Capítulo 8: Fechadura Confiável (não revisado)

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Minha cabeça mal se mantinha em pé. Apesar de tudo, eu devia agradecimentos à forma espetacular como a moça Otah nos guiava, ainda que os créditos do raciocínio rápido fosse de Dumon. Os dois claramente se odiavam, mas de alguma forma pareciam completar o pensamento um do outro, como se tivessem treinado o que o outro deixou de treinar. A Otah nos fez manter um ritmo impecável e constante, sua percepção anormal nos tirava do perigo iminente e seu treinamento nos fez passar despercebidos pelo restante do caminho até ali.

Eu nunca tinha realmente entrado no nível 5. O cheiro era péssimo, como se as pessoas evitassem um bom banho. O chão era coberto com uma fina camada de areia que irritava os olhos, as narinas, e era traiçoeira o suficiente para quase nos fazer cair. Poucas vezes eu passara por ali para sair de Kuarczaard.

Ao sairmos da escadaria no nível 3, o amontoado de casas e as pessoas que não entendiam direito o que estava acontecendo nos ajudou a passar despercebidos. Assim como a entrar em um beco onde Dumon se transformou em uma velha especialmente comum e estranha e se envolveu com a capa. Uma visão que eu terei dificuldade de esquecer - ou talvez superar seja a palavra correta - durante muito tempo. Depois de quase 20 minutos descendo escadas e andando brevemente pelas ruas, chegamos até um casebre pobre e comum. A entrada parecia cuidada e velha, como todas ao redor, ficava próxima a um dos pilares externos da cidade em uma área mais ao leste, o que indicava que o sol que batia ali deveria ser o da manhã. Dentro daquele nível, aquela era uma região privilegiada.

Dumon continuava na forma daquela senhorinha estranha e corcunda, o nariz tão comprido que despontava para além do capuz. Não sei como eu conseguia ter vontade de rir estando tão tonto, ou talvez a tontura me fizesse ficar bobo. Dumon seguiu descontraído para a porta e destrancou, não uma, nem duas, mas cinco fechaduras com chaves e fórmulas mágicas - FÓRMULAS MÁGICAS - diferentes. Até onde eu sabia, o nível 5 não era tão violento assim, sabíamos das complicações do nível 7, mas do 6 em diante a cidade era segura. Pelo menos não recebíamos muitas denúncias. Quis me dar um tapa na cara. Óbvio que as denúncias tinham que chegar até nós para que fosse colocado na estatística. Talvez perguntasse a Dumon como eram as coisas e levasse o relato ao meu irmão...

Pensar no meu irmão me deixou automaticamente ansioso e pesaroso. Será que ele também tinha sido atacado? Ele provavelmente estava a salvo visto a quantidade de guardas seguindo ordens sem questionamentos. Um estranhamento antigo cutucou minha mente e eu o afastei. O importante era cuidar de mim e de Liene, precisaríamos melhorar o quanto antes.

Eu ainda me apoiava segurando Malika no ombro quando entramos e Dumon trancou a porta atrás de nós, assim como acionava trancas nas janelas. Sufocados sim, desprotegidos nunca. Não julguei. O cômodo era simples, o papel de parede era limpo e aconchegante, dando uma sensação gostosa de casa de vó à sala, as duas poltronas velhas de tons diferentes de verde indicavam algum bom gosto, nenhum luxo, a mesinha de centro parecia frágil. Um disfarce perfeito. Uma escada estreita e torta à esquerda levava ao segundo andar, uma porta ao fundo parecia levar à uma cozinha pequena, uma à esquerda estava fechada e era isso. Simples, pequeno, sem um traço do luxo habitual que emoldurava a figura de Dumon, o qual se mantinha como a velha mesmo ali.

- Bom, estamos seguros aqui. - Ele começou a andar devagar em direção às escadas. - Precisamos ver se... nossa amiga humana precisa de alguma ajuda médica. E você com certeza precisa.

Dumon apontou a mão enrugada e ossuda para mim, observei como o cansaço começava a consumir sua fisionomia, mas ele continuava como uma velha que provavelmente traria mais dor do que benefício. Não tive forças para questionar enquanto me apoiava cada vez mais em Malika. Esta, por sua vez, parecia não ter qualquer dificuldade em carregar Liene em um braço, me apoiar em seu outro ombro e ainda manejar objetos para fora do caminho com a mão livre.

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