II

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Jão, point of view,
São Paulo.

Desde de pequeno eu queria mudar o mundo, não sei como nem porquê, eu só sentia a necessidade de fazer meu nome ser ouvido e minha presença sentida de alguma forma.

Eu só queria que escutassem o que eu tinha a dizer. A química é minha paixão desde o ensino médio, então eu soube o que seria, sei que ser professor não é a profissão mais privilegiada, tinha consciência disso desde sétima série. Mas eu queria ser como a minha professora, ajudar, entender, ouvir, capacitar.

Eu queria ser mais do que um simples garoto do interior, e estava satisfeito com mais de cem alunos sabendo meu nome. Óbvio que nem todos gostavam de mim, até porque não tem como agradar a todos.

— Consigo ouvir sua cabeça funcionando daqui, Joãozinho... — Afirmou a esposa de minha prima, Victória, pondo os pratos do jantar na mesa. Eu estava parado no meio do corredor e ela estava de costas. Ok... Isso é estranho.

— O que tanto pensa, Jão?! — Pergunta Giovana, colocando a travessa de lasanha na mesa.

— Só não pode tá pensando na ex! — Brincou Victória, fazendo-me rir levemente.

— Só refletindo! — Respondi pondo as mãos nos bolsos do casaco.

— Cuidado pra não refletir demais e acabar que nem na semana passada. — Giovana falava de quando eu comecei a surtar e ter uma crise de pânico no meio da aula do segundo C, sai o mais cauteloso o possível e me tranquei no banheiro dos funcionários.

Levaram 40 minutos pra me tirar de lá. Tive que tomar sedativo e agora estou fazendo acompanhamento psicológico. Ok, talvez eu ainda tenha muitas coisas do passado que me afetam mais do que deveria e eu deveria ter ido me tratar mais cedo.

— Volta pra terra, meu filho! Senta, vamos comer! — Chamou a ruiva, sentei-me a mesa então comecei a me servir.

Tivemos um jantar agradável e duas horas depois dele, retornei para casa.

[...]

Cheguei em casa sendo recebido apenas por Vicente, Santiago nem ousou levantar e Chicória provavelmente está deitada no meio da minha cama. Vou até a cozinha beber água, e então me arrumar para dormir após isso.

Deitei na cama e levei meus olhos para o teto, tentando não lembrar do passado, focar no futuro. Ok, acho que nessa altura do campeonato todo mundo já percebeu que eu amo amar, mas nunca consegui me sentir verdadeiramente amado.

Acho que eu não consigo me amar do jeito do qual as pessoas me amam. Por isso tive que ir embora, estava tudo em chamas.

[...]

— Essa é a fórmula molecular do etanol! — Afirmo apontando para a imagem que estava no slide.

— E então, pro cálculo da massa molar vamos multiplicar a massa pelo número que moléculas na fórmula?! — Perguntou Malu, tirando o óculos, que utilizava apenas nas aulas, e massageou os olhos.

— Exatamente! É simples, gente! — Respondi e ela suspirou em alívio, sabia de sua extrema dificuldade em cálculos, então realmente a aliviou. Enquanto todos saiam para o intervalo, fui até a mesa da preta e me agachei, seus olhos estavam marejados. — Olhe pra mim, Malu! Tá tudo bem?!

— Sim... — Respirou fracamente, não acreditei no que dizia.

— Vem aqui! — Me levantei e a abracei, então a cacheada desabou em meus braços.— Tudo bem... Eu tô aqui! — Falei acariciando seus cabelos. Conhecia a menina desde o nono ano, sabia de seus problemas pra lidar com a própria personalidade e realidade.

— Desculpe... — Ela soltou o abraço e eu sorri para a mesma.

— Não há o que se desculpar, suas amigas devem estar preocupadas, mas se precisar conversar comigo, sabe onde me encontrar! — Respondi, sendo apertado em um abraço novamente e então a menina sai da sala.

— Romania, um verdadeiro pai de menina! — Brinca Pedro encostado no batente da porta, com os braços cruzados à frente do peito. Um grande gostoso, diga-se de passagem.

— Sabe que é meu sonho! — Ele sorriu para mim, indo em direção a sala dos professores. Trabalhávamos juntos vai fazer três anos, e eu não conseguia não ficar encantado com o outro.

Nunca diria a ele o que sentia, o mesmo sempre foi muito fechado, e eu sempre fui muito medroso para me arriscar. Tófani sempre sorria para mim, me mandava beijinhos, que só conseguia enxergar deboche, piscava, dava um jeito de por o braço em meu ombro, mas pareciam ações inofensivas.

Até porque nunca tentei me aproximar muito pelo medo da rejeição.

— Você não vem não?! A Melina fez café! — Voltou o moreno, tirando-me de meus pensamentos, guardo minhas coisas e enquanto ele me espera. Palhares pega minha mochila e minhas pastas, me deixando sem levar nada, põe o braço em meu ombro e me guia até a sala dos professores.

Fiquei em silêncio, apenas em choque me deixando ser guiado pelo outro professor. Quando chegamos no lugar, Pedro colocou minhas coisas na mesa e pegou duas xícaras pra por café.

— 'Cê viu passarinho verde foi, Pedro?! Tá animado, trouxe o João e tá pondo café pra ele! — Pergunta Malu após um tempo de todos em silêncio observando as atitudes de Tófani.

— Apenas estou animado! — Respondeu o moreno fazendo seus amigos rirem debochados.

— Não é o lugar pra eu falar o que penso, vou anotar pra mandar no grupo! — Afirmou Marília, fazendo seu marido pegar o caderno e a caneta, para a loira anotar. Sorri com a cena, Zebu era e sempre seria completamente apaixonado por Marília.

— Você só pensa merda, impressionante! — Retrucou o professor de matemática, me dando a xícara de café, agradeço em um sussurro, ele me dá um beijo na bochecha, deixando-me vermelho, e foi se sentar ao lado de sua amiga.

Após alguns segundos, vou me sentir entre Renan e Giovana.

— Seu crush sabe que você existe ou é impressão minha?! — Sussurrou minha prima em minha orelha, me fazendo dar um leve tapa nela.

— Daqui a pouco a gente vai ser padrinhos desse casamento! — Disse Renan, fazendo-me engasgar com o café.

— Rapaz, falou em casamento ficou emocionado! — Zebu apareceu, revirei os olhos e pus a xícara na mesa.

— Aí gente, eu sempre shippei pejão! — Falou Francine surgindo do além, me dando um susto pela altura de sua voz.

— Fala baixo, mulher! Pejão?! Que história é essa de pejão?! Nome esquisito! — Afirmo fazendo meus amigos rirem alto, chamando a atenção dos outros na sala.

— Tá vendo, João?! Todo mundo ama pejão! — Falou Gio, recebendo mais um tapa meu.

Tófani sorriu pra mim, então baixei a cabeça envergonhado. Me sentindo um idiota sigo conversando com meus amigos.

Sempre me perco naquela cara bonita, mas é tão difícil de sair.

E tudo certo...

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Será que vão dar certo?! Bjs

Capítulo Revisado
Palavras: 1111

ᴀ ᴍᴀᴛᴇᴍáᴛɪᴄᴀ ᴅᴀ ǫᴜíᴍɪᴄᴀ ᴅᴏ ᴀᴍᴏʀ, au pejão Onde histórias criam vida. Descubra agora