CAPÍTULO NOVE

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Os minutos haviam se tornado horas e minha tela continuou em branco, eu estava em estado
de choque, diversas cenas passavam pela minha cabeça e eu não tenho a menor ideia de como organizá-las às tornando em uma obra. E não uma obra qualquer, mas que mostre a todos, e a mim, tudo o que eu sinto pelo moreno sentado na cadeira pouco confortável. De segundo em segundo os seus olhos recaíam sobre mim, ele parou de sorrir depois de um tempo, talvez tenha notado o meu semblante frustrado. Por muito tempo eu não tive quaisquer problemas com inspiração, e sendo sincera eu nunca achei que ele pudesse ser um dique no meu
rio de sentimentos onde se dispõe a minha liberdade de expressão. O horário da aula chegou ao fim, e sem que percebesse minha professora parou de pé ao meu lado
-Em branco?
A encarei, eu não estava sem fôlego, a sensação de correr uma maratona mesmo estando parada não estava me atingindo.. e eu não gosto disso
-Qual o seu nome?
-Maya.. Maya Hart
-Bom senhorita Hart, eu entendo que talvez esteja um pouco nervosa -Um sorriso doce surgiu em seus lábios, me acalmando
-É bastante compreensível!
Falou fazendo algumas pessoas sorrirem, o encarei uma segunda vez, estava sério
-Essas pinturas serão expostas no ginásio, sábado -Voltou sua atenção à mim -Preciso que a termine essa semana, ele pode ajudá-la se quiser, ainda quero que Josh seja a inspiração para o sentimento de vocês. O trabalho consiste em diferentes pontos de vista de uma única pessoa, e preciso que seja ele, você consegue.. Assenti que sim, sem mais delongas eu peguei as minhas coisas com pressa e corri para fora de lá.
Ela não pode me obrigar a isso, não é?
Eu poderia muito bem entregar um de meus outros quadros, ela nunca saberia que não foram inspirados nele, enquanto apressava meus passos pelos corredores eu avistei meus três amigos andando lado a lado. Abri um sorriso seguido de um suspiro aliviado e me aproximei, os três rapazes pareciam conversar de algo interessante enquanto riam uns com os outros, dei um beijo
breve em Zay e cumprimentei os outros dois com um soquinho
-Como está sendo a primeira semana de vocês?
-Eu estou de boa na verdade
Ergui o dedo indicador na sua direção o fazendo sorrir junto a mim, sem que eu pudesse
começar a zombar do Lucas o moreno ao lado se desencostou do corrimão cruzando os braços.
Farkle sempre fora uma pessoa boa, mas ele não costuma medir as palavras quando está certo,
como quando expôs na frente de todos em plena virada de ano que Riley ainda estava apaixonada
pelo Lucas. Quando eu achava que também estava, e ela abriu mão do que sentia pela nossa
amizade
Às vezes eu me pego olhando em volta, para saber se ele está vendo minha interação com Josh e
toda vez que o vejo se pronunciar eu me pergunto silenciosamente tudo sobre eu e o tio da minha
amiga. Na tentativa de me preparar para qualquer pergunta que ele venha fazer, principalmente
na frente de Zay
-Riley nos disse que fomos convidados para uma festa na Sexta, onde?
-Na piscina da universidade, os veteranos vão fazer e convidaram a mim, disseram que eu
poderia levar alguns amigos então..
-Conhece algum veterano?
-Lembra quando eu e a Riley fugimos de casa às dez da noite para ir em uma festa na faculdade?
Negou com a cabeça, escondi os lábios assentindo que sim, na tentativa de manter o motivo em
segredo
-Bom.. foi nesse dia, mas isso não é importante! -Sorri me afastando de Zay -Eu tenho que ir,
minha segunda aula começa em dez minutos e eu não quero me atrasar
Eles se despediram com um sorriso, avistei Bianca no alto das escadas e aproveitei a deixa para
apressar os meus passos até a mesma. Assim que percebeu alguém segurar em seu braço ela
franziu as sobrancelhas negras como o carvão e me encarou mal, notando ser eu ela sorriu sem
mostrar os dentes e seguiu caminho pelo corredor
-Acha que vai fugir dele por quanto tempo?
