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Despertei antes do nascer do sol, atormentada por um pesadelo recorrente com Jack, e o calor também não ajudava muito. Decidi começar o dia com uma caminhada matinal, na esperança de que o ar fresco e o silêncio da manhã pudessem clarear um pouco a névoa em minha mente. Com o decorrer da semana os pesadelos estavam mais frequentes do que nunca. Mas, Chicago deu para ter uma onda de calor infernal que piorava a situação.

Voltei para casa, tomei um banho gelado. Peguei meu distintivo, minha arma e as chaves do carro. Passei em uma cafeteria e comprei algo para comer mesmo não conseguindo muito. Voltei para o carro e enquanto dirigia até o distrito, minha mente tinha vários flashbacks de sonhos sobre as operações da CIA que frequentemente envolviam Jack.

Estaciono meu carro e sigo até a unidade de inteligência, vejo todos quase derretendo pois o calor estava insuportável.

— Certo, oque temos? — Voight saiu da salinha onde costumam tomar café 

— Nathan Ward, vinte e quatro anos. Estudante de engenharia — Ruzek anuncia informações sobre o caso —  Sua noiva, Sarah Murphy, Também de vinte e quatro anos. Professora de educação especial de Northbrook. Eles não tem antecedentes, suspeitas ou prisões, nem mesmo uma multa.

— Temos um alerta de desaparecimento para Sarah — Jay comunicou — Kot conseguiu uma ordem judicial para o celular dela que o mouse está tentando localizar agora.

— E enquanto ao GPS do carro? — Voight perguntou

— Levará um tempo, o cara da criminologia reclamou por falta de pessoal, eu vou ficar em cima dele.

— Isso não foi roubo de carro,  — Atwater comentou e todos o encararam — Talvez só quisessem zoar, o carro estava há três quadras de 290. É a rua da heroína

— É, mas traficantes não roubam seus clientes, os suburbanos são o ganha-pao deles. — Antônio opinou enquanto escrevia em seu bloco de notas 

— E não encontramos droga nem "parafenálias" no carro. — Jay respondeu

— "Parafernália". Tem um R. Varias pessoas esquecem — Antônio o corrigiu e segurei o riso

— Tá bom, professor. Ta afim de resolver lá fora? — Jay o confrontou brincando e Antônio aceitou se levantando da mesa

— Se sentem! A quantidade de tiroteios que tivemos essa semana. — A comandante Crowley ordenou ao entrar na sala — Doze deles fatais, não vou nem me preocupar com o politicamente correto aqui, ou com as minhas convicções. O que temos é uma mulher branca desaparecida no coração do gueto negro. Vamos supor o pior, ela foi sequestrada — nesse momento o telefone de lindsay toca — O que precisarem fazer para achá-la, façam com muito cuidado. Chicago já tem problemas demais de relações públicas.

— É o doutor Choi, os pais de Sarah Murphy estão com o Nathan no Med — Erin mencionou enquanto conversava com o doutor

— Você e Jay — declarou Voight apontando para Erin — Ouviram a comandante, ao trabalho.

— Sargento, eu disse com muito cuidado. Tem gente demais de olho na polícia agora

— Não estou concorrendo a Prefeito. Se fosse uma garota negra sumida na zona norte, procederia da mesma forma que eu vou proceder agora — disse por fim e veio em minha direção e a comandante foi embora — Você tem um minuto? — ele perguntou com voz grave.

Concordei e fechei a porta, atendendo ao pedido dele.

— Sei que nessas últimas semanas você tem enfrentado muitas coisas. Sobre a Erin, seus pesadelos constantes... — Voight expressou sua preocupação comigo em um tom de voz calmo.

— Essa história outra vez? — Bufei, passando a mão nos cabelos nervosa. — Hank, eu já disse. Eu tô bem.

— Não, você não está bem. Desde que chegou em Chicago, não se expressa. Agora essa briga com a Erin... — Ele me interrompeu, sua voz carregada de preocupação.

— Agora vai dizer que é culpa minha? É claro, como sempre eu sou a culpada de tudo. 

— Eu não disse isso, mas você mudou. A CIA mudou você, você tem a personalidade do seu pai, isso é fato. Mas desde que foi embora, se tornou uma pessoa completamente diferente do que era. — Ele argumentou, mantendo a calma.

— As pessoas mudam, Hank. Já deveria saber disso. — Respondi, tentando justificar minhas transformações.

— E como eu sei. Me lembro de quando você recebeu essa proposta, de ser uma fuzileira, realizar seus sonhos. Saiu daqui uma menina doce e cheia de sonhos, o que fizeram com aquela menina? — Ele me questionou

— A profissão que eu escolhi não existe o mundinho cor-de-rosa.

— Acho que você deveria procurar a Hannah. Ela pode te ajudar a lidar com esses pesadelos. — Ele sugeriu, com uma expressão séria.

Balancei a cabeça, resistindo à ideia de pedir ajuda.

— Claro, eu vou chegar e dizer  Hannah, então  quando trabalhava na Cia, Eu perdi meu melhor amigo em uma operação, metade da equipe morreu naquele dia. Não posso me esquecer também da mulher que matei acidentalmente — Desabafei, sentindo a dor das lembranças antigas me sufocar.

— Liza.. — Tentou falar mas o impedi

— Eu não quero ajuda, eu não preciso de nada disso. Eu carreguei isso por anos, e nem a Hannah, nem você e  nem ninguém vai conseguir apagar isso da minha mente. Agora o que eu preciso é encontrar um novo apartamento. — Respondi, tentando minimizar meus problemas.

— Eu não estou te mandando embora da minha casa, porque ela também é sua. Eu só quero que você fique bem, eu me preocupo com você. Liza, às vezes é preciso ser humilde o suficiente para aceitar ajuda quando precisamos. — Voight disse com firmeza, seus olhos fixos nos meus.

— Eu não preciso de ajuda, e chega disso, por favor. Eu não vou falar com a Hannah, nem com o padre, nem com ninguém — Levantei-me da cadeira e fechei a porta, seguindo até a sala de café.

Despejei o líquido na xícara, mas parecia impossível engolir. Não sei como eu conseguia comer antes de vir. Fiquei ali em silêncio, mergulhada em meus pensamentos, até que Antônio se aproximou tentando puxar assunto.

— Está tudo bem? — Ele perguntou, com uma expressão preocupada.

Eu apenas respondi com um simples "Está" e saí da sala, deixando-o ali, sem muitas palavras.

𝐒𝐂𝐀𝐑𝐒 - Aɴᴛᴏ̂ɴɪᴏ DᴀᴡsᴏɴOnde histórias criam vida. Descubra agora