108: Acabando um Ciclo

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LÚCIO SE JOGOU no chão e, se não fosse a cadeira virada de cabeça para baixo às suas costas, teria sido esmagado, mas a mesa atingiu o outro móvel e ficou suspensa, com um vão onde ele poderia escapar sem ser ferido

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LÚCIO SE JOGOU no chão e, se não fosse a cadeira virada de cabeça para baixo às suas costas, teria sido esmagado, mas a mesa atingiu o outro móvel e ficou suspensa, com um vão onde ele poderia escapar sem ser ferido.

Lesly catou, chutando, e Lúcio se ergueu com um pulo, sem se importar com suas roupas e sujas pela poeira do chão onde havia rolado.

— Não vai ter sorte da próxima vez. — Sibilou, vindo em sua direção com um ímpeto de fogo, mas o pombo e dois brutamontes pularam da abertura da gaiola e o cadeado fez um "click" ao ser aberto. Fim do primeiro round.

Indo para o canto, Lúcio foi acolhido pela pessoa responsável por ajudar os lutadores durante as pausas. Então, ele derrubou uma garrafa de água no rosto e fez uma careta.

— Isso tá quente! — Perdeu a vontade de beber, mas engoliu cada gota mesmo assim, repondo tudo que havia perdido suando.

A mulher do seu lado riu, passando uma nova garrafa enquanto piscava os olhos verdes atrás de uma meia máscara de pombo branco, porque todos os funcionários usavam aquele pássaro como padrão da casa.

— Não é água quente, amor, é o seu corpo. — Ela respondeu brincalhona.

— Tanto faz. — Lúcio ergueu a cabeça soltando o ar em lufadas enquanto seu corpo esfriava. Estendendo as mãos, ele puxou a camisa para fora do corpo, entregando-a à mulher ao lado. — Por favor, guarde isso.

— Com prazer. — A ajudante sorriu e seu batom preto se estendeu nos lábios de forma provocadora. Na sua mente, o gesto tinha motivos ocultos, mas Lúcio estava alheio àquele mal entendido.

O administrador estava no palco, levantando a escala das apostas. Àquela altura, as pessoas tinham seus favoritos e estavam dispostos a gastar uma fortuna neles, tudo pelo prazer de uma vitória.

A perna de uma das cadeiras havia se quebrado, e um dos funcionários entrou, colocando um novo exemplar no lugar, ajeitando a casa como se fosse nova. Era tudo uma mentira; uma fantasia construída com delicadeza. E os dois combatentes eram os personagens principais dessa história.

Um homem entre os espectadores chamou a atenção de Lúcio. Ele usava um terno cinza escuro e uma bengala, e seu chapéu de cartola combinava com a sua máscara de rosto inteiro, sem o buraco dos olhos. Ele provavelmente usava uma tela falsa, permitindo a visão, mas aquilo não deixava a sua aparência menos assustadora.

O sujeito acenou com discrição, e Lúcio inclinou a cabeça, reconhecendo-o. Bem, não estava sozinho ali. Tinha uma plateia única, presente especialmente para vê-lo.

"Não estou sozinho." Pensou com graça, afinal, aquela era a última pessoa que gostaria de ver ou buscar algum tipo de conforto.

Eles voltam ao ringue, e o pombo se eleva, grasnando o início de uma nova rodada. Seu plano era finalizar o embate logo, durante aquela rodada, porém, o seu adversário pensava a mesma coisa.

Lesly atacou com um soco e Lúcio desviou para o lado, enterrando um cruzado em resposta. Nenhum dos dois conseguiu acertar, mas o Conde mudou seu estilo de luta e chutou, acertando-lhe na panturrilha.

O garoto ergueu os braços, se defendendo de uma série de golpes no seu rosto e peito, mas Adson se jogou na sua direção, e passou a mão por trás da sua cabeça, puxando-o pelos cabelos ao colocar o pé atrás do seu para fazê-lo tropeçar em si mesmo.

Lúcio desferiu um soco no queixo do Conde, mas ele não largou e enfiou sua testa direto na mesa recém colocada. Todavia, o garoto rolou, protegendo a cabeça com os braços.

