Capítulo 4: Atuar e Conquistar

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     Bebi um pouco do álcool que peguei de uma bandeja. Precisava de coragem e de paciência. Muita paciência. Continuava me esgueirando de sombra em sombra, tentando me manter imperceptível, pelo menos ninguém me importunou. "Ninguém teria coragem! Você parece que vai assassinar o primeiro que aparecer. O coitado do servo ficou tão parado que parecia mais uma estátua do que eu."

     Revirei os olhos. Só tinha um jeito então. Ao lado da porta que eu deveria ter entrado, existia um corredor mais bem vigiado, eu não entraria sem ser vista, mas precisava tentar. Tomei o restante da taça de uma vez, enfiei ela na primeira bandeja que vi passar e rumei para a porta. Seria demais pedir por um momento de paz?

     Assim que ultrapassei o portal me deparei com quatro guardas. Todos me olharam imediatamente, um deles parecia mais velho e mais experiente, se adiantou para mim como quem lida com um lixo indesejável.

     — A senhorita não pode passar. Os nobres estão restritos apenas à ala sul. — Apesar do olhar, sua voz era controlada, quase educada. Entretanto, eu conseguia sentir o cheiro da repulsa. O que um kemono que odeia nobres estava fazendo trabalhando para a família real?

     — Sei bem disso, senhor. Entretanto, minha família confiou em mim para fazer negócios com uma pessoa da família real, ele disse que estaria na festa e ainda não apareceu.

     — Isso não é nosso problema, senhorita. — Agora nem mesmo a educação veio. Ele se virou indicando para que me conduzissem de volta ao salão. No desespero, fiz a primeira coisa que me veio à cabeça. Chorei.

     — Por... Favor... É a minha... primeira vez fazendo... uma negociação... Eu não quero desonrar minha família... Meus pais estão contando comigo... Por favor — No instante em que abaixei a cabeça para continuar chorando eu percebi o quão ridícula era aquela situação, mas quando olhei ao redor, os outros três guardas estavam virados para o mais velho.

     — Dain, eu acho que podemos confiar nela. — O rosto longo do guarda mais velho se virou bruscamente, a face lupina mais animalesca do que humana. Mesmo assim, o guarda próximo a mim continuou. — Ela disse que estariam esperando por ela, não teria problema se pedíssemos informações enquanto ela espera.

     — Você não está aqui para questionar ou dar suas ideias. Eu mandei tirar ela daqui. Você. Tira.

     Senti Boran sair das minhas costas e mal prestei atenção na discussão enquanto esperava para ver o que ele faria. Não precisei esperar muito, de repente, como se o teto tivesse caído na cabeça de Dain, ele desmontou no chão, a cabeça sangrando e visivelmente amassada. No meio da loucura que se seguiu, eu apenas entrei rápido pelo corredor sem que eles percebessem. Ouvi Boran abrindo a porta lá no fundo e me virei a tempo de ver os 3 guardas olhando na direção. "Assim eles vão achar que você saiu pela porta. Eu te alcanço daqui a pouco."

      Corri todo o corredor até uma bifurcação. A parede oposta era intercalada de vidraças que mostravam o início da noite. Peguei a direita enquanto ouvia passos atrás de mim e entrei diretamente em uma sala que sabia ser uma sala de convivência e música. Era ampla e dava acesso à sala do lado que deveria ser outra sala de convivência. Não havia muito o que encontrar ali, as poltronas azuis aveludadas bordadas com fios de ouro combinavam com as cortinas finas e delicadas que cobriam as paredes, as mesas de mogno e os tapetes que cobriam o chão eram hipnotizantes. Instrumentos se espalhavam pela extremidade esquerda da sala e eram dispostos quase que casualmente demais.

     Percorri toda a extensão e testei a porta adiante que, para minha felicidade, estava aberta. Esta sala indicava os resquícios de seu uso recente. Quase idêntica à anterior, salva a falta de instrumentos, três copos de whisky sujos estavam dispostos em mesinhas próximas, as poltronas ainda estavam quentes e, diante de uma, caído no chão, um pedaço pequeno de papel chamou minha atenção. A escrita era de um acadêmico, pela forma rápida e embolada, pelo cheiro era algum alquímico, dentro, em linguagem élfica antiga, dos altos-elfos, estava escrito:

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