V

210 20 77
                                    

Deixa a tristeza pra lá, vem comer, me jantar
Sarapatel, caruru, tucupi, tacacá
Vê se me esgota, me bota na mesa...

POV: Caetano

A viagem de carro fora boa, dormi quase toda. Gal sentou no banco da frente. Ela e Chico conversavam e riam alto, mas nada que me impedisse de pegar no sono.
Só acordei quando chegamos na casa dele. Era grande e espaçosa; ele sabia manter organizada. Na entrada tinham plantas, um pouco murchas, mas eram lindas.
Chico levou nossas malas até um quarto no segundo andar da casa. O quartinho era rosa, acredito eu que era das suas filhas. Tinha uma cama de casal grande e fofa.

— Esse quarto era das suas filhas, Chico? — Gal lhe perguntou.

— Era.

Chico deixou as malas e foi em direção a porta.

— Vou deixar vocês a vontade — ele disse.

Ainda era cedo da noite, 19h. Eu sabia do nosso jantar, e espero que ele não tenha esquecido. Abri as malas, a procura de uma roupa bonita para usar no tal encontro.

Enfiei-me no banheiro do quarto. Todo branco, luxuoso e limpo.
Essa era uma ocasião importante, não? Fiz a sobrancelha, depilei-me por completo, arrumei os cabelos; fiquei no banheiro por quase uma hora. Saí vestido com uma blusa comprida branca e uma calça jeans boca de sino.
Pus uns colares de pérolas e passei um perfume forte que Gal tinha.

— Uau ! P'ronde cê vai assim?

— Jantar com o Chico.

— Aham, já entendi. O Chico te leva pra comer e depois quem é comido é você!

Dei uma risada solta.

— Que nada, Galzinha ! Chico num é dessas coisas.

— Vai achando, Caê, Vai achando. Aquele lá bêbado é um terror ! Três doses e ele já solta a franga.

— Relaxa, Gal. Eu sei me cuidar.

— Caê, Caê! Você tá é doidinho p'ra ser a sobremesa, isso sim.

Dei de ombros.

— Ele é todo tímido, não vai querer, certeza. Vai rolar só um beijinho a 'cabô.

— Aquele carioca é um safado, vai virar você do avesso.

Ri novamente, agora gargalhei.

Abri a porta e saí.

— Tchau, Gracinha!  — lhe mandei um beijinho.

— Juízo, Caetano !

Fechei a porta e desci até a sala. Chico estava sentado no sofá com os cabelos molhados e muito bem vestido. O moreno usava uma blusa branca junto de uma calça jeans e uma jaqueta preta de couro. Usava também um all star preto e um colar.

O lugar era lindo, chique e caro. O carioca mal se preocupou com os valores, disse que eu podia pedir o que quisesse. Até a comida chegar pedimos um vinho. Ele me parecia tenso, mas não quis dizer nada quando perguntei o que estava havendo. Mexia as pernas sem parar, um bocado ansioso, não sei porquê.

Pedimos camarão ao molho branco. Chico pediu uma garrafa de vinho tinto para acompanhar.

Entre risadas e conversar passamos horas.

— E agora? Vamos p'ra casa?

— Pode ser. Tô cansado.

— Cansado? Você dormiu a viajem toda.

solitudeOnde histórias criam vida. Descubra agora