Um Impostor

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Após garantirmos que estávamos em segurança, meu pai e os policiais partiram para a delegacia em busca de pistas nas câmeras de segurança do bairro. Enquanto isso, Jasper e eu nos aproximamos, sussurrando nossos pensamentos.

- Você acha que foi obra do Matthew? - Jasper.
- Não sei, vou checar as câmeras do jardim antes dos policiais, venha. - Puxo Jasper pelo braço até uma das árvores, pego meu celular e entro no aplicativo de segurança que instalei para as câmeras.
- Ali, parece que é um cara, deve ter 1,87. Espera! Olha, é... - Jasper.
- Robert... - digo, as palavras escapam dos meus lábios carregadas de incredulidade.
- Não acredito, é Robert! Mas por que ele faria uma coisa dessas? Por que ele tentaria matar você? - Jasper.
- Por que virei uma pedra no sapato depois de te defender... Acho que ele estava nessa desde a morte de Arteise. Ele está trabalhando para o Matthew...
- Não acredito nisso, aquele desgraçado! - Jasper soca a árvore.
- Temos que avisar os outros, Jasper. Temos que tirá-los de lá. Ele pode matar eles também...

Mas ele não está me escutando, Jasper parece focar em alguma coisa, ele olha para mim, com lágrimas nos olhos e me puxa em um abraço apertado.

- Me perdoe, eu não deveria ter tentado chegar perto de você de novo, é tudo minha culpa... - Jasper.
- Do que você está falando, Jas?
- Por favor, eu sinto muito. - Jasper.
- Jas explica, o que foi que aconteceu?
- Eu te amava e você também me amava, fizemos aquilo juntos, nunca quis te machucar, nunca quis que aquele acidente acontecesse. - Jasper.
- Espera... Tá dizendo que eu era a garota que você engravidou? Eu tenho um filho? Não pode... Não tem como...
- Me perdoa... - Jasper diz se ajoelhando, segurando minhas mãos.

Uma dor de cabeça avassaladora me atinge, pegando-me desprevenida. Memórias, como folhas levadas pelo vento, dançam em minha mente, cada uma carregada de uma tristeza dilacerante. Caio de joelhos ao lado dele, o coração apertado por um nó de angústia. Em um instante, um flash vívido me transporta de volta ao dia fatídico em que perdi meu filho, e as ondas de dor inundam minha alma mais uma vez.

Lembranças

Acordo em uma cama hospitalar, com dores no corpo e com um pouco de ânsia de vômito, peço para a enfermeira chamar o médico, grito com ela e mando ela trazer meu filho. O médico aparece com um semblante sombrio...
- Sinto muito senhorita Elizabeth, mas não conseguimos salvar o seu filho. - Médico.
- O que? Não! Isso não é verdade! - Grito em prantos.
- Sinto muito, fizemos o possível, mas o bebê estava com algumas complicações e não resistiu. - Médico.

- Enquanto choro ouço alguém gritando meu nome.

- Elizabeth! Elizabeth, você está bem?
Levanto os olhos e encontro Jasper, seus olhos marejados e avermelhados refletem a mesma dor que atormenta minha alma. Abraço-o com uma intensidade que parece querer congelar o tempo, como se aquele momento fosse o último em que nossos destinos se cruzariam. Seus braços envolvem meu corpo frágil, transmitindo uma segurança que eu temia ter perdido para sempre. Eu luto para conter as lágrimas, mas elas insistem em escapar, testemunhas silenciosas de minha dor. Jasper, com sua gentileza característica, acaricia meus cabelos e com cuidado ergue meu rosto, como se quisesse enxugar as lágrimas que inundam minha alma.

