[08] Dia de faxina

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Taehyung

Pego a vassoura e um balde cheio de água e sabão, deixando-os no chão ao parar em frente ao quarto de Jimin.

Final de semana. Dia de descanso? Não. Dia de faxina. Estou prestes a puxar a maçaneta quando a porta é aberta, revelando um homem alto de pele bronzeada, cabelos negros e musculos aparentes pelo tronco nu. 

O cara foi realmente feito com vontade porque, senhor, que homem.

Mas esse não é o meu rabudo.

— Quem é… você? — A pergunta vem do bonitão.

O moreno me analisou da cabeça aos pés, o que me fez ficar um pouco envergonhado, pois enquanto ele está a coisa mais esbelta apenas com uma calça moletom cobrindo-lhe até a cintura fina, estou com o cabelo mendigando por uma hidratação, usando uma calça de malha fina velha e uma camisa cheia de furos que achei no final da gaveta.

Mas a vergonha foi embora num passe de mágica quando dei uma espiada dentro do quarto e vi Jimin dormindo como uma princesa.

— Sou casado com o Jimin há alguns anos. E você, o que faz no quarto do meu marido? — Pergunto, pondo as mãos na cintura.

Ele arregala os olhos, levando a mão à boca.

— Meu Deus! Eu nao sabia que… ele nao me disse que-

— Tudo bem — Intervenho, balançando as mãos — Ele é um safado mesmo, mas irei perdoá-lo se me ajudar na faxina, caso contrário, faço da cara dele o pano de chão. Olha só, tem frutas em cima da mesa, se quiser comer antes de ir. — Caminho para dentro do quarto de Jimin, mas volto a pôr a minha cabeça para fora apenas para encarar o homem que me olha apavorado. — Ou pode ficar e ajudar a gente na faxina, que tal?

O moreno abre e fecha a boca diversas vezes, então olha para o pulso em seu braço, soltando uma risada sem graça em seguida.

— Acho que já está na minha hora. Boa faxina — Então caminha rapidamente em direção a porta enquanto murmura: — Mas é cada um que me aparece, viu…

Dou risada, mas logo fecho a cara e caminho em direção ao loiro esparramado em cima da cama. 

— Acorda — Dou três tapas em sua bunda, já caminhando para abrir as cortinas. — Dia de faxina!

— Fecha essa porra, Taehyung! — reclama, cobrindo a cabeça com o cobertor quando a luz bate em sua cara.

— Jimin, já vai dar meio dia. Para de fazer corpo mole! — Quando vejo que ele não vai mesmo levantar, estreito os olhos e falo: — Encontrei sua transa da noite passada.

Então ele tirou o cobertor que cobria a sua cabeça, olhou para o lado vazio da cama, então me encarou.

— O que você fez, Taehyung?

— Nada demais — Dou de ombros — Bom, agora ele acha que sou o seu marido corno. Mas só falei isso para ele ir embora pra gente poder limpar o apartamento, não quis simplesmente expulsar o cara. 

Jimin nega com a cabeça, sorrindo sem acreditar ao tapar os olhos com as costas do braço.

— Ele é o meu professor de dança.

Ops.

— Vai dar ruim?

O loiro nega.

— Ele é de boa.

Assinto, mais relaxado. Mas então me viro para ele com a cara fechada de novo.

— O que conversamos sobre trazer pessoas ao apartamento?

— Aí, foi mal. Ontem eu estava cego pela raiva e pelo tesão. E o pior que o tesão nem era nele.

Me sento em sua cama, cobrindo as minhas pernas com o seu cobertor.

— Como assim?

— Ontem chegou um cara lá no bar do Joe. Um gostoso, Tae. Definitivamente faz o meu tipo. Fiz um drink para ele, cheguei de mansinho e falei: Um amigo meu me contou que você beija bem, posso tirar a prova?" E adivinha o que ele respondeu?

— O quê? — chego mais perto, realmente curioso.

— "Não". Ele disse "não" para mim, Park Jimin. — põe a mão no peito nu, indignado. — Um absurdo, não é?

Meus olhos dão uma volta de trezentos e sessenta graus.

— Tá de porcelana assim só porque foi rejeitado pela primeira vez, enquanto tem uma fila de galera querendo te pegar? — Faço uma careta dramática, pondo a mão no coração. — Nossa, que vida difícil.

— Isso não é nem o pior, ele aceitou a bebida e ainda saiu falando: "se a cantada é de tão baixa qualidade assim, imagina o conteúdo". 

Não consegui evitar uma gargalhada. Jimin me lançou um olhar repreensivo.

— Desculpa mas, caralho, o cara sabe dar um pé na bunda. 

— E quando ele saiu, não consegui desviar o olhar daquelas coxas grossas enquanto ele se afastava — continua. — Porra, isso foi demais para mim. Já havia um tempo que eu estava trocando flertes com o meu professor, então quando ele apareceu pedindo uma bebida, pedi que me esperasse até o final do meu expediente, então o trouxe para cá. Transei com ele pensando nas coxas do cara que me deu um pé na bunda. 

— Quando você está com raiva, transa — observo. — Quando eu estou com raiva, choro. 

Ele assente, voltando a se cobrir.

— Quando estou com raiva também durmo, deveria fazer o mesmo.

O tapa que dou em sua bunda sai abafado.

— Ai, cacete!

— Não vou mandar você levantar de novo — aviso. — O banheiro está te esperando. 

Caminho em direção a porta, fazendo uma careta ao pisar numa embalagem de camisinha aberta no meio do caminho.

Pego a vassoura e começo a varrer o chão, com a pouca energia que restou, já que a semana me sugou uma grande parte dela.

Depois do que rolou com Yoongi na escada, as coisas ficaram estranhas entre nós. Bom, não é para menos. Acabei confundindo as coisas e o afastando. Parece como da primeira vez que o conheci: distante.

Não aceita mais os convites de saideiras da Isabella, e ontem, o peguei chorando no banheiro. Quando ele me encarou através do espelho, começou a chorar ainda mais e então saiu. E eu fiquei lá, com o coração apertado, dividido entre ir atrás dele ou ficar.

Então fiquei, mesmo querendo ir.

Yoongi desperta coisas em mim que a muito tempo não sinto. Sei que ele não me vê desse jeito, pois já deixou isso claro quando me rejeitou, mas não o queria longe. Toda vez que vejo aqueles olhos tristes, tenho vontade de abraçá-lo e dizer que vai ficar tudo bem. Mas confundi as coisas, e nada está como antes.

— Estou exausto — Jimin se joga no tapete da sala quando enfim terminamos de limpar o apartamento.

Faço o mesmo, me deitando ao seu lado.

— Eu também — Solto uma lufada. Minutos depois me levanto em um pulo ao lembrar de algo — Vou no mecânico. 

O loiro me encarou, perplexo.

— Isso que eu chamo de pique.

— Vai pedindo o nosso almoço — digo, pegando a minha toalha e indo em direção ao banheiro para tirar a catinga e o suor.

Tomo um banho rápido e vou caminhando mesmo já que o mecânico é aqui pertinho do prédio. Saltitando seria a palavra correta. Nem acredito que finalmente vou poder pegar o meu carro. 

Adeus ônibus, adeus estresse.

Estou atravessando a rua quando vejo um garotinho correndo atrás de um cachorrinho que solta-se da coleira. Começo a entrar em estado de alerta quando o cachorro sai da calçada e corre para o meio da rua.

A mãe do garoto só teve tempo para gritar.

E eu de empurrá-lo.

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Matéria Encruzilhada :: taeyoonseokOnde histórias criam vida. Descubra agora