Ao sair daquele motel me bate um desespero, acho que um frio na barriga pois sei que agora devo pensar sobre o que vou fazer da minha vida para sobreviver, e isso era realmente assustador.
Ao caminhar eu pensava sobre tudo, mas sempre que tentava eu lembrava de Nakunta. Por quê? Por quê eu tenho que passar por algo assim? Perder a pessoa que eu amo, já sofria o suficiente com a perda da minha mãe, e agora com a perda do meu melhor amigo... Mas ao pensar nisso tudo, me lembro do nosso último dia juntos, o dia do bar... Que por sinal não acabou muito bem, não sei se esse momento nosso me bate saudade ou raiva.
Dês de pequeno eu sempre tive a curiosidade de saber como era estar bêbado, se você realmente podia fazer coisas por impulso, na minha cabeça não fazia sentido e eu não conseguiria ficar bêbado se eu não fingisse estar. É uma sensação de libertação, você fica corajoso ao ponto de dizer e fazer tudo o que pensa, e não foi diferente comigo e aquele homem desajeitado.
Mas pensando nisso tudo, é mesmo! O bar! Eu poderia ir lá novamente para tentar trabalhar, já que é um estabelecimento pequeno e só trabalha o dono lá, eu poderia ser um ajudante ou alguma coisa do tipo. Mas eu poderia ver Nakunta lá pois ele vai naquele bar, mas que seja, eu preciso disso.
Após algum tempinho andando eu avisto o mesmo, um pequeno bar com sua placa de madeira escrita Bartender, e o restante com uma cor de madeira marrom meio antiga, aquele lugar já era bem antigo julgando pela aparência. E dentro, seu piso queimado e um lugar meio escuro, com algumas lâmpadas que eram fracas quando ligadas pela noite, mas era um lugar bem tranquilo e calmo de ficar, e no balcão havia dois baleiros, aqueles potes antigos que guardavam pirulitos e balas. Eu estava meio nervoso ao falar com o homem, mas ele me conhecia por Nakunta ter falado bastante de mim para ele e pela noite passada, então ele com certeza gravaria o meu rosto.
Eu entrava lentamente no bar bem pelos cantos das paredes, pois não sabia o que exatamente dizer e nem sabia se o homem estava lá, o bar estava vazio pois estava de dia, até que ele se levanta aparecendo do balcão.
-Mas que susto garoto! Chinelinho de algodão você, nem tinha percebido você aqui. Já sei! Você é o mocinho amiguinho do Tatá.
-A... O que seria "chinelinho de algodão"?
-É uma expressão dos antigos, você veio sem nem fazer nenhum barulho, chinelinho de algodão. Minha tia dizia isso pra mim quando eu aparecia repentinamente.
E como era de se esperar, ele me reconheceu. Mas com o tanto de clientes que ele tinha eu não imaginava que ele lembraria de mim em apenas uma noite. Mas que ânimo ele tem.
-Você lembrou de mim. Falo e dou um sorriso.
-O Ta sempre me falava de você, mas ele nunca te trazia pra mim te ver até que comecei a ficar curioso, e até que deu certo. E você é do jeitinho que eu imaginei pelas características que o Nakunta falava, mas eu não imaginei que você lembrava tanto o meu neto. Moreno, do cabelo lisinho e preto com um corte tigelinha e os olhos castanhos e levemente puxado. Quando eu olhei pra você eu até pensei, "nossa", mas olhando agora de dia que está bem mais claro realmente você tá mais parecido ainda com ele, é que meu bar é meio escuro mesmo. Seu nome é alguma coisa com Code né?
-Meu nome é Barcode, prazer.
-Isso, Barcode, um bonito nome aliás. -Meu nome é Tuankon. Você veio ver o Nakunta?
-Era isso que eu tinha para falar pro senhor também, a minha vida tá um caos. Meu pai ameaçou o Nakunta não sei de que maneira que fez ele me bloquear e nunca mais falar comigo, o meu amigo de infância. E por causa disso eu saí de casa porque a gente brigou e eu peguei só algumas coisas e me hospedei em um motel, caso contrário eu dormiria na rua. Eu sei que conhece Nakunta faz algum tempo, não sei se ele conta sobre ele para você. Mas ele te falou algo?
