Mulheres Peladas

51 2 8
                                    

— Não quero vestir esse casaco de menina! — Gritou Oliver, batendo os pés forte no chão.

— Gênero é uma construção social, Oliver. — Bambina respondeu em um tom suave, enquanto vestia a roupa no filho, mas por mais que tentasse não conseguia fazer o zíper se fechar com ele se mexendo daquela maneira — Não existe isso de coisa de menino e coisa de menina.

— Que viadagem!

É um pouquinho de viadagem mesmo, pensou a mulher prestes a se levantar do chão para pegar outro casaco. Porém, antes que ela pudesse fazer isso, Salomão entrou no quarto, usando uma camiseta do Street Fighter e um jeans surrado, conjunto que ele repetia tanto que podia dizer que era praticamente seu uniforme de trabalho. Todas as manhãs era ele quem se vestia primeiro, depois ia ajudar a esposa com os preparativos para a escola.

— O que tá acontecendo aqui? — Salomão perguntou com aquele tom paterno grave que ecoou no quarto todo.

— O Oliver não quer vestir o casaco, amor. — Explicou Bambina.

— Como que não quer? — Disse o pai esfregando as mãos — Tá uns dez graus lá fora.

— É casaco de menina. — Explicou Oliver.

— Vamos fazer o seguinte: Se você vestir o casaco e for hoje direitinho pra escola, eu te deixo faltar os próximos dois dias. — O pai sugeriu.

Oliver fechou o casaco contra o qual a mãe estava lutando e saiu correndo do quarto, batendo a porta.

Bambina olhou incrédula para onde o filho havia ido, em seguida para o marido e caiu na gargalhada.

Levantando-se, ela beijou o marido:

— Ele vai ficar tão puto quando perceber que hoje é sexta...

— Até lá, isso é problema da professora. Vamos?

A família se enfiou no carro para seguir a rotina da tarde. A princípio, Salomão dirigia até o estúdio onde estava trabalhando. Depois, o carro ficava nas mãos de Bambina, que hora acelerando demais, hora quase batendo e sempre abrindo o vidro para xingar alguém, levava o filho para a escola.

Não importa há quantos anos fizessem isso, Oliver nunca conseguia se acostumar com a direção perigosa da mãe.

— Será que você não pode fechar a janela um pouco? Eu tô congelando aqui atrás. — Reclamou Oliver no banco de trás.

— Desculpa, amorzinho, eu só consigo enxergar assim. — Ela girou o volante parecendo tensa ao fazer a curva e passou a roda raspando pela calçada — Acho que nem assim.

— Não sabia que vodka no café da manhã deixava cegam — O garoto entrucou, enquanto esfregava os braços, lutando contra o vento que vinha das janelas escancaradas.

Bambina mordeu o lábio inferior, se ela fizesse isso quando era criança, ganharia um tapa na boca pelo desrespeito; mas Bambina não conseguia pensar em brigar com uma pessoa por estar certa. Na verdade, mal conseguia erguer a voz para o filho sem sentir-se culpado e aos poucos ia se tornando cada vez mais permissiva.

Chegando ao colégio, os dois seguiram a caminho do portão junto dos outros pais que traziam seus filhos. Na entrada, via-se uma belo cartaz de letras coloridas dizendo: “O Colégio Colha deseja a todos boas-vindas!”. Embaixo disso, estava o lema do lugar: “Plante seu presente, colha seu futuro”.

Vendo isso, Bambina debochou:

— Dez anos e essa velha ainda conta esse discursinho pros pais. Educação humanizada é o caralho.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Apr 28, 2024 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Baby Blues Onde histórias criam vida. Descubra agora