- Eu te amo, sempre amei. Não precisa chorar, nosso filho está bem. - Jasper.
- Por que não me contou? Por que guardou um segredo desses? - questiono, a incredulidade ecoando em cada palavra.
-Você estava se recuperando e eu não tinha coragem de contar. Achei que me afastando, te deixaria segura, mas na verdade você estava nos braços do impostor. Nunca pensei que ele seria capaz disso, até porque ele também te amava... - a voz de Jasper falha, carregada de pesar.
- Também estou surpresa, mas isso não apaga o fato de eu ter engravidado e pensado que havia perdido meu bebê, ou de termos planejado fugir juntos com sua mãe para uma ilha.
- Sei que errei por esconder isso, e me arrependo de não ter tido coragem suficiente para ir atrás de você, mas se eu fosse, meu pai descobriria e tentaria matar você, e eu nunca me perdoaria. - Jasper.
- Isso não muda o fato de ter me deixado longe do meu filho, Jasper. Eu nem sei como ele é, não o amamentei nem dei afeto que ele precisava. Nem sei quanto tempo faz que tudo isso aconteceu...
- Faz 4 anos. - Jasper.
- Ah, meu Deus... Eu tenho um filho de 4 anos e mal me lembrava que tinha ficado grávida, como isso foi acontecer? - Digo me sentando no chão.
- Eu também não vejo ele há 1 ano... Minha mãe e o bebê estão morando na ilha e não saem de lá desde que mandei ela proteger ele. Fiquei indo e voltando de lá, contava histórias de nós dois, mostrava fotos suas, mas quando meu pai sumiu eu não tive coragem de voltar, para proteger eles. Não os vejo desde então.
- E agora temos que fazer com que Robert pense que estamos mortos...
- Sim, pelo lado bom, podemos levar sua família para a ilha do meu bisavô. - Jasper.
- Ficou maluco? Se meu pai ver que tenho um filho ele vai tentar te matar.
- Isso não é verdade, a vontade passou há alguns anos. - Meu pai diz há alguns centímetros de nós.
- Pai! - Digo assustada.
- Jasper, vá mostrar aos policiais onde fica a tal ilha. - Meu pai.
- Sim, senhor. - Jasper.
- Você sempre soube? - Digo enquanto ando até os destroços de nossa querida casa.
- Há dois anos, sua mãe foi a uma viagem de negócios, era em Los Angeles. Lá, por acaso ouviu um homem velho rabugento, numa sala, gritando com dois de seus funcionários, ao lado dele estava um jovem rapaz de cabelos ruivos, ele estava machucado e amarrado meio contorcido no chão, parecia que tinha levado uma surra, tinha exatamente o mesmo nome da única pessoa que eu pensava em matar por ter tentado machucar uma das minhas filhas. - Meu pai.
- Jasper...
- Sim. De alguma forma, ele era a pessoa que mantinhamos longe de você, na época não sabíamos que você tinha dado a luz a um bebê. Sem querer sua mãe ouviu o velho dizer o seguinte: " É impossível ela ter fugido com o bebê pra longe, rápido encontrem ela!". Um dos funcionários perguntou a ele quem estava procurando e o velho disse: " Minha mulher, sei que ela está por trás do desaparecimento da criança e também sei que a Elizabeth está em algum lugar escondida". Sua mãe, ouvindo o seu nome, se escondeu e depois de ter certeza de que não haveria mais ninguém no local foi até o pobre infeliz, o desamarrou e perguntou por que estavam atrás de você, ela disse que ele chorou e pediu perdão a ela, contou tudo o que havia acontecido e pediu para que ela protegesse você e a mantivesse longe da escola interna de Wisconsin. - Meu pai.
- Por isso nos mudamos pra cá...
- Sim, naquela época eu pensava que sua mãe estava me traindo, já que ela agia estranho, falava com um homem no telefone e sempre que discutiamos este "alguém" estava no meio, uns meses depois ela me contou tudo. Conversamos e pensamos em contar pra você, mas não tivemos coragem, então fizemos uma documentação nova pra você e pagamos a diretora da escola pra te matricular lá. - Meu pai.
- Espera, o que? Tá dizendo que eu não vou fazer 17 anos? Quantos anos eu tenho?
- Você vai completar 20 anos, dia 26 de Maio... - Meu pai.
- O que? E como fui tratada como criança sendo maior de idade? Por que mentiram pra mim? Pra que fazer uma identidade falsa, vai me dizer que também não me chamo Elizabeth?
- Desculpe, filha. Não queriamos que o pai de Jasper suspeitasse, mudamos sua data de nascimento e alguns documentos com a ajuda de Robert, seu nome de nascimento é Sophie. - Meu pai.
- Robert ajudou vocês, me salvou e agora descubro que ele mentiu pra todos nós. O que mais eu preciso saber?
- Que estamos juntos nessa, nunca vamos deixar nada nos separar de novo. Sophie... - Jasper diz se aproximando e segurando minha cintura gentilmente.
- Como vamos fazer os outros membros acreditarem que Robert é um impostor?
- Temos provas. - Jasper.
- Acho que sei onde encontrar eles.
- Então vamos! - Jasper.
- Vamos com vocês, até porque, nunca vão chegar até eles de pé. - Meu pai diz apontando para o que sobrou dos carros de Jasper e o de Jake.
- Ah, é, tadinho do meu carro... - Jasper diz acariciando parte da lataria queimada.
- Somos dois, irmão... - Jake põe a mão no ombro de Jasper.
- Andem logo, dois maricas. - Meu pai diz enquanto entra no carro e dá a partida.
- Eles estão na quadra de futebol a quatro quadras daqui.
- Tudo Bem. - Meu pai.

Junto de vários carros policiais, chegamos onde os membros estão, todos menos um...

