2. Entre nuvens de expectativas

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[Sana]

A vida de uma estrela pop é sempre uma montanha-russa de emoções, um turbilhão de luzes cintilantes, aplausos ensurdecedores e flashes de câmeras. Mas por trás de todo o brilho existe um lado obscuro que poucos veem: exaustão, a solidão, o desejo são adjetivos que engrandecem a busca por uma vida comum.

Treze horas de voo, cinco horas de treino, quatro horas para a passagem de som e apenas três horas para descansar. Essa era a rotina implacável que me aguardava em Berlim, inúmeras atividades para um realizar um show que exigia cada gota de energia e dedicação.

Enquanto o avião corta os céus em direção a Berlim, me encontro perdida em meus pensamentos. Olho pela janela, observando as nuvens que passam rapidamente, e me pergunto se algum dia meus fãs saberiam o preço que é sorrir diante deles.

Já em território alemão, o treino agora parece uma batalha constante contra a exaustão e a pressão. Cada movimento exige um esforço minucioso, e às vezes busco assimilar se um dia também vou encontrar a mesma alegria e liberdade que a dança costumava me trazer.

Como um robô, vou para a passagem de som que é apenas mais uma tarefa em uma lista interminável de compromissos. Sigo as instruções, sorrio para as câmeras, mas por dentro me sinto esgotada, como se estivesse perdendo a conexão comigo mesma.

Enquanto me preparo para mais uma performance, os aplausos ainda ecoam em minha mente, contrastando com a tensão que sinto em meu coração. Nos bastidores, longe dos holofotes, me vejo confrontada com um conflito que há muito tempo vinha se formando.

Ajusto a maquiagem, cabelo, passo o fio do microfone pelas costas chegando ao retorno, caminho em direção ao palco e escuto a multidão gritar por qualquer barulho. Os telões ficam pretos indicando que em alguns segundos o show vai começar.

Me posiciono na plataforma, conto até vinte e três, fecho os olhos e as luzes do palco iluminam meu rosto, mas dentro de mim sinto uma escuridão crescente. A música começa, e me movo no ritmo, mas é como se estivesse dançando sem direção, sem propósito. Cada palavra que canto parece distante, uma sombra do que um dia foi minha paixão.

Enquanto o público aplaude e grita meu nome, uma sensação de vazio ainda permanece. Eu deveria estar feliz, realizada, mas é assustador demais sentir toda a pressão caindo em cima de você.

Algumas músicas depois, finalmente saio do palco para trocar de figurino, tentando disfarçar a agitação que tomava conta de mim. Jeongyeon, minha manager, logo percebeu minha condição e tenta acalmar meus nervos, passando um pano em meu rosto para secar o suor que escorria.

- Sannie, respira comigo. - Nayeon, uma das minhas amigas e responsável pela produção dos shows, tentou me trazer de volta à realidade.

- Vamos precisar aumentar o intervalo - disse ela a Jeongyeon, que lutava para manter a calma diante da situação.

- Droga, droga, droga - Jeongyeon murmurou.

- Respira fundo, estamos aqui com você -  Nayeon tentou me transmitir um pouco de tranquilidade em meio ao caos.

Jeongyeon rapidamente elaborou uma desculpa para o contratempo, dizendo que o zíper da minha roupa travou e que estávamos tentando resolver o problema. Ela transmitiu a mensagem pelo rádio para a equipe, enquanto nos preparávamos para lidar com a situação.

- Hey. -Nayeon sentou ao meu lado, oferecendo apoio. - Seja forte, tá? Faltam apenas algumas músicas e logo isso estará acabado.

Com o coração ainda batendo meio descompassado, respirei fundo e tentei me concentrar. Enquanto esperávamos pelo intervalo estendido, minha mente estava uma bagunça de preocupações e autoquestionamentos.

Look At Me - SahyoOnde histórias criam vida. Descubra agora