Prólogo

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1965

Quando somos muito jovens nunca pensamos sobre a morte, nunca refletimos como nossa vida é frágil até que perdemos alguém que amamos. Foi o que aconteceu com Jane Robinson em um dia de inverno no ano de 1965 aos dezoito anos de idade, ela e a irmã caçula de onze anos, Jolene, perderam a mãe em um acidente de carro.

- Jolene, vá lavar as mãos para comer. - Jane mandou enquanto entravam em casa e deixava a bolsa encima do sofá - Pai?

A mais velha procurava ao redor o homem que até naquele momento consideravam seu pai, mas a casa que não era muito grande estava vazia.

- Jolene, desligue a televisão e vá lavar as mãos. Pai? - Foi até o quarto que era dele e encontrou uma carta encima da cama - Que porra é essa?

Pegou o papel que estava dobrado de forma irregular, sentou-se no colchão e começou a ler.

"Queridas Jane e Jolene,
Fui embora. Fui embora porque sou covarde. Fui embora porque não sou capaz de criar duas mulheres sozinho. Fui embora porque as amo.
Depois que sua mãe morreu, não me sinto suficiente para cuidar de vocês e sei que você, Jane, cuidará de Jolene com maestria. Deixei todas as minhas economias dentro da primeira gaveta do cômodo a frente de minha cama, não é muito mas ajudará a pagar as contar por alguns meses.
Com amor,
Papai."

Sentia seu coração sendo despedaçado pela segunda vez no mesmo ano, mas não podia deixar com que Jolene sofresse mais uma decepção. Limpou a lágrima que escorria por sua bochecha ao escutar a caçula se aproximando.

- Jane, o que iremos jantar? Está chorando?

- Estou mas está tudo bem. - Levantou-se colocando a carta no bolso de trás de sua calça - Que tal pedirmos uma pizza hoje?

E foi o que fizeram, enquanto comiam a pizza sentada à mesa, Jane olhava para Jolene com um sorriso empático prometendo a si mesma que faria o melhor para cuidar de sua irmãzinha.

***

Jane caminhava pelos corredores da Universidade a qual frequentava, procurava um bom lugar para pendurar seu panfleto procurando alguma colega de quarto.

Pendurou com as tarraxas que havia trazido de casa, ao lado dela parou um jovem alto e loiro que lia o mural.

- Um quarto? - Leu o que ela havia acabado de pendurar.

- Apenas para moças. - Assentiu com a cabeça enquanto cruzava os braços.

- Que pena, estava realmente procurando um lugar para morar.

O jovem deu de ombros e sem se despedir deixou-a ali, sozinha olhando para o papel que havia pendurado. Mal sabia Jane que seus caminhos se cruzariam novamente.

Ao voltar para casa após buscar a irmã mais nova na escola, ela escutou alguém tocar a campainha. Limpou as mãos no pano de prato que tinha sobre seus ombros, foi até porta a qual abriu e viu uma linda moça de cabelos loiros e olhos azuis que carregava duas grandes malas de mão.

- Jane Robinson? Boa noite, me chamo Mary Harrison e eu vi o seu panfleto no mural da universidade. - Esticou a mão a cumprimentando com um aperto - Posso entrar?

- Claro, por favor. - Deu espaço para a jovem entrar com as suas duas malas - Mary, está estudando o que?

- Literatura. - Tirou o casaco cor roxa que usava - Tenho dezenove anos, fumo, bebo socialmente, gosto de festas mas não de fazê-las, apenas de ir então nunca farei uma festa aqui. Curto música e não durmo tarde.

- Você viu no panfleto que tenho uma irmã caçula. - Apontou para Jolene que acenou de forma divertida fazendo a irmã rir - A Jolene.

- Não tenho problemas com isso. - Sorriu acenando - Muito prazer em conhecê-la Jolene.

- Então seja bem vinda, mostrarei seu quarto enquanto te digo algumas coisinhas. - Ela pega uma das malas e leva para o quarto que antes era seu, mas agora era de Mary - O chuveiro tem água quente, no registro à esquerda. Não me importo que traga homens mas não deixe minha irmã escutar algo ou ficar sozinha com nenhum deles, ela só tem onze anos.

- Entendido. - Deixou as malas encima da cama.

- Maconha só no lado de fora, cigarro onde quiser e nada mais do que isso. - Encostou na batente da porta - As contas serão divididas entre nós duas, mas resolvemos isso quando chegarem.

- Tudo bem. - Sorriu colocando as mãos atrás do corpo - Jane, se não for incômodo, posso perguntar o porque moram somente você e sua irmã?

Era incômodo, mas Jane precisava falar sobre isso de uma vez por todas. Desencostou da onde estava e caminhou para perto da moça que agora seria confidente de seu maior segredo.

- Minha mãe morreu no início desse ano...

- Sinto muito. - Interrompeu-a.

- E meu pai, foi embora nos deixando sozinhas a um mês atrás. - Cruzou os braços - Não falamos muito disso, Jolene é apenas uma criança.

Mary sem dizer nada apenas a abraçou, naquele momento Jane soltou uma risada meiga abraçando-a de volta.

"Mary deve ser uma daquelas hippies" pensou ela enquanto sentia-se incrivelmente melhor com aquele abraço da moça que tinha acabado de conhecer, era como se seus corações se tocassem e ela percebesse como conseguiu viver ser ter uma amiga dessas ao seu lado.

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