- Lizi, o que foi? - Victor diz parando de jogar futebol.
- Não temos tempo, temos que ir, agora!
- Lizi o que aconteceu? Por que está com esses policiais? - Anderson.
- Como ela disse, não temos tempo, há um impostor, temos que fugir, agora! - Jasper.
- Impostor? - Fergus.
- Explico no caminho...
- Mas e Robert? Ele não veio com a gente. - Sebastian.

Dou de ombros e vou em direção ao carro do meu pai, sem entenderem o que está acontecendo, cada membro escolhe uma dupla e entra nos carros de polícia.
Há cerca de 30 minutos chegamos a um jato particular, todos entram, os policiais ficam dando cobertura, encontramos minha mãe nos esperando lá, como havia dito em uma ligação durante o trajeto.

- Minhas filhas! Jake! Vocês estão bem?
- Estamos... Bem abalados.
- Imagino meus amores, vamos, a mãe de Jasper nos espera.
- A mãe de Jasper?
- Mas ela não estava desaparecida? - Megan.
- Eu achei que o pai dele tinha dado um fim nela. - Victor.
- Entrem no jato, eu prometo contar tudo quando estivermos iniciado o vôo.

A equipe ao redor da aeronave estava agitada, com uma urgência contida. Cada verificação era feita com precisão e rapidez, como se estivessem prestes a desencadear algo poderoso e emocionante.
O piloto, com os olhos fixos no crepúsculo dourado, sentia a energia pulsante que envolvia a aeronave. Seus dedos moviam-se com destreza sobre os controles, enquanto sua mente calculava os detalhes finais do voo.
Então, com um rugido suave, os motores ganhavam vida, rompendo o silêncio da tarde como uma promessa de aventura. O jato tremia levemente, pronto para se elevar e voar em direção ao horizonte dourado.
Com um aceno de despedida para a torre de controle, o piloto estava pronto para levar seu jato particular em uma jornada pelos céus enluarados.

- Sophie, temos que contar... - Jasper sussurra em meu ouvido. Com muita tristeza e rancor, olho para cada um dos meus amigos, minha família.
- Eu sei o que estão pensando, pensam que não é certo vir sem Robert, ou que ele já está no local nos esperando, mas a verdade é que... Ele é um impostor. Ele esteve trabalhando com Matthew, desde a morte de Arteise, ele ajudou no sequestro do pai de Jasper, ele ajudou na construção da máquina e também mentiu pra mim sobre Jasper, ele ateou fogo na minha casa, pensando que Jasper e eu estivéssemos lá dentro.
- Espera, quer que a gente acredite que Robert nos traiu e que ele tentou matar vocês? - Anderson diz com um olhar desconfiado.
- Sei que é difícil, mas temos provas. - Jasper.
- Me mostre, quero ver com meus próprios olhos, não acho que ele faria mal a você Elizabeth, ele é louco por você. - Fergus.
- Até demais... - Alice.

Entrego a eles um notebook com os vídeos das câmeras de segurança do bairro e da minha casa, conto a eles como Robert reagiu ao me ver mais próxima de Jasper, e como ele queria que eu pensasse que Jasper era um inimigo, quando ele mesmo sabia que eu tinha um filho com Jasper, contei sobre as identidades falsas, alguns disseram que também mudaram seus nomes quando souberam que estavam atrás de mim. Contei do dia em que tive de deixar Wisconsin, não havia mais motivos para guardar em segredo, já que todos corriam perigo.

- Estou sem chão... Meu melhor amigo está tentando me matar. - Sebastian fala olhando nos meus olhos.
- E eu então... Que pensava que ele era o cara mais confiável do grupo. - Fergus diz segurando a mão de Amanda.
- Não dá pra acreditar... - Alice diz se jogando no acento.
- Ele mentiu... Disse que sempre cuidaria de nós. - Megan.
- Estou tão abismado que não consigo nem me expressar. - Victor fala com os olhos arregalados.
- E pensar que eu o considerava um irmão... - Anderson.
- Eu não acredito que amei ele... - Digo chorando.
- Seu erro não foi amar ele, meu bem. Você nem sabia o que ele realmente era, nenhum de nós, agora sei quem foi que contou ao meu pai sobre nós, ele era o único que sabia de tudo. - Jasper diz me abraçando.
- Eu sei que estão decepcionados, ele era um de vocês e confiavam nele mais do que qualquer um, mas temos que nos manter firmes, agora temos não só um, mas dois bebês... - Amanda diz meio fadigada e com uma expressão de dor.
- Amor, o que foi? - Fergus diz preocupado.
- Olha! A bolsa dela estourou! - Megan diz apontando para um líquido bem abaixo dos pés de Amanda.

Além de toda essa bagunça, Amanda acaba de entrar em trabalho de parto, em pleno voo, o que vamos fazer? Espero que alguém saiba fazer o parto, o que vai acontecer com o bebê?

Meu Privado Mundo - Parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora