[10] Carma

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Taehyung 

Quando criança, lembro de ter questionado mamãe sobre a morte. Numa imensidão de pensamentos, esse era o que mais me fazia refletir. Se existia mesmo céu e inferno, reencarnação, ou se tudo simplesmente acabava. 

Mas agora, aqui, deitado no meio da rua, vejo o céu, porém, sei que ainda estou na terra. 

E só quando ouço a voz do motorista, sei como é a morte.

Ela chega com os seus carmas.

— Taehyung? — É o que Hoseok diz ao aproximar-se.

Meu Deus, que merda eu fiz em outra vida?

E esse foi meu principal questionamento no decorrer daquele caos.

— Não é possível — praguejo, e mesmo ainda atordoado, tento levantar, falhando miseravelmente quando uma dor profunda toma conta da minha coxa esquerda. — Merda…

— Não se mexa — O ruivo instrui, tirando o seu celular do bolso. — Vou chamar uma ambulância.

— Não precisa — disse eu, a pessoa que questionava-se minutos atrás se a perna não estava debaixo da roda. — Cadê a criança e o cachorrinho?

— Alô? — Hoseok diz para alguém do outro lado da linha, me ignorando completamente. — Preciso urgentemente de uma ambulância aqui na…

Ele continua a passar o endereço enquanto o meu único desejo é que essa maldita dor em minha perna passe para que eu possa sair logo daqui. Enquanto isso, olho em volta e percebo alguns curiosos ao redor, inclusive, o garotinho com sua mãe e seu cachorro. A mulher tem o olhar grato enquanto prende o filho em seus braços. A criança tenta fazer o mesmo com a bola de pelos que ainda insiste em ir para o meio da rua.

Ignorando completamente as instruções de Hoseok, tento levantar novamente, apoiando a minha perna boa no chão. Porém, quando  coloco a outra, grito de dor e quase caio se não fosse pelos braços de Hoseok me segurando.

— É incrível como, mesmo depois de tantos anos, você continue tão teimoso — repreende, com um dos braços em volta da minha cintura e seu rosto a centímetros do meu. — Fique quieto.

Apesar da advertência, a preocupação estava evidente em seus olhos. Provavelmente pelo medo de ser preso, pagar uma multa ou alguma coisa do tipo. Me pergunto se ele também consegue ver. Se ele percebe que o seu toque ainda me deixa arrepiado, que a proximidade trouxe aquelas malditas borboletas de volta, que ainda há mágoas…

Ali, sendo atraídos como um imã, estavam meus sentimentos que, por anos, tratei de ignorar. 

Desviei o olhar do seu, então, com cuidado, Hoseok me colocou no chão novamente.

— Onde dói?

— Desistiu da dança e decidiu virar médico? — Cruzo os braços, carrancudo.

O ruivo apertou os olhos, suspirando.

— Taehyung…

— Minha coxa esquerda — digo, por fim.

Ele assentiu, erguendo a mão para tocar o local. E teria tocado se eu não tivesse o afastado com um tapa.

— Taehyung, pelo amor de Deus!

— Você já prestou socorro, pode simplesmente ir embora! Nós dois sabemos que isso não é algo tão difícil de você fazer — disparo, amargo.

Eu realmente queria que ele fosse embora, por mais que a situação não permitisse. Nossos caminhos não deveriam ter se cruzado novamente, muito menos assim. Desejei que o garoto covarde de anos atrás se levantasse e voltasse para o seu carro, para o conforto da sua vida. Desejei que me deixasse ali, machucado, com uma ferida que demoraria tempo demais para cicatrizar. 

Matéria Encruzilhada :: taeyoonseokOnde histórias criam vida. Descubra agora