VIII

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Jão, point of view,
São Paulo.

Ontem eu decidi que o terceiro ano não teria prova, faria uma apresentação digna de seminário, sem uso de celular e a formulação de uma pesquisa de dez páginas sobre os assuntos que seriam sorteados na sala. Sim, essa apresentação substituiria a prova, valeria cinco pontos.

E não, isso não é por conta do vídeo do Tófani, todos os meus neurônios estão errados. Eu não estou me xingando, só estou fazendo isso para o futuro deles, até porque, a grande parte da sala precisará dessas habilidades no futuro.

Termino a água que bebia, me despeço de meus gatos e saio de casa.

Seria um longo dia.

[...]

— Me desculpa o palavreado antes de tudo, mas que putaria é essa?! Química orgânica é a coisa mais simples que o senhor passou o ano todo e agora temos que fazer uma pesquisa de dez páginas, um slide como se fossemos dar a aula e vir como se fossemos apresentar a porcaria de um TCC?! E isso tudo vale só cinco pontos?! — Emy parecia indignada, apenas sorri pequeno.

— Mas vocês não terão prova! — Respondi de forma simples.

— Me desculpa, mas dani-se, professor! Só temos duas semanas para entregar tudo isso e na merda da pesquisa tem que ter um experimento! — Luísa respondeu, dei apenas de ombro, tentando não me divertir com a situação.

— Vai de vocês ficar ou não sem ponto! — Afirmei e logo toda a sala se transforma num caos.

— Tenho certeza que é por conta do vídeo que a gente fez do Peu, eu sinto de longe o cheiro de vingança e viadagem! — Luísa falou baixinho, na tentativa deu não conseguir ouvir. Engasguei com a saliva, mas fingi não escutar.

— Também, como não saberia, a maior viada dessa escola! — Mari exclama, levando um tapa da baiana, enquanto suas outras amigas riam.

— Gente. Acho que vou entrar em desespero logo logo, temos que estudar pra aquele capeta da prova do Peu, fazer esse trabalho do demônio e ainda entregar duas redações até o fim da semana que vem! — Nicolly dizia enquanto se abanava com uma mão.

— Bom, já deu meu horário, até quinta! — Lhes deixei lá, tentando segurar o sorriso que brincava em meu rosto.

Não esconderia mais, está é sim uma vingança, e eu serei muito bem beneficiado com ela.

[...]

Sento-me no clássico sofá de sempre, abro meu livro e começo a ler. Estava para terminar, pois havia finalmente decidido ler os Bridgertons por conta da série e já estava no quarto livro. Quando escuto o barulho dos outros chegando, nem me dou ao trabalho de levantar o rosto para lhes observar, a cena que se passava no livro era tão intensa e interessante que o resto do mundo não importava.

As declarações dos Bridgertons eram incríveis, por mais problemáticos que os mesmos fossem, eram homens apaixonados, eu achava, e então apenas segui lendo, e nem parei quando senti o sofá se afundar ao meu lado.

— Podemos conversar?! — Tófani me deu um susto gigantesco, fazendo-me pular levemente, até porque estava tão absorto nas palavras de Julia Quinn que nada a minha volta parecia real.

— O-oi... Claro! — Respondi, marcando o livro e o pondo de lado.

O mesmo levantou e me ofereceu sua mão, sorri envergonhado, pegando sua mão para me levantar. Percebi todos na sala olhando nossos movimentos, quando Pedro me tira da sala, nós levando ao estacionamento, o único local de mínima privacidade em todo prédio dessa escola.

— Sobre o que quer conversar que precisa ser tão secreto?! — Brinquei para tentar descontrair assim que chegamos no local.

— Eu... Eu gostaria de dizer que sinto muito a forma que te tratei na sexta passada! — Palhares afirma olhando para os próprios pés.

— Tudo bem, sem problemas! — Falo, sorrindo para cena. — Era só isso?!

— N-não, desculpe, estou meio sem jeito para falar sobre isso! — Mexia nas mãos de forma desconfortável.

— Tudo no seu tempo, ok?!

— Eu... Eu estou afim de você João, e sei que esse não é o local apropriado para falar essas coisas, mas sei que não teria coragem de lhe chamar de novo para o meu apartamento, dizer tudo isso e talvez ser rejeitado. Eu não consigo me ver em um relacionamento sério agora, mas eu tô afim de você e queria saber se você não quer tentar?! — O Fernandes jogou tudo o que sentia rapidamente, fazendo-me suspirar. — E-esqueça tudo que lhe disse agora e-eu nem sei onde estava com a cabeça de...

Calei sua boca com um selinho. Foi rápido e objetivo, apenas para fazê-lo parar de falar tanta besteira.

— Podemos sim tentar, Pedro, mas nada de outras pessoas, ok?! Sou um pouco possessivo até com meus amigos... — Pedi de forma envergonhada. Ele tinha as bochechas vermelhas, seus cabelos voavam um pouco por conta do vento, seus lábios agora estavam contraídos e agora tinha uma expressão surpresa.

— Eu percebi ontem... Eu não quero me envolver com mais ninguém de qualquer forma... Estou verdadeiramente interessado em você, não vejo motivos para outros, ok?! — Disse Tófani se aproximando. Me aproximei um pouco mais, prendendo minhas mãos em sua cintura. As suas próprias mãos estavam dentro dos bolsos do moletom que usava.

— Ok... — Lhe dei mais um selinho. Tentando não deixar minha mente ir para o lado negativo, não queria pensar que talvez o outro só tivesse me usando por esse tempo. Não queria pensar no futuro, nem no passado, apenas aproveitar o presente.

— Sem garçons, uhm?! — Perguntou Pedro pondo a mão direta no meu pescoço, indo alisar minha nuca.

— Então era esse o motivo do colapso de sexta?! — Rindo, questionei sendo agredido na nuca.

— Responde, João Vitor! — Exclamou o moreno. Parei de rir e então encarei seus olhos cheios de esperança e medo, suspirei e disse.

— Sim, sem garçons, nem nada do tipo! De onde veio toda essa coragem?! — Despretensiosamente, apertei um pouco mais a cintura do mais novo.

— Uhum, a Malu me deu um choque de realidade e eu não posso mais viver apegado ao passado, achando que todo mundo vai me machucar da forma que pessoas anteriores me machucaram! — Falou Pedro, então avancei e lhe dei mais um selinho.

— Precisei de meses de terapia pra chegar a essa conclusão, parabéns Peu! — O parabenizei, o mesmo ficou vermelho, mas antes que pudesse responder qualquer coisa o sinal bate. — Parece que temos que ir.

— Parece que sim... — Exclamou parecendo desanimado, e então fomos pegar nossos coisas para ir às salas.

Eu sinto que essa velocidade não vai fazer bem a gente, então tentaria ir devagar. Quem sabe nós dois não déssemos certo?!

ᴀ ᴍᴀᴛᴇᴍáᴛɪᴄᴀ ᴅᴀ ǫᴜíᴍɪᴄᴀ ᴅᴏ ᴀᴍᴏʀ, au pejão Onde histórias criam vida. Descubra agora