Um gosto de liberdade

11 2 0
                                    

Enquanto procurava por objetos que o ajudasse-o a fugir, os olhos de Barcode varriam o quarto loucamente sem nem pensar muito sobre tudo aquilo. Pois como sempre a todo o início de suas crises existenciais, fazem suas reflexões de sua merda de vida se unirem tornando uma bola de neve. Ele já havia examinado cada canto, móvel, cada objeto. Mas não encontrava absolutamente nada de útil.
Barcode mais uma vez sente a frustração o corroer, estava preso ali sem saber o porque, e era a mesma desgraça de morar com seu pai. O quarto era uma cela, uma prisão sem grades, mas igualmente opressora.
Ele caminhava de um lado para o outro, sentido as paredes se fecharem sobre ele. Cada passo ecoava em sua mente como um lembrete de impotência, o silêncio era ensurdecedor, apenas interrompido pelo som de sua própria respiração.
Seus pensamentos giravam em círculos, tentando raciocinar o que havia acontecido. Ele havia sido trancado ali, por quê? O que aquele filho de uma puta queria dele?
A falta de respostas o consumia, fazendo sua mente trabalhar em sobretempo. Ele sentia como se estivesse enlouquecendo, e realmente estava a um passo, preso naquele quarto sem esperança.
A janela, uma fresta de luz no meio da escuridão, apenas o fazia lembrar da liberdade em que foi tirada, a porra da liberdade que ele nunca teve na realidade. A palavra "liberdade" para barcode era apenas letras no Aurélio.
A cada minuto que se passava, sua frustração crescia. E no fundo ele sentia que esse homem não era normal, estava na cara, por essa estranheza toda. Ele precisava encontrar uma saída, precisava descobrir a verdade. Talvez seria só deixar a porta como Jeffrey, arrombado. Mas não era apenas isso que seu interior sentia, não era esse tipo de liberdade apenas. Era o viver, e se fugisse, não seria para a mansão de seu pai que voltaria. Já que estava no inferno, que abrace o capeta. Sua vida o deu tantas pancadas que dessa vez o enlouqueceu totalmente, Barcode teria a certeza absoluta que Jeffrey tinha algo dissemelhante a um humano louco mesmo.
E foi então que ele começou a procurar objetos para fugir, forçando determinação.
Até que lembra-se do dia em que zombou de Jeff no bar, talvez seria só por isso que ele estaria pagando? Ele seria um homem vingativo a esse ponto? Tem algo a mais nisso, o que ele iria querer com um garoto de 17 anos? Será que ele desejaria algo a mais... Você já está indo longe demais, Barcode.
Ele parou diante da janela e olhou para fora. A noite estava escura, mas ele sabia que havia respostas lá fora, esperando por ele.
Barcode deixou-se cair sobre a cama, sentindo o peso de sua existência. Lamentou sobre a vida que havia levado, sobre as escolhas que havia feito, sobre o destino que lhe havia sido imposto.
"Por que tudo isso?", perguntou-se, com lágrimas nos olhos. "Por que minha vida tem que ser assim? Por que meu pai nunca se importou com nada?".
Ele sentia uma dor profunda, uma sensação de vazio que não conseguia preencher. A mansão, que outrora havia sido um símbolo de luxo, agora havia se tornado o seu segundo pesadelo.
"Eu não quero mais viver assim", disse ele, com a voz trêmula. "Eu não quero mais ser dono desta vida de merda".
Ele pensou em todos os momentos que havia perdido, em todas as oportunidades que havia deixado passar. E claro, que isso havia a trazer Nakunta em sua mente. Devia ter ido atrás dele dês do começo, antes de isso tudo acontecer. Mas esse homem poderia exalar sua possessão de longe, e não queria arriscar qualquer coisa se quisesse poupar sua vida, mas esse não viria ao caso. Pensou em como sua vida poderia ter sido diferente.
Barcode sentiu uma onda de desespero envolvendo seu ser, mas então, o nome de Nakunta ecoou em sua mente.
O pior é que ele não fazia idéia disso tudo.
Seus olhos pararam no guarda-roupa. Talvez pudesse ter algo dentro que pudesse ser útil. Mesmo sabendo que não teria nada lá dentro, ele se aproxima e começa a revirar as gavetas, procurando por qualquer coisa que pudesse ser usada como ferramenta.
Nada.
Frustrado como não era mais novidade, ele desconta sua ira empurrando o guarda-roupa com força como se quisesse deslocá-lo. E como resultado de seu surto ele pode escutar um tilintar de como se fosse várias garrafas de vidro se chocando.
Ele puxa aquele guarda-roupa curioso se deparando com um expositor de diversos vinhos latinos e europeus. Domaine de la Romanée, Château Ausone.
O engraçado era que a única garrafa de Torrontés, vinho branco estava lacrada. O que leva a uma pessoa ter tantas marcas de vinhos tinto? Escondidas.