-Caramba, ele não me falou nada sobre isso, mas parece que ele se mudou pelo o que ele me falou, mas não me contou o motivo e ele disse que estava com pressa.
-Merda! Eu queria saber o que meu pai falou pra ele, ele não é de correr assim.
-Com a ameaça do seu pai, faz sentido ele ter se mudado, talvez ele foi forçado a se mudar para você justamente não ver mais ele.
-É uma boa teoria, esse merda sempre interferiu nas minhas coisas.
Mas, eu queria te perguntar uma coisa que talvez você possa me ajudar. Eu não tenho para onde ir e eu preciso de dinheiro, será que eu não poderia trabalhar com você? Eu posso ser seu ajudante, qualquer coisa já vai me ajudar muito, eu posso ser barman, ou posso ser faxineiro, qualquer coisa.
-Bom, meu bar é pequeno, mas eu quero poder te ajudar até porque eu gosto muito do Tatá. Agora eu não tenho mais meu maior cliente que vinha aqui todos os finais de semana, se bem que eu tô ficando velho já e acabo não dando conta de tudo.
-Então isso é um sim? O que eu posso fazer?
-Você vai me ajudar em tudo aqui, entregar as bebidas, limpar o chão, o balcão, e também todos os dias às meia-noite quando quase todos os clientes vão embora, varrer a calçada do bar, pois sempre tem alguém que fuma e joga caixinhas e restos de cigarro no chão.
-Sim senhor, e só uma pergunta, quanto que o senhor vai me pagar?
-50 reais por dia, pode ser?
-Pode! Claro!
Já vai dar pra mim comprar algo para comer até eu conseguir me estabilizar mais para frente.
-Falta pouco para você acabar o ensino médio né garoto? Você estuda de manhã?
-Eu acabei ano passado pois eu era adiantado, eu acabei junto com Nakunta até porque nos conhecemos no colégio.
-Entendi, vem aqui no fundo comigo para mim mostrá-lo o que vai fazer garotão. Essa parte do balcão é onde eu deixo algumas bebidas que são as mais pedidas normalmente, por isso tem algumas por aqui. As que mais pedem são Gin tônica e cerveja, o bar fica mais cheio nós sábados a noite. Aqui tem essa cortina vermelha que as vezes enrosca quando eu puxo para o lado, mas pode puxar que qualquer coisa eu venho e ajeito. Aqui é a parte dos fundos que é totalmente escura e eu nem utilizo, só deixo umas caixas de papelão vazia que são das cervejas.
Aí voltando aqui pra dentro, temos essa porta branca que fica do lado de frente pro balcão que é a cozinha, aqui tem a pia que eu uso para lavar os copos e as taças, e nessa outra portinha aqui dentro da cozinha é o banheiro.
-Tá, mas e as bebidas?
-Verdade, esqueci o principal. Voltando aqui para o balcão, as bebidas estão todas aqui.
Ele empurra uma grande prateleira para dentro do balcão que estava no canto do balcão e tira o pano coberto, e lá estava a diversidade de bebidas.
-Fica bem aqui no meio, eu só ainda não tinha posto no lugar pois não havia vindo ninguém hoje, aí para ir na parte dos fundos é só você passar pelos cantos meio apertado mas dá certo, mas nem usamos ali mesmo.
Agora sim estava que nem na noite que eu tinha ido com Nakunta, com as bebibas, eu sabia que ainda não estava ficando louco, o bar estava até meio diferente sem as bebidas. E depois de ele me apresentar tudo, conversávamos enquanto esperávamos clientes.
-Sabe, eu conheço Nakunta des de quando ele era pré-adolescente, acho que quando ele tinha na sua faixa de 12 anos.
-Ele era um terror na escola essa época, eu até lembro do dia que nós dois acabou parando na diretoria por ter jogado papel higiênico molhado no teto.
