XI

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dengo.

é meu par no forró (mesmo sem eu saber dançar). é quando meu corpo se esquenta com sua risada rouca e seu sotaque forte. é como eu chamo o seu abraço quando é comigo dentro dos seus braços. é o nó que fazem os seus cachos com nós deitados no mesmo sofá. é dividir o colchão com você em dias ruins de se levantar, é o ser mais bonito que eu tive a sorte de conhecer, me disseram Ana e Vitória. então o meu só pode ser você.

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Cinco meses depois...

Caetano havia comprado um apartamento num bairro pouco movimentado de São Paulo. O carioca não morava tão longe, então o visitava sempre que podia. Toquinho ficou morando na casa de Chico, já que o mesmo mal passava em casa, apenas duas vezes por semana, às vezes, nem isso.

Era uma noite calma, nem tão quente, nem tão fria; o ambiente era iluminado por um abajur amarelo, deixando um conforto na casa. Caetano estava deitado no assoalho de seu apartamento, ao lado de Chico. Ambos sem camisa, apenas com suas partes de baixo. O carioca usava calças jeans, enquanto Caetano só usava uma cueca preta.

Na vitrola, tocava o disco "A Cena Muda" de Bethânia; a música em questão era "Demoníaca".

— Essa é minha favorita. — Caetano murmura.

O baiano cantarolava algumas partes da canção, Chico o olhava, mesmo com a iluminação débil.

Espelho meu, existe alguém pior que eu? — O baiano canta, seus olhos encontram os de Chico. —  Espelho, espelho meu, existe alguém mais terrível do que eu?

Chico sorri, o baiano retribui.

— Você canta bem deitado. — Chico diz, a voz rouca por ficar algumas horas em silêncio.

Caetano ri.

— Você acha?

— Sabe que sim?

Caetano se aproxima de Chico, deitando sua cabeça sobre o peito desnudo. Seus dedos brincam no colar de Chico, ou melhor, o colar de Carolina.

— Chico, cê gosta de mim?

— Gosto. Gosto muito, você sabe.

— Por quê?

— Por que eu gosto de você? Sei lá, seu jeito é diferente, mas é um diferente bom. É único.

— Eu queria que pudessem saber, Chico...

— Ah, e você nem imagina eu.. — Ele acaricia os cabelos do baiano.

Chico ficava encarando o teto. Ele ficava mais pensativo do que qualquer outra coisa, talvez, às vezes, pensativo demais.

O baiano ficava encarando o rosto do outro homem, o observando em cada detalhe. Os cabelos, a pequena falha na sobrancelha esquerda, os lábios, o rosto e o olhar pensativo de Chico.

— Pensando no quê? — Caetano pergunta baixinho.

Chico, então, fecha os olhos, soltando um suspiro longo antes de voltar a olhar para o baiano.

— Ah, não sei.. Você. Nós.

Caetano levanta a cabeça, apoiando seu queixo sobre o peito do carioca, encarando diretamente os olhos de Chico. Ele se aproxima, deixando um beijo na bochecha do mais novo.

— Eu? Por que está pensando em mim?

Chico ri baixinho, levando uma mão até os cabelos escuros de Caetano.

— Você é incrível, é impossível não pensar em você.

O baiano ri em retorno, voltando a afundar a cabeça no peito do carioca.

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