Look At Me - Sahyo

10. A Doce Ilusão da Normalidade

[Sana]

Quando nos deitamos na cama, Jihyo me abraçou, e eu senti uma paz que não sentia há muito tempo. Ela passou um bom tempo fazendo cafuné enquanto eu adormecia com a cabeça em seu pescoço. Seus braços estavam ao redor do meu corpo e nossas pernas entrelaçadas na cama. Naquele momento eu me permiti acreditar que tudo ficaria bem e que aquele caos interno que eu sempre sentia sumiria.

Mesmo que em pouco tempo de conversa, cada sorriso dela, cada toque, trazia uma sensação de leveza que eu não sabia que precisava. Com ela, eu me sentia compreendida, algo raro na minha vida cercada por expectativas e pressão. Jihyo tinha essa habilidade de fazer com que os problemas parecessem menores, apenas pela sua presença.

A manhã seguinte foi uma colisão com a realidade. Acordei com o som do meu celular vibrando na mesa de cabeceira do quarto de Jihyo. Levantei minha cabeça, tirei o braço dela da minha cintura e sentei na cama cuidadosamente, tentando não acordá-la, mas falhei. Jihyo se mexeu levemente, murmurando algo e acordou completamente.

Peguei o celular, atendendo  com uma sensação de pavor no estômago.

- Hm, oi. - minha voz saiu rouca, ainda embargada pelo sono.

- Onde você está? Seus pais querem discutir suas ações nas últimas semanas. - Um dos secretários da empresa gritava do outro lado da linha. - Houve fotos sua com uma jogadora. Além de especulações da imprensa...Isso não caiu bem internamente Sana. Você trouxe caos de novo, você sempre traz.

Eu sabia que meus pais sempre procuravam maneiras de explorar minha carreira para ganho financeiro, mas ouvir isso tão cedo, num momento em que ainda me sentia vulnerável, foi um golpe baixo.

- Eu... - comecei a falar, mas minha voz falhou. A frustração e o medo se misturaram em mim, me paralisando. Olhei para Jihyo, que agora estava sentada na cama ao meu lado e me observava com preocupação nos olhos. Ela não merecia ser arrastada para o caos que minha vida se tornara.

- Sana, você precisa voltar imediatamente. Eles estão esperando. - sua voz me trouxe de volta à realidade. - Precisamos resolver isso imediatamente. Há contratos a serem assinados, compromissos a serem cumpridos. Você sabe o quanto é importante manter sua imagem sob controle.

Desliguei o telefone sem responder, incapaz de processar tudo de uma vez. Senti lágrimas se acumularem nos meus olhos, e minha visão ficou turva. Jihyo se aproximou ainda mais do meu corpo e sua mão tocou suavemente meu braço.

- O que aconteceu? - ela perguntou, sua voz cheia de preocupação e carinho. Jihyo estava sempre tão atenta aos sentimentos.

- Você está bem? - Jihyo perguntou novamente, percebendo minha distração. Sua expressão era uma mistura de ternura e preocupação.

- Sim, só um pouco cansada de ontem. - menti, forçando um sorriso que sabia não enganar ninguém. Retribui o carinho em sua mão.

- Sei que ainda estamos nos conhecendo, mas você pode confiar em mim para contar o que está acontecendo. - Jihyo olhou no fundo dos meus olhos.

- Eu não quero trazer mais problemas para você. - murmurei, desviando o olhar.

- Não traz. - Ela sorriu, passando a ponta do dedo no meu maxilar, um gesto tão simples e ao mesmo tempo tão reconfortante. - Eu gostei muito da noite de ontem.

- Eu também. - respondi, fechando os olhos e colando nossas testas.

- Nós podemos nos ver mais vezes? - Jihyo perguntou e eu sorri pela primeira vez naquela manhã.

- Por que não? - respondi se afastando. .

- Você e suas perguntas retóricas. - Ela riu, e o som da sua risada era quase que uma melodia que eu poderia compor para sempre.