O expositor de vinhos era uma verdadeira obra de arte, um testemunho da elegância e do refinamento que dantes havia reinado a mansão. O expositor parecia um relicário, guardando segredos e histórias de uma época passada.
A madeira escura e polida do expositor contrastava elegantemente com o brilho suave dos vinhos, cujas palavras estavam dispostas em prateleiras intricadamente entalhadas. O empó que cobria as garrafas e o expositor adicionava um toque misterioso de abandono, como se o tempo tivesse parado ali.
A luz fraca que penetrava pela janela próxima iluminava o expositor, criando um efeito dramático que realçava a beleza das garrafas.
Cada uma delas era uma obra prima, com rótulos elegantes e selos de cera que pareciam celar segredos.
A beleza do expositor também residia em sua capacidade de evocar emoções. Code sentia-se transportado para um lembrete de que, mesmo em meio a solidão e o abandono, ainda havia espaço para a beleza e a elegância.
Enquanto contemplava o expositor, ele sentia uma sensação de paz de tranquilidade, o vinho poderia se tornar um refúgio, um lugar onde ele podia se esconder das preocupações e dos desafios do presente.
O expositor de vinhos empoeirados era, assim, mais do que apenas um objeto decorativo. Era um símbolo de uma época passada, um testemunho da beleza e do refinamento que ainda podiam ser encontrados em meio a toda escória.
O fato de os vinhos estarem escondidos atrás do guarda-roupa era algo intrigante. Por que alguém iria esconder uma coleção de vinhos tão valioza e refinada atrás da porra de um guarda-roupa? Não seria mais lógico exibi-los em uma sala de jantar onde pudessem ser apreciados e compartilhados?
Barcode olha fixamente para o vinho branco lacrado, e o pega espanando a garrafa de aparência avelhantada.
Ele leva a garrafa em seus lábios, sentindo o saibo que fazia contraste entre a harmonia de sua docura e acidez.
"Isso é tão bom... Eu quero fugir dessa realidade cruel."
E assim se vai a garrafa inteira, já meio bebado o garoto pega uma segunda garrafa dessa vez de vinho tinto para prova-la. E ao ver seu rótulo:
Outubro de 1851.
O que? Jeff deve pagar caríssimo em uma garrafa totalmente antiga para coleciona-la onde ninguém caralhos irá ver, eu realmente não entendo.
Que seja, quando Barcode aproxima a garrafa próximo aos seus lábios sem nenhum receio de que morresse, é interrompido pela voz do maior.
-O que você fez? Jeff pergunta incrédulo.
Sua voz ressoando como um trovão, e ao mesmo tempo surpreso.
Você ousou a beber do vinho tinto? A voz do maior era tão autoritária que Barcode gaguegajava ao responder.
-Eu infelizmente só consegui tomar do branco, agora que interrompeu.
Ele se aproxima do menor, sua figura imponente e aterradora. Sua expressão entregava sua ira intensa através daquela pele pálida que parecia quase translúcida.
-Por muito pouco, aqueles vinhos são reservados para um propósito específico, e você quase os bebeu como se fossem um simples refrigerante.
Barcode estava meio embriagado, mas ainda estava consciente.
-Pare de ser chatinho Jeffrey, o que poderia ter de tão importante para você esconde-los atrás de uma merda de um guarda-roupa? Já não basta ter me prendido aqui injustamente, seu otário. Se você acha que tem o direito de fazer o que bem quiser, você está muito enganado. Eu não sou nada seu para você fazer isso, seu lixo.
-Você é sim, é meu empregado.
-Mas não seu escravo, e aliás, eu me demito.
Mais uns goles e o álcool se manifestaria bem pior.
Jeff segura no rosto de Barcode brutamente, sua pele afundava enquanto a pressão não permitia sair sequer uma palavra.
-Vou te mostrar quem é que manda aqui.
O homem agarrou-o com uma força sobre-humana e o arrastou até um porão da mansão. A escada era estreira e escura, e o ar estava carregado de um cheiro de mofo e decadência.
O menino tentou resistir, mas além de o  homem ser demasiadamente forte, ele estava sobre efeito do álcool.
Totalmente imponente, Barcode é acorrentado com correntes grossas e resistente envolvidas em seus pulsos e tornozelos.
-Você se questionando sobre tudo me faz rir, ah, Barcode Tinassit. Será realmente necessário tomar medidas severas para você se ajeitar?
"Merda... Como ele sabe meu nome?"
-E agora você terá que merecer para ser solto, mas, você assim preso não é nada mau.
"Que porra ele tava falando?"

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: a day ago ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Cinquenta tons de cinza: Conde JeffOnde histórias criam vida. Descubra agora