IV

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desejo

na língua inglesa vira wish, e na nossa língua vira beijo. é o que eu sinto quando meu carro vira na esquina da sua rua mas eu não vou te ver. nome do ritmo que meu coração bate ao te encontrar. quando você tem planos tão grandes que não cabem no querer. se eu tivesse três, pedia você três vezes.

    

POV: Chico

A casa estava em completo silencio; não se ouvia voz alguma. Os baianos voltaram para Salvador, Tom e Toquinho foram só para acompanhar. Eu estou acordado faz alguns minutos, mas continuo do mesmo jeito, olhando para o teto branco.

Depois de minha barriga roncar de fome obriguei-me a levantar. Calcei as pantufas que estavam do lado de minha cama e saí do quarto.

Passei pelo quarto de Caetano, a porta estava entreaberta. A cama estava esticada e as janelas abertas, iluminando todo o quarto com a forte luz do Sol. Entrei no quarto que até então eu acreditava estar vazio, porém, assustei-me ao ver o baiano sair do banheiro.

— Bom dia ?

— Ah... é... oi

O moreno deu uma risadinha.

— O que tu tá fazendo aqui ?

— Nada ! Eu só... Nada. Desculpa.

— Não tem que se desculpar, bicho ! 'Cê não fez nada. Senta aí, quer conversar ?

Ele me desconcerta facilmente.

— Achei que você tivesse ido embora.

— Eu ia, mas eu vou ir pra Sampa. — abriu um sorrisinho de canto.

— Você quer café? Eu faço.

— Claro, benzinho !

Caetano e eu descemos para a cozinha. Nem as funcionárias da casa estavam lá, Tom as dispensou ontem à noite.

Eu não sabia puxar assunto com o moreno, e isso deixava o clima pesado.

— Você quer café com açúcar ou sem?

— Com, por favor. — sorriu meigamente.

— Caê... o que você acha de ir pra São Paulo hoje?

— Com você?

— Claro ! Quero te levar em um restaurante novo.

— Está me chamando pra um encontro?

Senti minhas bochechas queimarem levemente.

— Talvez.

O café estava horrível, fraco e doce; mas Caetano gostou, isso que importa.
Sentei-me no sofá e peguei um livro. Li algumas páginas até o baiano descer as escadas com uma mala de mão.

— Tá fazendo o quê?

— Lendo. E essa mala aí?

— Ué, a gente não vai pra São Paulo?

— De noite, Caê.

— Aah ! E a gente vai fazer o que nessa casa? Tem nada aqui. — se jogou no sofá.

— Sei lá. — tentei continuar minha leitura.

O baiano deitou em meu ombro.

— Chico... Bora dar um pulinho na praia... por favorzinho — choramingou.

Fechei o livro e coloquei no sofá.

— Vamo'.

Caetano deu um pulo do sofá. Fomos o caminho todo rindo e conversando. As pessoas nos olhavam de todos os cantos.

Quando estávamos chegando perto da praia, Caetano correu até a areia quente; tirou os sapatos e sentou.

Caminhei até ele e sentei ao seu lado.

— Que calor !

— Eu gosto.

O moreno se pôs de pé e tirou a blusa, ficando só de bermuda. Caminhou até a água, e eu admirava seu corpo magro e bronzeado. Me chamou com a mão e até ele fui. Fiz o mesmo que ele, fiquei só com as roupas de baixo. A água estava uma delícia. Não demorou muito para eu começar a brincar. Fiz uma concha com a mão e toquei água no moreno.

— Chico ! — Fez o mesmo.

No meio disso, abaixei-me e fiquei por baixo d'água por alguns segundos. Caetano se preocupou e começou a me chamar repetidamente.

Logo saí da água, com os olhos queimando por conta do sal.

— Porra! me assustou... Não quero mais brincar — saiu da água.

— Caetano — Corri atrás dele — desculpa...

O mais velho se virou e me deu um empurrãozinho.
A praia ficava mais cheia, mais gente chegava, mais olhadas sobre nós; até que Caetano disse para irmos embora. Assim fizemos.

Em casa, Toquinho e Tom já haviam chegado.

— Onde estavam?

— Preciso responder? — disse eu, com os pés e os cabelos sujos de areia.

Subimos até os nossos quartos e nos limpamos da praia.

Terminei o meu banho e bati na porta do quarto dele. Ele não abriu. Pensei em bater novamente, mas virei-me em direção à escada; até que ele abriu a porta.

— Chico?

— Oi... Eu posso entrar? — não sei de onde tomei essa coragem.

— Claro ! — sua boca curvou-se num sorriso largo.

Eu entrei e o moreno deu um passo para trás.

— Tô terminando de arrumar o cabelo. — caminhou até o banheiro do quarto. Eu o segui.

Cheguei tão próximo que o moreno virou-se para mim. Nossos rostos ficaram tão próximos que era possível sentir nossas respirações juntas. Rocei meu nariz no dele e o beijei. Com medo, mas desejo. O baiano segurou em minha nuca e intensificou o beijo.
Eu o puxei pela cintura, juntando seu corpo com o meu.

Eu nos levei até o quarto, sem separar do beijo. Eu queria amá-lo mais... porém, não sei se estou pronto pra isso.

O moreno tirou a jaqueta que eu usava, não o impedi. Me separei do beijo e tomei um ar.

— Calma — Disse eu, ofegante. — preciso respirar.

Caetano sorria, abraçado em meu corpo.

Eu o olhei nos olhos e voltei a beijá-lo. O choque atravessou meu corpo quando ouvimos batidas na porta. Arregalei os olhos, senti minhas mãos gelarem.

Caê esticou a roupa com as mãos e abriu a porta. Era... Gal?

— Gal ! Você não tinha ido embora?

— Eu ia, meu amor. Mas não quis deixar você sozinho. — a baiana olhou em volta e seus olhos encontraram os meus.

Senti minhas bochechas queimarem de vergonha.

— Oi, Gal.

— Oi, Buarque. Acho que estou atrapalhando, né?

Nem eu nem Caetano dissemos nada, apenas nos olhamos. Gal saiu.

— Relaxa, Chico.

     ✶

Arrumamos as malas no porta malas do meu carro. Caetano se despedia de Tom e Toquinho; Gal disse que iria pra São Paulo conosco.


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