Capítulo 3: A Arte da Amizade

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     Ignorei os dois guardas que me reverenciavam enquanto eu caminhava em direção ao salão. Ainda faltava meia hora para o início do evento, não havia sequer uma alma viva, que não fossem servos. Meus passos ecoaram pelo espaço enquanto seguia a passos firmes sobre o chão polido refletindo como vidro em direção a uma serva que me ignorava completamente. Era a única que tinha essa coragem, ou eu diria que era a única naquele espaço que tinha esse direito.

     — Boa tarde, Minerva. Tem o que eu pedi? — Dei-lhe um sorriso genuíno enquanto esperava sua resposta.

     Minerva era uma elfa drow, a pele escura como a noite fazia com que os cabelos cor de cobre fossem chamativos mesmo estando tão apagados. Essa era, de longe, a coisa mais intrigante na moça: mesmo sendo perceptível o quanto negligenciava a si mesma, Minerva era bela. Talvez um dia se tornasse deslumbrante, se tivesse uma vida melhor.

     Olhos cinzas me fitaram e um pouco de brilho iluminou a figura sem emoção de instantes antes.

     — Quase não reconheci, não costuma dirigir-se a mim quando está...desta forma. — Peguei em sua mão delicadamente. Minerva era uma das poucas pessoas no mundo que eu depositava minha confiança cegamente — Sim, eu a coloquei na mesma sala de sempre.

     — Perfeito. Agradeço novamente, você não sabe como tem me ajudado.

     — Talvez seja melhor passar no quarto de Vossa Majestade, a Imperatriz. Ela não me parecia bem hoje pela manhã e passou o resto do tempo em seu quarto.

     — Ela tem ficado cada dia mais solitária e ansiosa — Olhei ao redor, para nada em específico.

     — Não acha que ela talvez ficasse ainda melhor se soubesse...quem você é? — Virei o rosto para Minerva tão rápido que ouvi meu pescoço estalar. — Ela já provou ser uma pessoa direita e te considera tanto quanto eu e Baurogh o consideramos.

     — Não, Minerva.

     — Por favor! — Ela me puxou para trás de uma pilastra no momento em que alguns nobres começaram a descer pelas escadas — Eu a observo para você, mas também porque passei a me preocupar com a garota. É uma humana! Uma humana em meio a nobreza imperial! Veio das castas mais baixas e, por mais que o Imperador a ame, e eu sei que ama, qualquer um vê isso, os nobres a odeiam. Ela não viverá mais do que seus 80 anos, mas ainda tem uma vida pela frente e está completamente sozinha. Sozinha como eu estava. Sozinha como você esteve por todos aqueles anos!

     A olhei no fundo dos olhos. Não iria mentir dizendo que nunca pensara na possibilidade, que nunca tinha tentado. Contudo, o senso de sobrevivência era mais forte do que eu e, naquele momento, meu orgulho era maior do que a vontade de ser sincero.

     — Não seria benéfico a ninguém isso. Só colocaria a mim, a vocês e a ela em perigo desnecessariamente.

     — Ela precisa de apoio e amigos! — Sim, precisava— E ela precisa de pessoas que sejam sinceras com ela. — A mais pura verdade. — E ela só tem a você como referência. — Por que Minerva sempre estava certa?

     — Se eu disser que vou pensar, você ficaria feliz? — Disse, por fim, com um longo suspiro.

     — Sim. — Ela respondeu olhando para a entrada por onde mais um grupo de nobres descia, já devia ser o quarto grupo. — Melhor você ir, vai ficar muito tarde se demorar aqui, ela precisa de apoio antes de aparecer em público.

     — Algo que concordamos. Lembre-se de ficar atenta à janela, talvez precise me comunicar. — Ela acenou com a cabeça fazendo que uma mexa do cabelo rebelde caísse do coque. A ajudei a refazê-lo rapidamente enquanto Minerva colocava a máscara da festa no rosto.

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