Tem os olhos cheios de esperança
De uma cor que mais ninguém possui
Me traz meu passado e as lembranças
Coisas que eu quis ser e não fuiOlha, você vive tão distante
Muito além do que eu posso ter
Eu que sempre fui tão inconstante
Te juro, meu amor, agora é pra valerOlha, vem comigo aonde eu for
Seja meu amado, meu amor
Vem seguir comigo o meu caminho
E viver a vida só de amor⠀⠀ ✶
Faz exatos três dias que Caetano e Gal foram embora, sem ao menos um "tchau".
Foi um susto, acordei com a janela aberta, trazendo o vento frio da rua para dentro do quarto. Procurei por toda a casa, nem malas, nem roupa, nem um bilhete. Ele também não me visitou, não me ligou, não me procurou. Agora eu estou jogado no chão, sentindo o gelado do piso. Ao meu lado tem um cinzeiro e duas garrafas. Mantenho os olhos fechados enquanto fumo, não quero olhar para o teto, nem para os lados. Não tenho me alimentado direito, afinal, quem é que liga? Assusto-me ao ouvir o telefone tocar. Eu apenas o ignoro, deixo tocar. Quando parou, fechei os olhos novamente. E tocou mais uma vez. Com certa dificuldade eu levantei, fraco, machucado.- Alô?
- Fala, Chicão ! Como você está, cara ?
- Ah... - logo percebi quem era - Oi, Fernando. Estou bem, e você ?
- Eu tô na mesma. Soube que 'cê não tava na cidade, né ? Tá querendo conversar ?
- Não, tô de boa.
- Mesmo ?
- Claro.
- Chico... - Ele me chamou.
- O quê ?
- 'Cê quer conversar ?
- Querer eu não quero, mas acho que tô precisando. - eu o ouvi rir do outro lado da linha.
- Certo. Na praia ou no café ?
- Tá frio, melhor tomar um café, não?
- Você quem manda. Espero você lá.
Fernando era aquele que eu considerava pai. Logo após o divórcio, mamãe achou que o melhor para mim era ter alguém para conversar sobre os meus problemas mais pessoais. Ela ligou para ele e sem hesitar começou a me visitar, me indicou remédios e assim eu fui "melhorando". As nossas visitas começaram a diminuir com o tempo, mas até que eu gosto dele. Fernando sempre foi muito espontâneo, sempre alegre e nunca teve medo de falar o que é a verdade. Tudo que eu gostaria de conversar com meu pai eu conversava com ele.
Entrei debaixo da água quente. Deixei escorrer para tirar todo o suor do meu corpo. Lavei os cabelos e fiz um montão de espuma, como uma criança. Olhava para as "marcas do Caetano" que ainda estavam no meu corpo: Os arranhões e os chupões no interior da minha coxa. Quase não dava mais para ver, mas ainda estavam lá.
Quando me julguei limpo saí. Pus uma blusa comprida e um casaco. Passei um perfume forte que combinava com o clima frio e nublado. Fui caminhando até a cafeteria onde eu costumava me encontrar com Fernando.
Que péssima ideia vir andando. As pessoas me olhavam e cochichavam entre elas. Não sei se pela minha aparência horrível de bêbado, ou se era por ser eu alí, andando como se não fosse o que eles consideram celebridade.
De longe eu via a cafeteria, com as luzes acesas em plenas cinco horas da tarde, estava escuro na rua, iria chover muito. Finalmente achei Fernando, que lia um jornal enquanto me esperava.
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solitude
Fanfiction"Preciso conduzir Um tempo de te amar Te amando devagar E urgentemente"