Aquele Que Eles Não Esperavam

Capítulo 43

Está escuro. Sinto o frio penetrar em
meu ser através de minhas roupas finas demais para o frio da noite. Tem algo errado. Não posso identificar exatamente o que, mas sei que algo não está normal. Olho ao redor. Não consigo ver nada, nem posso ouvir o mínimo ruído. O silêncio é sufocante. Não sei onde estou, nem sei se há alguma ameaça imediata.

Não consigo entender meu próprio corpo, meus instintos estão confusos.

Sinto que algo está faltando. Procuro em minhas roupas minha varinha, mas ela não está em lugar nenhum. Tento lançar em mim mesmo um feitiço de aquecimento sem varinha, mas não há efeito algum.

Começo a me desesperar. É uma
sensação tão diferente sentir sua magia dentro de você e não poder usar. Me sinto exposto, sinto que até mesmo o vento poderia me matar e eu não conseguiria me defender. Começo  correr as cegas, apenas para esbarrar em galhos e árvores, tropeçar em galhos e raízes
e logo estou caindo e caindo e não posso evitar rolar barranco a baixo. Sinto meus braços e pernas ralados e arranhados, e espero deitado que um milagre aconteça.

Aparentemente estou em uma floresta. Tento lançar um lumus, mas novamente não consigo acessar minha magia. Sinto
cada vez mais e mais desespero e quero gritar, chorar e me encolher.

Me levanto desanimado. Minha
esperança está cada vez menor. Será que minha magia vai voltar ao normal? Quem
poderia conte-la de tal maneira?

Ninguém que conheço teria tal poder. Ninguém além... Mas por que ele faria isso?

Morte é o único capaz de tal façanha. Nenhumn outro bruxo teria poder mágico para tanto.
A raiva, o ódio tão puro e tão simples, me invade de tal forma que perco meus sentidos. Não penso, grito, xingo e me levanto do chão com um salto. Corro e corro, tropeço e caio, mas me levanto e continuo a correr. Depois do que
parecem horas, ainda correndo, ainda caindo e ainda me levantando, sentindo cada músculo de meu corpo doer e o suor escorrer de minha testa, um pensamento surge na minha cabeça: 'por que estou sentindo tanto?'

Minhas emoções estão bagunçadas e
despertas. Nunca, desde que me
entendo por gente, me senti assim. Meu lado racional sempre levou a melhor sobre mim.
A solidão é avassaladora pela peimeira vez e eu estou completamente perdido. O vento balança minhas vestes e sinto o frio
aumentar meu desespero.

Tento me lembrar de como vim parar aqui, mas tudo que me lembro é de estar de volta a Hogwarts depois do yule. Do jantar. Me lembro de conversar com Blaise no meu quarto e dele sair e depois nada. É como se eu tivesse caído na escuridão e acordado aqui.

Meus braços, pernas e cabeça doem. Continuo correndo, mas além do chão da floresta a meus pés, das árvores que esbarro repetidamente, não sinto ou vejo mais nada além da escuridão pura e simples.

"Morte!?" Chamo em minha mente.

O silêncio é minha única resposta. Tropeço em algo estranho, e caio. Não é uma pedra nem uma raiz.

Quando me sento, tateio tentando descobrir o que é isso.

O horror me invade quando sinto um rosto sobre meus dedos. Um nariz arrebitado, maçãs do rosto altas e cabelos lisos e familiares. O corpo estava rijo e frio. Não havia dúvidas que é um cadáver.

O desespero cava um buraco em meu peito e o horror cresce. A escuridão finalmente dá uma pequena trégua, como se soubesse. Se entendesse o que estava se passando e quisesse me causar mais dor.

Um grito cresce em meu peito e sinto meus lábios se moverem involuntariamente diante do corpo dilacerado da pessoa que eu mais me importo no mundo.

"Draco!!"

Sinto as lágrimas entrarem na minha boca e só então percebo que estava chorando. Nem me lembro quando foi a última vez que chorei. Que senti tanta dor. O luto é como uma onda enorme que me engole por inteiro.

Não sei quanto tempo passo chorando, contemplando os olhos vidrados e o corpo ensanguentado de Draco. Do meu mais próximo. Do meu braço direito. Do meu melhor amigo. Daquele que já foi tanto, mas agora é apenas um cadáver em decomposição no chão da floresta.

Me forço a cambalear em frente. Ou talvez estou apenas voltando por onde vim. Não dá para saber. A escuridão me envolve novamente.

Minutos ou horas depois, tropeço novamente, e dessa vez não quero ver. Não quero olhar. Não quero saber qual deles foi.

Seja lá por que, eu olho. A escuridão imediatamente se dissolve diante do corpo de Ron e hermione, ambos abraçados, expressões de horror em seus rostos. O peito deles, assim como de Draco, está dilacerado e posso ver os pedaços de seus corações. É o único órgão danificado.

As lágrimas, que agora percebo não terem parado, aumentam e encontro forças para soluçar. Passo mais tempo lá, sentado, os encarando. Encarando seus corações despedaçados.

Muitas horas, quandoa morte não veio e as lágrimas já secaram em meu rosto e me sinto culpado e destruido demais para continuar os encarando, me levanto. O silêncio ensurdecedor é ainda mais opressor e eu só quero que isso pare. Mas aparentemente esse já é o inferno. Meu corpo deveria ter parado de funcionar horas atrás, enquanto estava sentado esperando a morte, no frio e com fome.

Fome. Sede. Frio. Escuridão. Dor. Desespero. Tudo me engole de uma maneira que nunca imaginei ser possível. Será que Valter e Petúnia estão sentindo algo parecido no inferno? Será que seus espíritos virão me assobrar?

Dessa vez não tropeço. Posso senti-lo a minha frente. Posso vê-lo claramente. Cada traço de seu rosto pálido, seus olhos vermelhos estranhamente vidrados, sem aquela impetuosidade anterior. Seu corpo está exatamente igual ao dos outros. Entretanto, aqueles olhos mortos me encaram, vazios, me julgando. Ele é o pior, de alguma forma. Sinto a culpa corroer o que resta de minha alma, se é que ela ainda existe. Um turbilhão de sentimentos me engole e eu nunca antes dejesei tanto aquele entorpecimento.

Me deixo cair ao lado do seu corpo e toco sua bochecha, como uma carícia. Um murmúrio deixa meus lábios, mas não há mais algua para ser vertida por meus olhos.

"Tom..."

N/A: Não sei vocês, mas eu chorei escrevendo e editando isso. Mn, por que eu fui me torturar assim?

OBS: não me odeiem.