III

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sintonia

é quando o nosso santo bate. é aquilo que fez a gente ter um mês de amizade e parecer dois anos. é querer ver o mesmo filme. é quando a gente se encontra no mesmo lugar sem marcar. é suspirar ao mesmo tempo. é um aperto de mão entre duas almas. é o som da harmonia entre duas vidas. é sintonizar na estação de outro alguém.

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POV: Caetano

Estávamos novamente em uma daquelas reuniões chatas de compositores. Gente importantíssima, amigos de Tom. Muitos me cumprimentavam, outros olhavam torto. Meu foco era Chico, que jogava sinuca, bem longe de mim. Algumas vezes trocava olhares comigo, mas seu foco se mantinha no jogo.

Jogava com Milton e Toquinho. Das quinze jogadas, oito foram vitórias do carioca.
Era impossível tirar os olhos dele. Chico fica uma delícia quando está concentrado.

Ontem à noite foi deveras incrível. Dormira agarrado em meu corpo, como se fôssemos namorados. Eu poderia ter atacado sua boca e lhe feito muito feliz, porém, não sei se ele gostaria.

Após Buarque ganhar sua nona partida, desistiram de continuar o jogo. Ótima brecha para poder me aproximar. Caminhei rápido até ele, que organizava a mesa de sinuca.
Ele ficara sozinho.

— Me ensina?

— O que?

— A jogar.

— Claro. Vem aqui — disse o carioca, me chamando para perto de si.

Me deu o taco e indicou qual bola eu deveria encaçapar. Fui fraco, a bola quase nem saiu do lugar. Após uma risada ele decidiu me ajudar.
Chegou por trás, agarrou em minha cintura e inclinou-se comigo para jogar. Sentia seu corpo juntando com o meu, logo sua respiração no pé da minha orelha.

Durante as jogadas ele parecia me seduzir. Repetia com uma voz aveludada e quase num sussurro " isso aí, Caê", me arrepiando inteiro.

— Desse jeito eu não consigo jogar.

— Ah, desculpa... — o rubor logo subiu sua face.

— Não tem problema. Eu até que gostei. — virei-me e continuei a jogar.

Chico, após alguns minutos, sentou-se na mesa.

— 'Cê sabe que eu não posso.

— De novo isso? O que é que você não pode? E por quê?

— Não posso me relacionar com você. Entenda, eu não sou...

— Viado?

— Não era isso que eu queria dizer.

— Era isso sim ! — Joguei o taco na mesa e me dirigi até o salão.

Corri dele, tentando esconder-me no meio das pessoas. Mas logo percebi que ele corria atrás de mim.
O carioca pegou-me pelo braço e me puxou até o banheiro, quase do outro lado do salão. Me empurrou para dentro e trancou a porta.

— Você está louco!? — o empurrei.

O moreno jogou-me contra a parede e segurou meus braços.

— Eu me seguro pra cacete, Caetano. Você nem imagina. Se eu pudesse eu atacava sua boca a cada minuto do dia. Passar esses dias aqui com você está sendo impossível. Eu quero te ter só pra mim. — quando terminou de falar, o moreno se aproximou e tocou nossos lábios num beijo rápido. — Mas eu não posso.

E saiu.

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POV: Chico

Não sei de onde tirei essa coragem. Eu desejo muito ter Caetano, mas como já disse, não posso. Tenho certa curiosidade em saber como é ficar com homens, porém, prefiro não matá-la. Agora são 03h44, ótimo pretexto para sumir do salão.

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