Minha casa ficava a dois quarteirões do café livraria, então caminhei à pé pelas ruas iluminadas. Hoje, havia muitas pessoas caminhando, pais, mães, filhos e casais. Todos aparentavam está se divertindo e aproveitando aquele lugar. Não podia negar que muitas das paisagens de Paris eram lindas e me fascinava, no entanto, essa noite pareciam melancólicas e sem vida ao meus olhos.
Cheguei a recepção do prédio onde morava e cumprimentei o porteiro com um aceno de cabeça. Logo em seguida, subi as escadas que me levavam para meu apartamento e parei em frente à porta de madeira com algumas lascas soltas e os números "112" desbotados presos a ela.
Girei a maçaneta e senti um cheiro de lavanda que conhecia muito bem. Meu apartamento era pequeno por uma questão de preferência, não tinha tempo para limpar diariamente pela minha carga horária de trabalho, por isso optei por algo menor e mais prático. Não deixava de ser um ambiente confortável para mim.
Tirei meus sapatos sujos de terra ainda na entrada e quando entrei, pendurei meu sobretudo em um cabide velho ao lado da porta.
O pequeno sofá azulado encostado em uma das paredes continuava do mesmo modo que o deixei, com roupas e produtos de maquiagens espalhados. E as portas de vidro que davam para uma minúscula varanda estavam abertas, fazendo com que um vento sutil entrasse e acariciasse suavemente as cortinas claras.
Peguei o controle da televisão presa em um painel branco e liguei-a. Afastei a bagunça no sofá para um lado e me joguei exausta nele.
Olhei de soslaio para porta do meu quarto, uma hora teria que parar de evitá-lo, não poderia fazer isso pra sempre. Por isso, com muito esforço e uma pitada de coragem me levantei, só parei quando senti a maçaneta fria tocar meus dedos como um prévio aviso. Após um suspiro profundo, abri a porta.
O quarto, agora, parecia menor, menos atrativo e desconfortável. As lembranças vieram à tona e algumas lágrimas rolaram relutantes em minhas bochechas. Não queria chorar, mas minha tristeza já não cabia mais em meu peito. Queria mesmo era gritar, numa tentativa de arrancar aquela dor que mais pareciam espinhos com veneno transbordando orgulhosamente.
Minha voz não saiu, estava fraca e imponente.
Então, apenas me contive em ajoelhar ao lado da cama e abraçar meus joelhos, esperando que alguém pudesse ouvir o eco angustiante de onde jazia meu coração inteiro.
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𝐌𝐚𝐠𝐢𝐚 𝐜𝐨𝐦 𝐂𝐚𝐧𝐞𝐥𝐚
RomansaÉlise aceita um grande projeto que poderia ascender sua carreira, mas se encontra obrigada a trabalhar com Matias, um fotógrafo que cheira a canela e é cheio de segredos, o que faz ela odiá-lo de imediato. Quando o destino desses dois se cruzam, um...