23: Limão e Azeitona

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Lúcio bebericou do cálice que descansava na sua mão esquerda, dando pequenos goles no líquido transparente

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Lúcio bebericou do cálice que descansava na sua mão esquerda, dando pequenos goles no líquido transparente. O copo translúcido deixava a impressão de estar bebendo vinho branco, mas eram apenas as gotas de limão que tinha espremido. Um ótimo disfarce para não beber álcool.

Ele não odiava bebidas alcoólicas, mas as evitava na maior parte do tempo. Tinha medo de tomar decisões erradas, o que parecia não ser uma preocupação de muitos ali presentes. Cada vez mais garrafas eram consumidas a cada hora, e as risadas ficavam mais altas gradualmente sem que percebessem a alteração das suas mentes.

Com os soldados de patrulha, a nobreza não temia ser atacada na capital por nenhum inimigo. Mal sabiam que o maior vilão poderia ser suas línguas soltas.

O jovem tinha se aproveitado disso, é claro. Havia conversado com várias personalidades; sempre com um sorriso no rosto e a voz amável. Tinha reunido informações que poderiam lher ser úteis assim que saísse da festa, ou, no futuro.

O Conde da província vizinha tinha traído sua esposa com a prima, e a mulher pediu divorcio. Os arrendatários estavam do lado da Condessa e ameaçavam parar seus trabalhos.

O filho do Visconde do sul estava preso por matar um homem, foi por isso que ninguém da família compareceu, envergonhados e com medo do escrutínio.

Cantarolou ao incluir uma azeitona dentro da água. Aquele era sua terceira dose de 'Martini" e já poderia começar a agir um pouco bêbado para os outros baixarem a guarda.

Enquanto estava de costas, concentrado na mesa de aperitivos, outra pessoa se aproximou, parando ao seu lado. Lúcio olhou de esguelha e viu cabelos ruivos; um tom entre loiro e vermelho.

"Alguém do Sul, com certeza". A maioria dos nativos tinham aquela cor de cabelo. Eles costumavam brincar que era porque estavam mais próximos do sol, já que o clima era árido e ensolarado na maior parte do ano. Era uma péssima área para morar, na sua opinião. Diferente do clima ameno da capital, passava sede e fome facilmente por conta da baixa altitude. A única vantagem era o oceano e as rotas marítimas.

— Vossa graça, o duque. — Fez uma reverência, se recuperando do choque de vê-lo tão de perto.

A última vez que tinha visto o homem foi quando este se aproximou de Fayr para prestar suas honras, ao fim do discurso. Tinha mantido a rainha no seu campo de visão todo o tempo que ela esteve presente, até que se recolheu para seu aposento quando ninguém parecia mais exigir sua presença.

O grande Duque do Sul acena com a mão, fazendo desfeita do gesto. Ele também carregava um copo com uma expressão séria no rosto cicatrizado. Um dos lados da sua cabeça estava coberto com o cabelo, provavelmente escondendo as queimaduras, enquanto o outro ostentava quatro tranças grossas presas para trás. Seus olhos eram os mais pretos que Lúcio já viu. Pareciam um vazio completo, tentando sugá-lo para dentro.

— Foi assim que fez? — O sujeito pega um dos limões em uma tigela e esmaga com sua mão sem luvas, sem piscar, fazendo o suco escorrer na taça. Depois, com uma delicadeza esquisita para suas mãos calejadas e grosseiras, derruba a azeitona dentro.

Erguendo uma sobrancelha ruiva, deixa a pergunta pairar no ar depois dos seus atos incriminatórios, deixando claro que havia prestado atenção no teatro que Lúcio tinha armado.

Em vez de se acovardar, Lúcio sente que não há más intenções por trás daquele gesto. Então, sorrindo de verdade, dá uma pequena colher para o outro misturar a bebida.

— Sim, é uma delícia. — Enfim, responde.

O Duque parece duvidoso. Em vez de aceitar o objeto sendo-lhe entregue, mexe o copo no ar e vira de uma só vez, fazendo um pouco do líquido deslizar pelo seu queixo e deixar o chão molhado.

— Nunca bebi Vodka desse jeito. — Comentou, casualmente virando o copo para que o restinho do limão que ficou no fundo caia.

Oh, ele não tinha percebido ainda que o mais novo bebia água. Isso deixou Lúcio ainda mais confortável.

— Fico feliz de ter apresentado algo novo à vossa graça.

Nisso, ele vira seu próprio copo de forma semelhante para não dar tempo do seu conteúdo ser investigado.

O guerreiro estava sozinho, pois não tinha família. Ele nunca tinha se casado e não tinha herdeiros, ninguém sabia o porquê. Sempre se mantinha sozinho em eventos, sem rumores de ter sido acompanhado a cama por nenhuma mulher, de nenhum tipo, e seu círculo de amigos era escasso.

Lúcio se lembrava que durante o reinado de Fayr, o Duque nunca tinha se rebelado. Ele mantinha uma posição neutra, mesmo com o poder do seu título em mãos.

Não a acolhia, mas também não repelia. Lembra-se que a mulher havia comentado sobre suas tentativas de alianças rechaçadas. O sujeito deixava claro que sua única missão era proteger o seu território, e isso, faria até a morte, mas não se envolveria na guerra com o Sul, nem mandaria suas tropas, apesar do número considerável.

Fayr sabia que precisava do guerreiro mantendo a guarda do outro lado, então nunca o acusou de insubordinação ou tentou forçá-lo, preferindo manter espiões por todo seu território para relatar qualquer suspeita.

Além disso, seu status como herói não permitia que a rainha fosse descuidada. Eles nunca tinham descoberto a fraqueza de Elion Guan, e Lúcio nunca tinha ficado cara a cara com aquela pessoa até agora.

"Seria maravilhoso se eu pudesse me aproximar dele, mas isso é apenas um sonho. Ainda não é hora de sonhar alto."

Descarta a ideia de usá-lo. Tinha objetivos muito mais realistas para assumir nos próximos meses, e uma amizade, ou chantagem, feita ao Grande Duque que nem mesmo sua esposa toda poderosa podia tocar? Era impossível.

— Irá participar da caçada, vossa graça? — Decidiu questionar, não vendo perigo naquela pergunta.

Era esperado que todos os cavaleiros respeitados competissem por aquela chance, incluindo as mulheres espadachins entre os aristocratas. A competição seria acirrada.

Mas se o Duque do Sul fizesse parte desse grupo... As chances de Lúcio diminuiriam demais. Tinha que se preparar para esse transtorno, pois sabia não ser páreo para a força do homem, nem mesmo em seu auge.

— Não, não tenho interesse. — Diz com um dar de ombros e o seu brinco de perolas vermelhas balança com o movimento. O ruivo retira um cantil de dentro do casaco de pele e enche seu copo novamente. É claro que não iria beber nada que lhe era servido por outros — Mas você parece interessado, jovem.

Suas órbitas negras queimam a pele do mais novo ao ter toda sua atenção dedicada.

— Por suposto, seria uma oportunidade única para um ninguém como eu.

Suspirou aliviado, mas não deixaria de se preparar. Elion podia mudar de ideia, mesmo que nunca tivesse demonstrado interesse na corte ou tivesse participado da competição na vida passada. "Esse cara é imprevisível" pensa "Estar aqui falando comigo demonstra isso"

— Parece preocupado demais em ficar bêbado para um ninguém, como afirma ser.

Nem a MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora