.Cap VII.

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Estava na casa do meu pai novamente, mas o que eu estava fazendo ali? Observava minhas mãos para entender o que estava acontecendo. Por que eu durmo e, de repente, acordo em um lugar do meu passado? Quando finalmente minha ficha caiu, percebi que estava revivendo aquele momento.
Uma sensação de pavor tomou conta de mim, encolhendo meu estômago em um nó apertado. Sentia o suor frio escorrendo pela minha testa e as mãos começando a tremer. O ambiente ao meu redor era familiar e ao mesmo tempo terrivelmente estranho, como um pesadelo vivido em um ciclo sem fim.
De repente, a casa se infestou de fumaça, espessa e sufocante. A cor cinza e o cheiro acre de queimado invadiram minhas narinas, e minha respiração começou a ficar densa e irregular. Senti o ar queimando em meus pulmões e comecei a tossir incontrolavelmente, dobrando-me de dor e desespero.
Tentava pedir ajuda, mas minha voz não saía de maneira alguma. Era como se minha garganta estivesse fechada, sufocada pelo medo e pela fumaça. Meus olhos se encheram de lágrimas, não só por causa da irritação causada pela fumaça, mas também pela impotência esmagadora.
Olhei ao redor, buscando uma saída, uma forma de escapar. Minha mãe estava com meu irmão no colo, correndo em direção à porta. O pânico se espalhou pelo meu corpo como uma corrente elétrica. Por que ela não me pegou também? Ela está me deixando para trás?
Tentei correr em sua direção, mas era como se meus pés estivessem presos ao chão. Cada passo parecia um esforço titânico, como se estivesse movendo montanhas. O desespero tomou conta de mim. Tentava gritar, mas nada saía da minha boca. Era agoniante, uma sensação de desamparo absoluto.
Meus pensamentos estavam em um turbilhão. “Por que isso está acontecendo novamente? Por que não consigo mudar nada?” As lágrimas escorriam pelo meu rosto, misturando-se com a fuligem e a fumaça. Sentia-me fraca, impotente, uma criança assustada presa em um pesadelo sem fim.
A dor emocional era tão intensa quanto a física. Reviver aquele momento trouxe à tona todas as inseguranças, os medos e a solidão que sempre tentei enterrar. O coração batia descompassado, quase saindo do peito, enquanto a realidade daquela tragédia se impunha sobre mim novamente.
Tudo o que eu queria era gritar, chamar por ajuda, mas minha voz continuava presa, como se o próprio ar estivesse conspirando contra mim. A sensação de desespero era esmagadora, uma maré avassaladora de pânico que me consumia por completo. E naquele momento, percebi que estava revivendo o momento mais traumático da minha vida, incapaz de mudar o passado, incapaz de escapar do pesadelo que me atormentava.
Acordei sendo chacoalhada por Arianna,  meus olhos se abriram lentamente tentando se reconectar com o mundo real. Minha amiga não falou nada, somente me deixou para trás
Os raios de luz entraram em meus olhos me deixando com a sensação de estar cega. Cobri meus olhos tentando me desfazer daquela claridade.
Levantei-me da cama lentamente ainda com a fadiga do sonho que tive e do dia anterior.
No nosso dormitório, por causa da nossa privacidade, não tinha câmeras alguma. Então, sempre que as meninas saiam do quarto, trocava de roupa e colocava o microfone. De maneira alguma me trocava na frente das meninas, não me sentia confortável o suficiente para fazer isso. Mas o tempo ali era limitado, precisava me trocar mesmo não me sentindo confortável.
Enquanto colocava meu microfone junto com minhas roupas, Isabella e Olivia ficaram me observando. Tentei relaxar o máximo possível para que tudo ficasse bem, mas era impossível. Meu corpo era bonito, mas mostrá-lo para outras pessoas ainda me era um gatilho muito grande.
Ouvi alguns comentários e risada das duas, suspirei e tentei colocar em minha mente que elas não estavam fazendo comentários sobre mim.
Esse reality estava acabando com minha personalidade.
Talvez, Isabella esteja certa, passou pela minha cabeça que eu realmente poderia ser uma puta.
Antony, meu ex namorado, mesmo com o vídeo já vazado de vez enquanto ainda me encontrava e me ameaçava. Eu mantenho isso em segredo, pois não é como se fosse tão importante. Mesmo que até hoje, meu irmão, minha mãe e a internet inteira acreditam que o vídeo vazado foi com meu consentimento e que estava cem por cento consciente.
Não podia ficar me magoando pelo passado, não tinha como consertar.
Deixei todos os pensamentos de lado e comecei a arrumar minhas coisas.
Quando fui colocar as coisas que na minha mala, tinha uma carta da produção, que dizia o seguinte;
“Anne,
Você provavelmente pensou que poderia levar todas as suas coisas para o novo espaço do reality, mas na verdade não.
Temos uma quantidade ilimitada de coisas que poderemos levar.
Você poderá levar vinte e oito coisas.
Obrigada pela atenção, boa sorte.
Ass: produção”
Como já não bastasse irmos para um local totalmente diferente e limitado, agora temos uma quantidade de coisas que poderá ser levado. Mas isso não era uma das milhares de preocupações que tinha.
Então, cautelosamente comecei a separar as vinte oito coisas que iria levar.
Quando finalmente terminei de arrumar minhas coisas, o microfone da produção ligou e automaticamente todos foram para sala de estar. Fui a última a chegar, desci as escadas rapidamente.
Todos estavam com suas devidas coisas e sentados no sofá. Ao contrário deles, preferi ficar de pé.

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