o barro
-Podemos cavar
Assenti, ela se aproximou e começamos a perfurar o barro, com aquela faca eu comecei a
arrancar pedaços grandes, mais água começou a aparecer, nos molhando. A madeira estava
estalando acima de nós, queimando e pronta para desabar sobre nossas cabeças, enfiei minha
mão a empurrando dentre o barro e senti quando meus dedos encontraram o ar frio
Encarei minha amiga que me ajudou, enxergamos algumas árvores e puxamos mais, quando o
buraco estava grande o suficiente eu entrelacei minhas mãos ajudando Riley a passar. Logo a
mesma me puxou para fora e então a casa começou a desabar. Nós corremos em direção à
floresta, a madeira velha e já negra do mofo desabou por completo
Estávamos segurando nos braços uma da outra, a puxei para um abraço forte enquanto a chuva
nos encharcava cada vez mais. Não havia nada além de floresta, seguimos para os fundos e
haviam árvores para todos os lados, nossos lábios trêmulos e o corpo rígido contra o frio da
floresta
-A sua perna, está doendo muito ainda?
-Está um pouco, mas eu estou bem, não precisa ficar alarmada
Ela precisava na verdade, eu estou fraca, estou sentindo meu corpo ficar fraco mas ela não é a
melhor pessoa para encarar o fato de que eu posso simplesmente morrer no meio dessa mata. Me
mantive firme ao seu lado, o som de uma cachoeira chamou a minha atenção, nós fomos até lá e
a pouco menos de um quilômetro havia um ponto turístico
E para a nossa sorte estava pouco povoado
-Maya, olha!
Ela sorriu animada e começou a acenar pedindo socorro, meus olhos começaram a se fechar e
eu senti meu corpo enfraquecer
-Riley..
-O que.. o que foi?!
-Vai.. vai até eles
-Eu não vou deixá-la
-Se não for, eu posso morrer, não consigo andar.. vai.. vai até eles
Tudo se tornou um breu outra vez, meu corpo sobre a terra e as gotas gélidas caindo sobre mim.

CONTINUA 😚🤍

A longo prazo. o fim do acordo Onde histórias criam vida. Descubra agora