Dia quatro de Veroness do ano 159O mundo visto do castelo no topo da montanha era o inferno adentrando na terra dos vivos. Alguém havia esvaziado o submundo. E todos os demônios estavam ali.
O céu havia sido tingido na cor do sangue e possuía agora uma espécie de textura aveludada, como se carregado. Suas nuvens pálidas e quase imperceptíveis singravam por uma vastidão carmim. O sol e a lua compartilhavam seus postos no céu, um do lado do outro, ambos negros como se tivessem devorado o que devia ser a noite.
Os Guardiões tinham sentido seus Elos vibrarem como nunca, o pingente de prata com a insígnia da águia praticamente flutuava no ar, sacudindo e quase tentando fugir do pescoço. Isso geralmente acontecia quando monstros estavam vindo e pela intensidade...poderiam ser muitos.
Pelo castelo de Arwend, diversos dos membros da ordem corriam ao longo dos corredores. Tinham pressa e tinham medo também, quantos monstros poderiam estar vindo até ali? Que tipo de criaturas seriam? Eram um grupo especializado em caçar as mais vis bestas que se arrastavam pelo mundo, mas o que acontecia quando sua própria sede era atacada?
— Quantos são?
— Uma hoste. Mais do que mil.
— Aparentemente mais que cinco mil, na realidade.— O que pode estar acontecendo para um ataque de tanta magnitude?
" O fim do mundo", Begorn pensou. Estava apenas ouvindo o murmúrio nos corredores, estava carregado de medo e teorias.
— Dizem que é um demônio que acabou de nascer, ele veio e as criaturas começaram a atacar todos os lugares para comemorar sua vind...
— Não fique discutindo teorias, façam seu trabalho e se preparem para a guerra, seus paspalhos! — Begorn rugiu, assustando os novatos e fazendo eles pararem de conversa. Foram correndo para as guaritas, com medo do gigante barbudo e sua constituição de urso.
Era fácil estar assim, tão ranzinza e sem paciência. Não tomou partido nas discussões dos outros Guardiões sobre as notícias de uma diabólica besta despontando no leste do mundo, estava calado em seu posto nos observatórios das ameias. Ainda não tinha se sentido seguro para opinar, não se sentia ainda membro o suficiente de seu próprio povo.
Sendo sincero... não se sentia mais membro de nada.
— Begorn — Uma voz conhecida o chamara. Olhou para trás e o viu, caminhando entre as ameias dos muros cinzentos. Fringill não parecia ter envelhecido tanto. — Bom te ter de volta.
— As circunstâncias me impedem de responder suas saudações com bom humor, meu amigo — O imenso homem barbudo levou a sua mão do tamanho da pata de um urso até a do amigo de infância e apertou com firmeza. — Não parece ser um bom dia para estar de volta.
Fringill era um homem de estatura média, o que o tornava totalmente discrepante com o monstruoso guerreiro barbado que era Begorn. Os dois tinham sido criado juntos como irmãos, dois aprendizes da mesma classe de Guardiões, até que foram separados para seguir suas missões de formação em outras terras.
Cada um tinha lidado com sua estadia fora de casa de uma forma. Fringill tinha passado anos na Grã Ilha e se vestia como o povo de lá, armadura de placas reluzente e uma espada longa na bainha. E Begorn? Tinha voltado quebrado de Prometheia, onde tinha passado os últimos anos.
— Ter um guerreiro com experiência em batalhas será indispensável hoje, meu amigo — Os dois começaram a caminhar descendo as muralhas até a parte interna do castelo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Terror e Encanto - 𝐈
Fantastik(Terceira versão) Grimm não se sentia parte dos Guardiões, mas de onde mais faria parte? Era uma criança órfã sem ligação com aquele povo, mas nunca poderia imaginar outro destino. Criado no seio de Arwend, uma ilha nas águas geladas do Mar Int...