Depois do pequeno show de Green, o regente conseguiu tranquilizar a plateia e continuar com a cerimônia. Logo, todos foram dispensados para o almoço cerimonial, um local farto de comida e falsidade. Um banquete sem precedentes, nunca havia visto tanta comida junta em minha vida. Mesmo morando em um palácio, a comida sempre foi regrada, o desperdício nunca foi tolerado. O local estava cheio de luzes, vinhos, frutas, doces, danças, conversas, mentiras, falsidade, inveja e desejo sombrios. Discretamente consegui chamar a atenção de YoKo e fazendo com que ela me seguisse até uma parte afastada, conferindo que estávamos sozinhas, me sentei na cadeira e suspirei
- O que você acha dele?
- Do Aldebaram? Péssimo. Você vai ter um grande trabalho...
- Não, não irei
- Como assim?
- Eu teria um trabalho se me importasse com os resultados, mas não me importo se ele vai vencer ou não. Eu vou lhe prestar minhas consultorias, se ele não tiver capacidade cerebral para segui-las não é minha culpa.
- Você é cruel, sabia disso né? - dou de ombros - Talvez, seja isso que eu goste em você. Mas, entendo o que você quer dizer, ele parece muito teimoso e convicto em seus pensamentos. Não há muito que fazer se não quiser ouvir. A não ser que coloquemos uma arma na cabeça de cada cidadão.
- Realmente gostaria de saber sua opinião
- O que eu acho? Acho ele péssimo como eu disse. Não sei o quê você vai fazer com ele. Porém, vai ser bem difícil. Ele não sabe se conectar com as pessoas e ninguém o respeita
- Sabe qual o problema dele?
- Qual? - YoKo arqueia a sobrancelha
- Ele sempre viveu às sombras dos pais, nunca teve uma opinião própria que divergia de seus pais. Ele pensa que o povo o admirava, respeitava e temia. Só que não, as pessoas viam como a extensão de seus pais, há quem eles realmente temiam. E quando ele foi descartado, as pessoas simplesmente mostraram o que acham dele, nada.
- Basicamente, ele pensa que tem uma grande moral, contudo as pessoas só o via como um fantoche?! Que merda hein. Alguém vai ter que avisá-lo. O que piora ainda mais a história era a única coisa que ele era bom, acabou deixando de fazer
- Vai ser muito difícil - escuto um som de trás da porta, há uma grande silhueta de costa, não sabia que ele era um menino curioso que ouvia pelas portas - Eu vou fazer o meu melhor, que não é pouco. Mas, fique claro, se isso falha vai ser culpa de Aldebaram. Não assumirei a culpa pela sua inutilidade e incompetência.
- A verdade é que muito surpreende se ele ganhar com essa atitude de um idiota - YoKo me abraça por trás - Vamos ter muito trabalho minha amiga, muito trabalho - Eu aceno a cabeça em concordância.
ALDEBARAM
Finalmente o dia acabou e agora posso ficar nos meus aposentos. No conforto do meu quarto, sinto que fui humilhado de diversas formas, meu coração dói tanto. Estou apenas sentado no canto na escuridão, sinto meu corpo tão pesado. Eu simplesmente não entendo... porque todos me tratam dessa forma, as lágrimas percorrem meu rosto aos poucos. Tempos antes, todos me respeitavam, me admiravam e elogiavam, meus anos de glória se foram então? As pessoas me menosprezam, riem de mim pelas minhas costas e na minha cara sem tentar ao menos disfarçar, elas parecem que não estarão satisfeitas até me reduzirem ao nada. Sou ignorado, interrompido, desprezado até mesmo as pessoas que não me conhecem me destratam. Será que eu sou tão ruim e inútil assim? Eu não sei o que eles querem de mim. O que Daphne disse será que é verdade?
Será que tudo o que eu fiz em minha vida foi em vão? Me deito no chão e as lágrimas vem com mais força, talvez eu realmente seja tudo de pior que há, talvez eu devesse escutar meus pais e viver nas sombras... Eu devo merece isso que está acontecendo, porque eu nunca fui o bom suficiente, se eu fosse não estaria aqui chorando no chão do meu quarto. Talvez, eu seja apenas um ser desprezível que não sabe o seu lugar, por fim todos devem está certo, eu não sou nada. Sou um maldito incompetente, parte de mim me diz que eu deveria apenas evaporar e a outra parte diz que eu deveria existir e ouvir todas as humilhações possíveis porque é isso que eu mereço . Pego o meu holix e pesquiso pela Mozanas que tal garoto disse, uma das músicas que aparecem tem o nome bem sugestivo :" Angústia " .A música começa com um toque melancólico de piano e violino junto de um toque metalizado, e duas vozes começam a soar uma voz suave e outra rouca tanto atrativas como o som do mar, ambas cantando de forma arrasta como se carregasse um peso nessas palavras:
" Eu vivo em um mundo de sombras
Onde ninguém me vê
Onde ninguém me ouve
Onde ninguém me entende
Eu vivo em um mundo de silêncio
Onde ninguém me fala
Onde ninguém me escuta
Onde ninguém me responde
Eu vivo em um mundo de dor
Onde ninguém me toca
Onde ninguém me abraça
Onde ninguém me consola
Eu vivo em um mundo de ódio
Onde ninguém me ama
Onde ninguém me aceita
Onde ninguém me perdoa
Eu vivo em um mundo de angústia
Onde ninguém me quer
Onde ninguém me precisa
Onde ninguém me espera
Eu vivo em um mundo de solidão
Onde eu não tenho nada
Onde eu não sou nada
Onde eu não quero nada
Eu vivo em um mundo de desespero
Onde eu não vejo saída
Onde eu não tenho esperança
Onde eu não quero viver..."
Adormeci no chão, mergulhado pelas minhas lagrimas e embalado pelas músicas. Até aquele alfaiate não tem um gosto tão deplorável.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Terra Moderna
Casuale" O bom filho à casa torna" é um ditado que evoca o retorno às origens seja de um local e/ou forma de viver. Mas e se essas origens nunca foram um refúgio. Ayla é uma estimada pesquisadora do instituto de Akya Asta, ela trabalha como médica no campo...