-Do que está falando?
Perguntei sínica
-Não se faça de boba, você é loira mas não é burra
-Eu não sei, por quanto tempo eu aguentar talvez
-Você tem até sábado para entregar um quadro pronto, sabe quantas horas eu demorei para
acabar um quadro? Com certeza não foi em duas horas de aula...
-O que eu faço? Não consigo pintar, eu encaro a tela e vejo tantas coisas que é difícil focar em
uma só
-Ele é bonito, mas não sabia que era ao ponto de fazer o seu cérebro dar pani
Suspirei em derrota parando frente a porta e a encarando cansada
-Você vai dar um jeito, eu dei um jeito para você na verdade
-O que quer dizer com isso?
-Depois eu te conto
Falou me empurrando para dentro da sala de aula, e mais uma vez as horas se passaram como o vento em uma manhã de chuva, foi saboroso absorver todo aquele conhecimento que compunha
a base de tudo que consideramos ser arte. E muitas coisas que aparentemente são "banais" de
certa forma, podem se tornar uma inspiração, o início de um pensamento mais profundo e
abundante de conhecimento
É incrível como as pessoas podem ver as coisas de maneiras tão mais complexas e interessantes
que outras, o que muda completamente a maneira como o mundo é na realidade de cada ser
humano e isso me fascina!
O sol estava começando a se aproximar do horizonte quando caminhei pelo campus em direção
ao meu dormitório, estava ao lado de Bianca que insistiu veementemente que eu fosse ao seu
quarto. Riley não estava nele, procurei por meu celular que eu havia configurado no dia anterior
a este, mandei mensagem para a mesma e ela disse estar em meu dormitório ajudando Hanna
com a roupa de seu encontro esta noite. Me lembrei da menina arco-íris graças a sua mensagem,
sentada em sua cama eu estava esperando que Bianca saísse do banheiro
Alguém bateu na porta e os olhos de Josh recaíram sobre mim, franzi o cenho pouco confusa
-Oi..
Falou me fazendo piscar algumas vezes e lembrar da estátua que havia me tornado por alguns
segundos
-Oi.. A Riley não está aqui
-Eu não vim para ver a Riley
Sorriu sem mostrar os dentes, a porta do banheiro se abriu e Bianca apareceu secando os
cabelos com a toalha, seu pijama de panda me pegou de surpresa. Ela sorriu erguendo as
sobrancelhas
-Você chegou!
Me deixando ainda mais confusa ela largou a toalha sobre a cama e se aproximou o
cumprimentando
-Ele ficou preocupado por que você saiu correndo da sala como se fosse uma louca, mas enfim,
eu disse que tinha dado um jeito para você. Josh pediu o número do seu dormitório, mas eu não
sei, então trouxe você para cá
-Por que não me disse que ele queria falar comigo?
-Você não iria ficar aqui se eu dissesse, iria?
Fiquei em silêncio, me condenando mentalmente por deixar que eles imaginem a minha
resposta e com certeza estão pensando em um sonoro não.. por que é a verdade
-Quero te mostrar uma coisa, prometo devolver ela viva
-Tudo bem, desde que devolva ao quarto dela!
Falou o fazendo sorrir antes de segurar na minha mão e me levar para fora de lá, tentando
disfarçar o máximo que pude eu soltei a sua mão com delicadeza, ele não forçou nada e apenas
pôs as mãos para trás das costas ficando em silêncio. A nossa caminhada foi assim por alguns
minutos, mas por algum motivo eu não senti como se estivesse em uma bolha de
constrangimento, pelo contrário.. eu senti algum tipo de paz.

A longo prazo. o fim do acordo Onde histórias criam vida. Descubra agora