Capítulo 7: Do Céu à Cova - Um guia de como matar sua reputação

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     Estávamos esperando há cerca de 20 minutos quando Dumon surgiu com outras duas figuras. Encontrar Lu não foi difícil, apesar de ter sido um milagre ter-lhe chamado a atenção sem provocar um tumulto. Deixar Liene escondida entre alguns caixotes, ir até o meio da muvuca, sussurrar o nome de Dumon em seu ouvido, todas foram tarefas fáceis. O que foi difícil foi convencer uma multidão de servos trabalhadores a seguir sem a governanta.

     Depois disso, foi um longo trajeto por dentro dos corredores, então na ala dos servos e, enfim, paramos ao lado de uma porta pequena e carcomida, suja de lodo, que dava para a área externa do palácio.

     — Por aqui vocês terão acesso à área oeste do palácio, assim que passarem pelo pequeno jardim, é só seguir o caminho de pedra até uma abertura menor entre os coqueiros e palmeiras. — Ela apontou para o caminho estreito quase invisível no escuro. Então mostrou os guardas. — Vocês vão precisar passar por eles, por sorte Onru está de guarda por aqui, podemos pedir ajuda. A abertura é um caminho longo e estreito que segue uma das colunas do nível abaixo, é uma longa escadaria. Depois dela vocês terão que encontrar outra passagem se quiserem descer mais abaixo nos níveis de Kuarczaard.

     — Certo. Muito obrigada, senhora Lu. — Eu estava realmente aliviada. Minha missão só se cumpriria se eu conseguisse sair dali, mas agora eu já não sabia se seria somente isso. Talvez eu tenha me enfiado em mais problemas do que poderia comprar.

     Olhei Lu, aquela figura baixinha. Era uma mulher gorda, de bochechas muito avermelhadas, as orelhas pequenas e mais arredondadas indicavam sua linhagem, uma semi-elfa. Tinha os cabelos de um castanho opaco, liso e cheio, amarrado em um coque apertadíssimo, os olhos de um castanho escuro e a pele de um marrom claro. Manchas pela pele indicavam uma velhice, talvez estivesse na casa dos 300 ou 400 anos já que os semi-elfos viviam menos que os elfos. Eu, como uma draconata, não precisava me preocupar com tempo de vida, a maioria de nós vivia até que algo como uma doença ou uma guerra nos levasse, tirando isso, apenas na renúncia poderíamos envelhecer e morrer.

     A renúncia era um ritual respeitoso de nosso povo, quando o draconato sentia que já não pertencia mais ao plano carnal poderia devolver o dom do tempo aos deuses, então podemos passar por cerca de mais um século enquanto nosso corpo envelhece até que, enfim, possamos nos guiar para o outro mundo. Uma escolha. Nossa morte era uma escolha nossa, uma dádiva dos deuses. Por isso, era sempre estranho ver alguém cuja morte é tão incerta quanto a vida. Lu deveria ter pouco mais que o dobro do meu tempo de vida, eu ainda era considerada extremamente jovem para o meu povo e, mesmo assim, Lu estava velha. Tão pequena, efêmera, preciosa. Essa era a vida dos seres ao meu redor. Com tão pouco tempo, era angustiante ver como não podiam VIVER.

     Lu fez um movimento com a mão livre chamando alguém. Sai da frente da porta enquanto um kemono entrava desconfiado. Era uma raposa, o homem entrou, o cabelo laranja berrante, as orelhas alertas, ele era menos zoomorfizado, o que o colocava em um ranking mais alto entre os kemonos. Dizem que há milênios atrás, antes de os humanos se desenvolverem como o que são hoje, elfos haviam pedido aos deuses poderes como os de animais que os ajudassem a viver melhor. Mesmo assim, os elfos da época abusaram do dom e não renunciaram o poder como o acordo exigia. Assim, os poderes foram passados de pai para filho. Entretanto, não eram quaisquer pessoas que poderiam ter tamanho poder, o poder de se transformar em animais, o poder de controlar o instinto de criaturas tão primitivas.

     Assim, os kemonos nasceram, filhos dos elfos que desacataram os deuses, eles vivem com o instinto e o poder de algum animal enraizado em si, quando mais animalesca sua forma, menor o controle sobre o poder ancestral. Poucos eram os que tinham características mais élficas, menos ainda os que podiam controlar a transformação livremente, como os primeiros faziam, escolhendo entre a forma animal ou a forma élfica.

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