AGOSTO DE 1976
Brian estava em seu consultório, sentado em sua mesa antes de chamar o próximo paciente folheava a revista de carros do mês de agosto, fazia isso desde que ele ganhou um carro velho de presente do pai para reformarem juntos quando tinha quinze anos.
Parou em uma das páginas com uma foto enorme de Patrick, Jane e Harper na frente de uma das lojas dele com a manchete: "A família por trás do império".
Faziam três anos desde que a família Young se mudou para Pasadena e nesses três anos Patrick conseguiu construir um império de mecânicas e carros usados no estado da Califórnia. Todos o conheciam porque em toda se cidade havia a mecânica "Young's".
A matéria dizia:
"Patrick Young, o homem que se autointitula rico! Mas essa riqueza a qual ele se refere não é sobre dinheiro mas sobre sua família. Casado com Jane, o casal tem uma linda filha de três anos chamada Harper que é a força motivadora dele para trabalhar todos os dias.
'Patrick batalhou muito para ter tudo o que tem hoje, foram noites sem dormir e dias longos no trabalho.' diz a esposa. O empresário completa dizendo que ela o esperava todas as noites deitada no sofá e só ia dormir depois que ele tinha jantado e tomado seu banho quente.
'Penso sim em expandir minha rede de mecânicas por todo o país mas estou indo com calma, apenas coloco meus pés em terras firmes' ele falou sobre expandir seus negócios.
Harper, a herdeira da enorme riqueza, já demonstra grande personalidade herdada do pai mas com a doçura encantadora da mãe."- Três anos? - Colocou a revista na mesa enquanto pegava um bloco de anotações - Eu tenho certeza absoluta que ela é minha filha, ou a Jane foi tão vagabunda que deu para esse homem logo que terminamos.
Brian pegou a revista enrolando ela, saiu do consultório irado, não podia confrontar sobre o que estava acontecendo porque senão brigariam e ele já estava farto das brigas que estavam tendo. Olhou para sua recepcionista.
- Tive uma emergência, remarque os dois atendimentos que tinha hoje para semana que vem.
Sem dizer mais nada saiu do prédio, pegou seu carro e dirigiu até um bar onde, ainda com a revista em mãos, entrou, sentou em uma das mesas e pediu a garrafa inteira de whisky.
De gole em gole a garrafa foi ficando vazia, a cada copo a teoria de Harper ser sua filha aumentava mais e mais. Um dos garçons foi puxado pelo homem que já estava completamente bêbado.
- Onde fica o telefone? - Perguntou, sua voz já estava mole.
- Ali, senhor. - Apontou para a cabine no fundo do bar.
Brian deu seu último gole na bebida deixando a garrafa completamente vazia, levantou-se com dificuldade e foi cambaleando até a cabine telefônica. Não sabia o novo número de Jane, então ligou para o antigo que atualmente estava sob posse de Mary.
- Alô? - Ela perguntou do outro lado da linha.
- Mary?
- Sim, quem fala?
- É o Brian.
- Brian? Por que está me ligando essa hora? - Estava confusa.
- Fala para a piranha da tua amiga que eu sei que aquela menina é minha filha. - Apontou para o nada como se estivesse apontando para o rosto de Mary.
- Piranha é aquela tua esposa! Seu filho da puta, vai procurar o que fazer ao invés de ficar inventando coisa. - Estava furiosa.
- Então ela me traiu? Foi pior ainda, não foi uma piranha, foi uma vagabunda!
- Você é um escroto Brian.
Ao perceber que Mary havia desligado em sua cara, ele colocou o telefone bem perto da boca e gritou:
- Vai tomar no seu cu!
Ao sair da cabine, colocou no bolso do garçom o valor da garrafa e saiu do bar enquanto cantarolava Satisfaction dos The Rolling Stones, a música favorita de Jane.
Bêbado, Brian dirigiu até sua casa. Ao entrar viu Jolene saindo do quarto de seu filho.
- Estava bebendo de novo, não estava? - Perguntou ao vê-lo fechar a porta com dificuldade.- Harper é minha filha. - Disse se aproximando.
- De novo a porra dessa história Brian? Eu já te disse que Jane te traiu com Patrick e a Harper é filha deles. - Cruzou os braços.
- Larga de ser mentirosa! - Gritou - Jane nunca me trairia. Ela é doce, gentil, carinhosa e me amava!
- Mas traiu! Ela foi uma vagabunda que te traiu com o primeiro homem que viu na frente. - Aumentou o tom de voz.
- Eu me arrependo todos os dias de ter te dado o meu número. - Puxou ela pelo braço.
- Se arrepende de ter tido seu filho? - Jolene puxou-o pela gola da camisa.
- Eu o amo mais do que já amei qualquer ser humano nesse mundo. - Soltou-a - Brian Jr é a única coisa a qual me orgulho.
- Mas foi você que me quis! Você que largou a vagabunda da Jane para ter uma família comigo porque me amava. - Empurrou-o depois de soltar a gola de sua camisa - Nunca amou Jane.
- Igual eu nunca te amei! - Falou alto enquanto abria os braços.
Jolene prensou Brian contra a parede, apontou o dedo indicador no seu rosto e falou:
- Se não me amasse não teria feito o que fez! Você tem duas opções, nos divorciamos e nunca mais verá o seu filho novamente ou o senhor vai repensar tudo o que falou e verá Júnior crescer. - Segurava-o pela blusa - Escolha com sabedoria.- Jolene, você é má! - Disse olhando-a nos olhos.
- Eu faço o que é melhor para o meu filho! - Falou alto enquanto se afastava - Eu faço tudo isso porque não quero que o meu bebê cresça sem o pai, porque eu sei que não é bom.
Brian a olhava com raiva e via em seu olhar a fúria. Jolene sentia fúria do pai que a abandonou quando tinha apenas onze anos de idade.
- Não levarei em consideração nada do que falou hoje porque está bêbado e eu nunca considerarei uma palavra de quando estiver embriagado da maneira que está agora. - Cruzou os braços - Vá tomar um banho e deitar, amanhã conversamos.
Na manhã seguinte Brian acordou com a pior ressaca de sua vida, tinha apenas alguns lances de memória da noite anterior e uma delas foi ter escutado Jolene chorar enquanto ele tomava banho. A única coisa que se lembrava de ter dito era que nunca tinha amado-a, o que não era totalmente mentira mas estava se esforçando para aprender a amá-la da forma correta.
Ela estava certa, era melhor esquecer a história de que Harper era sua filha, estava ocupado demais cuidado de sua família. Por enquanto.
Ele se aproximou da esposa que entregava uma fatia de pão para o filho comer e a abraçou.
- Me perdoe por ontem, estava bêbado e não quis dizer nada daquilo. - Beijou-a na cabeça - Eu te amo, Jo.
- Eu sei que não quis. - Encostou a cabeça no peitoral do marido - Eu também de amo, Bri.
Enquanto o sentia acariciar seus cabelos, Jolene sorria sabendo que havia tirado na cabeça de Brian a possibilidade dele desconfiar novamente da paternidade dele.
Mary naquela manhã estava em uma batalha interna sobre se deveria ou não contar a Jane sobre a ligação que havia recebido do ex, mas optou por deixar quieto, ela e o marido estavam muito felizes com a nova vida em Pasadena.

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All Too Well
Roman d'amourSinopse: Jane Robinson é uma jovem estudante de biologia em Chicago, perdeu sua mãe ao dezoito anos e seu pai abandonou ela e a irmã mais nova, Jolene Robinson, semanas depois. Sozinha, Jane cria a irmã, que na época tinha apenas onze anos de idade...