Capítulo 1: January

16 3 2
                                    


— Você tem que achar eles sem olhar, só com o nariz. — Armek disse enquanto terminava de amarrar o pano sobre meus olhos. — Se for mais rápida que Graax e Dakoria você já se livra de limpar as coisas depois.

Mexi desconfortável, éramos 7 filhos de um dos principais clãs dracônicos. Todos eles eram meus primos, Armek e Dakoria Otah eram filhos da irmã mais nova de minha mãe. Brevarr e Graax Kriv eram gêmeos filhos do irmão mais velho de meu pai. Patrin e Cariel Urogar, apesar do mesmo sobrenome, eram primos entre si, filhos de dois irmãos mais novos de minha mãe que acabaram se casando com duas irmãs da casa Urogar, anexando aquela nova casa ao nosso clã. E eu, Malika Otah, filha da família principal, única herdeira da cabeça do clã, a matriarca Tra'aura. Todos eles eram alguns anos mais velhos que eu e, naquela época, mesmo 5 anos de diferença (a distância entre meu nascimento e o de Graax) já era muito no que dizia respeito à formação anatômica, apesar de todos estarmos no mesmo padrão infantil para nosso povo. Uma confusão tão grande que a cabeça de uma criança não conseguia compreender. Então os aceitava quase como irmãos.

— Você vai conseguir. — Ouvi a tímida e alegre voz de Graax. Ele sempre torcia por mim mesmo em situações, como a que nos encontrávamos, onde ele se daria mal se eu ganhasse.

A tarefa era fácil, estávamos perto da praia, ao pé de um dos morros de pedra ao redor da cidade. Deveríamos encontrar e capturar um turnimão usando nosso último treinamento. Turnimãos são pequenos seres que lembram bolinhas peludas, mas seu pelo é de areia colorida, extremamente fina, que se solta deles no final do verão. Essa areia é importante para limpar e lustrar as escamas de dragões e draconatos, além de serem adoráveis criaturas com olhos redondos e expressivos, com pequenas bocas como as de um gato.

São fáceis de encontrar, afinal, não é trabalhoso ver um mini furacão de areia colorida do tamanho de um cachorrinho filhote correndo por aí. Isso ainda piorava um pouco as coisas, eles são velozes como o vento e espertos, além de amarem brincar, então capturá-los é uma tarefa ágil mesmo podendo vê-los, não satisfeitos com o objetivo, então, decidimos nos vendar, isso eleva a tarefa a um nível quase impossível.

— Quanto tempo mesmo? — O nervosismo já me pegava, era difícil ser cobrada da forma como eu era antigamente tendo apenas 10 anos. Para um draconata eu era um bebê praticamente recém nascido, mesmo assim minha posição fazia com que todos me observassem constantemente e, mesmo que eu não entendesse na época, eu sentia que precisava tomar cuidado com tudo.

— Precisa pegar a maior quantidade que conseguir dentro de 5 minutos. — Dakoria respondeu da minha direita. — o mínimo que você precisa é pegar 4 e você já passa o Graax.

Não senti necessidade de responder. O sol já começava a descer no céu e logo os turnimãos iriam se esconder em suas tocas. Balancei a poeira da roupa enquanto levantava, sentindo o tecido macio e fresco das calças bufantes com muito mais intensidade. O meio do verão era uma época mais quente do que as roupas deixavam aguentar, mas o calor nunca faria mal a um Otah.

Concentrei minha respiração, me lembrando das lições com mamãe e papai. Inspirar como um dragão era sentir a textura pela memória do vento. Tudo tem um cheiro e todo cheiro tem um código, farejar era como ler a brisa. Eu só precisava ler onde tinha areia... no deserto.

Ouvi Armek girar a ampulheta e senti um arrepio ao perceber que tinha começado. Andei meio sem rumo, ainda tentando me lembrar de onde as coisas estavam quando eu vi, mas aquilo não funcionou, bastou dar 3 passos adiante e eu já tropeçava em uma pedra. Ouvi meus primos respirarem em um misto de preocupação e vontade de rir, mas eu queria conseguir, eu já sentia que podia andar com eles, então teria que fazer o que eles faziam.

Império de YggdrasilOnde histórias criam vida. Descubra agora