VII

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eudaimonia.

é como se chama a sensação de ser tomado por um sentimento bom sem explicação. é aquela vontade de viver que surge quando menos se espera e mais se precisa. é o universo nos dando um abraço de esperança. é sentir que somos o melhor de nós. é aquela sensação de ano-novo de que tudo pode ser melhor. e é.

POV: Caetano

Me encarava no espelho. Um tanto difícil, pois estava embaçado por conta do vapor da água quente, eu tinha acabado de tomar banho. Meus pés doem, minhas pernas, tudo dói, até o peito. Apoio-me na pia até conseguir sair do banheiro úmido. De repente tudo escurece, tudo treme.

Só penso que Gal vai ficar chateada. Ela gosta muito do Chico, entretanto, não acha que as atitudes dele são as melhores. Eu acredito que ele poderia mudar, por mim. Eu também reconheço que, depois do divórcio, Buarque virou um canalha; Saía em todas as revistas com famosas, moças sempre esbeltas e muito conhecidas. Imagine então as moças que ele se encontrava no sigilo...

Eu ouvia ele bater na porta, batia fraco, falava suave.

- Caê... Tá ficando tarde, amor...

- Já vou.

Será que ele sente algo por mim? Ou será que ele me vê apenas como um ficante...?
Abri a porta do banheiro e o vi com os cabelos bagunçados, a camisa sobre o ombro e com um sorriso bobo de orelha a orelha, e eu sorria de volta. Chico me abraçou, senti seu corpo gelado arrepiando meu corpo quente.

- Eu gosto muito de você, sabia? - ele diz baixinho.

- Pois saiba que eu gosto mais. - eu e ele rimos, ainda abraçados.

O carioca separou a abraço para me olhar nos olhos, ele segurava meu rosto e acariciava com o polegar. Eu gosto dele, só não confio...
Chico me deu um beijo na testa e deu um passo para trás.

- Tchau, Caê.

- Tá me expulsando? - pergunto brincando.

- O quê? Não, claro que não... você disse que precisava ir, porque Gal iria brigar e blá blá blá!

Eu só fiz rir dele e da sua expressão confusa.

- Eu sei, só estou brincando.

Chico revirou os olhos e sorriu. Eu caminhava em direção à porta... até que senti uma forte dor no peito, uma dor horrível. O mais novo percebeu minha expressão de dor e caminhou até mim.

- O que foi, Caê? O que você está sentindo?

- Nada... é besteira.

- Besteira nada!

- Uma dor no peito, só isso.

- Vamos, eu levo você para casa.

- O quê? Não, não... Gal vai comer seu rim, Chico...

- Que coma! Eu não vou deixar você dirigir assim, vai que acontece alguma coisa contigo... O que vai ser de mim depois disso, hein?

- Deixe de ser tolo, bicho... eu tô bem, já disse. - Respiro fundo e arrumo a postura. - Ó, já passou, viu?

- Na-na-ni-na não! De maneira alguma você vai sair assim, Caetano. Bora, eu explico à Gal... sei lá, eu dou meu jeito.

A teimosia de Chico me fez ceder; sendo assim, deixei que dirigisse. Ele me olhava de relance e continuava a dirigir. A preocupação esboçava o rosto do moreno, e de vez em quando ele perguntava se eu estava me sentindo melhor. Eu só murmurava um "aham". O carioca tocou meu ombro em um gesto de carinho enquanto mantinha os olhos na estrada, e mais uma vez ele perguntava como eu estava me sentindo; dessa vez eu não respondi, eu apenas suspirei baixo.

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