— Levante-se. Prefiro matar um homem de pé, assim posso humilhá-lo. — Com arrogância, Lesly cuspiu e se afastou, andando à sua volta.

Havia sangue no seu rosto, mas Lúcio não limpou. Em vez disso, se ergueu, ficando de joelhos. Alguns na multidão gritavam seu título, "Fantasma, Fantasma...!". Eles não queriam vê-lo caído, queriam mais ação, mais sacrifício!

Ignorando o clamor, Lúcio caiu de volta, parecendo sem forças e quando o Conde veio na sua direção rindo para chutá-lo, o garoto se apoiou nas mãos e girou as pernas, dando uma rasteira que fez o homem cair de bunda.

Logo, ainda usando as mãos como apoio, ele então ergueu as pernas no alto e desceu com força na barriga do Conde, enterrando os dois pés juntos. Depois, levantou-se, olhando-o de cima com um meio sorriso cínico.

— Faço das suas palavras as minhas.

O Leão Vermelho rosnou como uma besta selvagem e se jogou, arremessando-o na grade. Portanto, Lúcio atingiu suas costas com o cotovelo várias vezes, tentando encontrar uma abertura para segurá-lo pelo pescoço.

Enfurecido pela dor, Adson Lesly pressionou suas costas contra as barras de ferro enquanto tentava erguer o corpo, rasgando a pele em contato com o metal. Lúcio aproveitou a brecha, levantou o joelho com força e acertou o estômago do velho, forçando-o a soltar sua cintura.

Lúcio ergueu sua mão em formato de garra e segurou a traqueia do outro, apertando com os dedos o local ferido, fazendo-o sentir uma dor excruciante ao ser enforcado. Sua veia estava inchada e os vasos dilatados, e a pressão fez sua visão explodir com estrelinhas.

Lesly segurou seu braço com as duas mãos e seu aperto deixou manchas vermelhas que ficariam roxas em breve. Entretanto, Lúcio não soltou, empurrando-o com um grito mudo até ter revertido os papeis e o Conde estar grudado nos limites da gaiola, em agonia.

Em um último esforço, o maior chutou-lhe entre as pernas e Lúcio foi forçado a recuar, caindo no chão por conta da náusea. A dor se espalhou até o seu abdômen e ele tentou apertar a barriga, mas estava muito tonto para processar seus pensamentos.

Um "Ohh..." afetado se espalhou entre os telespectadores, uma mistura de pena e engasgos dos homens presentes. Até mesmo em uma luta "Vale tudo" havia certas regras não ditas, afinal.

Lúcio esperou outro ataque, e tentou proteger a cabeça enquanto sentia seu corpo parar de tremer, mas Lesly não veio. Lesly caiu, engasgando, tentando engolir o que não entrava nos seus pulmões de jeito algum.

Alguns gritaram "Finaliza! Acaba!", indicando que Lúcio, a pessoa em melhor condição dado as circunstâncias, deveria se erguer e dar um fim na luta, incapacitando Lesly para sempre.

Em resposta, o garoto se agarrou aos pés da cadeira e a usou como apoio, sentindo seu rosto queimar em chamas pelo calor da sua cabeça contida pela máscara.

Só queria acabar com tudo aquilo e ir para casa. Dar um basta naquela violência, porque sempre tentou fugir dela.

Uma nova vida deveria significar novas escolhas, mas por que sempre acabava errando naquela? Bem, péssima hora para se arrepender das suas ações ou dos seus problemas, mas a mente sempre vagava quando o corpo estava cansado.

Endurecendo a expressão, seus cabelos brancos eram uma extensão do lobo desenhado no lugar do seu rosto. Os corvos o cercavam e os pombos piavam, mas o predador não queria caçar o jantar, nem estava mais faminto pela presa.

Eles pediram mais, mais, mais...! Uma bagunça de sons agudos. Então, Lúcio fez a escolha mais sábia. Olhou o homem nos olhos, e encerrou seu sofrimento.

Nem a MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora