II

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Alma.

É aquela que dança por entre os frágeis ossos do meu corpo. É quem abraça a mortalidade do nosso ser. É aquela que veste os nossos sentimentos com elegância. É etérea. É a parte da gente dentro de um sonho. É o nosso corpo em outra vida. É quem mora na nossa essência.

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POV: Caetano

Ao abrir os olhos, percebi o grande espaço vazio ao meu lado, significando que Chico já levantara. Pensei em fazer o mesmo; Pensei em ir tomar café com os outros, mas minha cama estava confortável de mais para sair dela. Escutei batidas na porta, não fui abrir. Apenas disse, com um fio de voz, que podia abir. Logo foi aberta. Era Gal.

— Meu bem ! Levante.

— Quero não. — resmunguei, me aconchegando mais nas cobertas.

— Bora Caê, levanta. Todos já estão de pé. E já são 11 horas.

— Não. Cê não quer ficar aqui comigo? Tá gostosinho.

Um lindo sorriso se formou no rosto de Gal, que acabara de se deitar ao meu lado.

— Essa cama tem o cheiro de Chico. Ele usa um perfume forte, né? — disse ela.

Acabei rindo.

— Tem, Gal, tem sim. Imagine eu, dormindo com esse cheiro forte em meu nariz.

— Mas não é ruim não, hein. E me conte, o que vocês fizeram de madrugada? — me deu uma cutucadinha.

— Nada ! Nada mesmo.

Gal iria dizer alguma coisa, porém, Bethânia apareceu na porta.

— Eu disse pra você acordar o Caê, não pra se juntar a ele. Caê, você não vai levantar?

— Não.

Depois de Bethânia e Gal pedirem pela milésima vez eu levantei.

Pus uma bermudinha azul e uma camiseta branca. Não penteei os cabelos, apenas fui.
Ao descer, vi apenas Toquinho sentado à mesa.

— Bom dia, Caetano. — disse o paulista.

— Bom dia. — Respondi.

Baixinho se ouvia um violão. Tocava, tocava e eu não entendia. Eu tentava encontrar de onde vinha. Logo descobri quando vi Chico sair de uma salinha com um violão na mão. Estava com um semblante abatido. Caminhou até a mesa para falar com Toquinho.

— Que cara é essa, Chico? — Toquinho lhe perguntou.

— Eu não consigo compôr nada. — puxou uma cadeira e sentou-se. — Não consigo nem cantar.

— Mas trancado é que você não vai conseguir mesmo, né? — Disse Gal, colocando suas mãos nos ombros do carioca e lhe dando um beijo na bochecha.

— Gal tá certa, Buarque. Por que vocês não sentam lá fora? Vão vocês três.

— Boa, Bethânia. — Disse Toquinho — Bora, Chico. Bora Caê.

Chico olhou em meus olhos, era como se perguntasse se eu iria. Assenti com a cabeça e levantei-me, e assim fomos para o quintal.

Sentamos em uma sombra. Chico dedilhava o violão e melodiara as canções que vinham na mente.

— Caê, qual música do Chico você gosta? — Toquinho perguntara.

— Todas. Mas minha favorita é Samba e Amor.

Chico abriu um sorriso meigo. Começou a tocar os acordes e começamos a cantar juntos.

— " Eu faço samba e amor até mais tarde... "

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