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Pedro Tófani,point of view,
São Paulo.

A maioria dos dias eu me pergunto o que tinha na cabeça quando decidi aos 16 anos me tornar professor. Ainda mais de matemática, mas aí eu entrava nas turmas do terceiro ano e isso mudava a perspectiva.

Não fui sempre tão "amargurado" como Malu gosta de dizer, mas tem certas coisas na vida que te fazem endurecer, tem certas coisas que te transformam. Mesmo sem querer, algumas pessoas te marcam mais do que deveriam.

Alguns diriam que o início do meu relacionamento com Marcos, meu ex, era coisa de filme, mas com o passar do tempo se tornou uma trama de terror. Cada palavra proferida, era especialmente para me magoar, parecia que ele estava comigo para o prazer de me jogar pro alto pra me quebrar.

— Professor, hello?! — Maria Luísa, ou Malu para os íntimos, sua aluna do 3° ano A mais caótica, estalou os dedos em sua frente, tentando-lhe entregar o mapa mental.

— Oi. Venha! — Ofereci um sorriso pequeno à menina, que logo levantou a sombrancelha levantada.

— Tá pensativo hoje, divo?! — Brincou Nicolly, mais conhecida como Nick, fazendo-me revirar os olhos.

— Sinceramente, vocês tão que só a praga hoje! Mariana, fez o mapa?! — Perguntei para a loira que me deu um sorriso atravessado. — Tudo bem, me entrega amanhã na sala do segundo ano C!

— Obrigada, prof! Você é incrível! — A menina me deu um beijinho na bochecha de felicidade e saiu pulando de volta a sua carteira, fazendo suas amigas rirem.

— Toda abestada, não sei como o senhor aguenta! — Falou Luísa apenas para implicar com a amiga, recebendo um tapa de Mari.

— Gente, 'cês viram o B.O que deu com o prof Jão e aquela infeliz do primeiro ano A?! — Pergunta Emy assim que entra na sala com sua garrafa de água já cheia. Nicolly pega a garrafa da mão da menina e bebe.

— Tudo isso só porque ela foi péssima na prova e acha que foi culpa do divo! — Terminou de fofocar Mariana, que já havia voltado.

— Oxi, que dossiê é esse na frente da minha mesa?! Vão se embora! Preciso terminar de corrigir os outros trabalhos! — Falei, as meninas reviraram os olhos e saíram.

— Faz isso, mas no fundo vai sentir nossa falta! — Brincou a cacheada, indo sentar na sua respectiva cadeira.

Ela estava certa, iria sentir falta delas.

[...]

— Você 'tá falando sério?! — Perguntou Giovana para João na sala dos professores, estávamos todos reunidos, pois era intervalo, tomando café e fazendo o que mais gostamos de fazer: falar mal de aluno.

— Sim, aí a mãe dela veio aqui hoje, simplesmente me sentei com ela, e corrigi a prova na frente dela! A mulher ficou roxa de vergonha, pediu desculpas pelo comportamento da filha, e pelo que a coordenadora disse, essa demônia vai ser transferida para tarde! — Respondeu o moreno jogando os braços pra cima em comemoração, fazendo todos nós na sala rirmos.

— Ainda bem, essa menina sempre foi insuportável, sabia que ela já chegou a perguntar se eu preferia o terceiro ano?! — Falei indo por a xícara na pia.

— Nem precisa perguntar, é óbvio que você prefere eles, Pedro! — Disse Malu, minha melhor amiga desde a faculdade, e todos presentes rirem também.

— Não sei o que eles fazem pra você gostar tanto deles! — Afirma Marília, tomando um pouco mais de seu café.

— Todo terceiro ano com ele é assim! — Exclama João, com um sorriso no rosto, lhe sorri de volta e mirei meus outros colegas novamente.

— É porque já tá acabando, aí ele gosta de torturar os mais novos, e os que já tão saindo ele dá uma trégua! — Brincou Ana, todos nós rimos e então bateu o horário.

— Hora de voltar a trabalhar, não é mesmo?! — Zebu diz de forma lenta e preguiçosa, nós suspiramos, voltando às respectivas salas.

[...]

O dia passou rapidamente, e logo eu estava em casa. Trabalhava em duas escolas, uma pela manhã e outra pela tarde, então chegava em casa em torno das seis horas da tarde, completamente exausto.

— Seu pai 'tá tão cansado, filho! — Brinquei com Quito assim que cheguei. O mesmo miou, pedindo colo o que já era costume, sempre o mimei muito.

Quito foi a única coisa boa que meu antigo relacionamento me deu, não gosto muito de lembrar das dores. Só sei que depois disso, nunca mais consegui ser o mesmo. Todos os meus amigos me disseram que eu fiquei muito fechado, ando sempre sozinho, recusando muitos pedidos para sair e que não me envolvo mais com ninguém.

E eles estão certos, não consigo ainda me permitir a andar sozinho, e eu sei. Não estou sozinho, mas ao longo de minha vida pulei de um relacionamento ao outro tentando preencher meu próprio vazio existencial, agora eu só queria me conhecer o suficiente pra saber exatamente quando me entregar de novo.

E talvez esse dia nunca chegue.

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Iniciando mais uma trama! Espero que gostem, curtam, comentem e compartilhem muito! É sempre um prazer em ler comentários!

Capítulo Revisado
Palavras: 833

ᴀ ᴍᴀᴛᴇᴍáᴛɪᴄᴀ ᴅᴀ ǫᴜíᴍɪᴄᴀ ᴅᴏ ᴀᴍᴏʀ, au pejão Onde histórias criam vida. Descubra agora