Estavamos em uma aula muito chata mas não lembro qual era a matéria, aí ele me chamou para irmos ao banheiro e eu topei para andarmos um pouco. Quando chegamos ao banheiro ele nem sequer usou o banheiro e muito menos eu também, até que ele teve a idéia brilhante de começarmos a jogar papel molhado na parede e no teto, e tudo isso porque uns dias atrás no recreio a gente viu alguns meninos fazendo a mesma coisa e ele teve a idéia de reproduzir. E é claro que eu participei junto com ele, mas bem quando eu me virei para irmos embora eu só vi uma mulher que nem a minha professora ela era, ela viu tudo, a gente tentou escapar dando desculpas mas com certeza não rolou com ela, e ela levou nós dois para a diretoria e chamaram nossa professora, e ligaram para nossos responsáveis.
E essa época foi quando ele conseguiu mudar de sala só para ficar comigo, foi muito engraçado esse dia. Minha mãe tinha ficado um pouco brava comigo mas pelo menos nos divertimos, foi uma das nossas primeiras diversões.
-Se não estou enganado acho que ele já me contou algo assim, nessa época vocês tiveram algum aniversário de algum aluno na escola?
-Acho que sim, foi o aniversário de uma menina, por quê?
-É porque uma vez ele veio com um saquinho de lembrancinhas de aniversário, e ele estava com um anel de plástico que vinha nas lembrancinhas e me falou que queria dá-lo para uma pessoa que ele gostava, mas depois disse que desistiu pois não tinha coragem e não era simples como outros casos. Ele me falava de uma pessoa que ele gostava muito mas nunca queria me dizer quem era, eu até achava estranho isso pois ele sempre foi tão aberto para as pessoas.
-Caramba, de quem será que ele gostava? Ele nunca falou nada desse tipo para mim, agora estou até chateado, anos de amizade e ele nunca contou nada. Mas para mim, ele sempre foi uma pessoa que nunca se preocupou em relacionamentos.
-Ele foi uma das minhas maiores companhias nesses últimos tempos, principalmente porque eu moro sozinho e trabalho só eu aqui nesse barzinho, e eu já sou um velho com mais de 50 anos.
-Nakunta é bem legal mesmo, ele sempre deu atenção para todos.
Alguns clientes começaram a entrar aos poucos, até que o bar começou a se encher, e eu percebi que o senhorzinho desse bar é bem conhecido por aqui. Agora era hora de esquecer Nakunta e começar a trabalhar.
-Boa noite senhores, o que desejam?
-Boa noite, uma garrafa de cerveja grande para nós por favor.
Eu estava meio nervoso por receio de fazer algo de errado ou ser muito lento, mas eu mantia minha cabeça erguida.
Pego a garrafa e alguns copos que tinham nas gavetas na parte de dentro do balcão. Era tudo bem rápido pois o senhor fazia tudo bem ligeiro, ele serviu bem mais do que eu, mas eu estava indo bem até para quem estava no seu primeiro dia.
-Aí menino, venha aqui. Me sirva uma garrafa de vodka com dois copos fazendo favor.
-Aqui está, saindo no capricho.
Alguns clientes não eram tão educados quanto outros, mas isso fazia parte.
Já era bem tarde, e como no bar a venda de cigarros é alta, estava muito sujo e principalmente a calçada. Os clientes já tinham ido embora, só estavam dois homens, mas eu já comecei a varrer e arrumar as mesas enquanto o dono levava os copos para lavar. E quando fui varrer a calçada estava bem frio lá fora, o senhorzinho me pagou os 50 reais e eu fui até um mercadinho que ficava aberto 24 horas, depois de ter comido que me toquei que eu não tinha onde dormir. Isso estava sendo tão humilhante, eu apenas me deitei ao lado do bar perto de uma árvore usando minha mochila como travesseiro.
-Ei garoto, o que está fazendo?
Eu me assusto com o senhorzinho me olhando enquanto fechava o bar, eu nem tinha o visto.
-Eu não tenho para onde ir senhor, como eu já lhe disse eu saí de casa.
-Eu não posso te deixar aí... Você quer dormir nos fundos? Lá é mais quente, eu lhe dou um cobertor.
-Não precisa se preocupar.
-Vai logo garoto, você pode dormir lá.
Eu nem sabia como agradecer a bondade dele, eu lhe dou um abraço sincero. Ele confia em mim para me deixar dormir dentro do bar dele, e eu não traíria a confiança dele.
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Cinquenta tons de cinza: Conde Jeff
Vampire"Se não aceitas ser meu submisso e minha presa, serás de qualquer maneira".