VIII

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âmago.

é a alma da sua alma. é o mais puro do ser mais corrupto. é o mais sensível de um ser humano. são as suas manias mais estranhas. ingrediente principal da receita de ser você. figurinha-brilhante-não-repetida. unicidade. olhe no espelho. olhe nos seus olhos. é isso.

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O silêncio reinava na noite escura enquanto Toquinho e Chico seguiam em direção à casa do carioca. A iluminação débil das ruas criava sombras longas que se estendiam diante deles. Toquinho se mantinha próximo a Chico, seu corpo cansado pela viagem parecendo mais pesado com cada passo.

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O ar noturno era gelado, causando arrepios na pele dos dois amigos. Chico andava algumas passadas à frente de Toquinho, mas ocasionalmente ele diminuía o ritmo para manter-se à altura do amigo, consciente da exaustão que o outro sentia.

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Enquanto caminhavam, Toquinho rompeu o silêncio com um bocejo abafado. Ele esfregou os olhos com as mãos e lançou um olhar cansado para Chico.

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— Estamos muito longe ainda, né?

— Se quiser eu te carrego. — Chico brinca.

Toquinho bufou, mas um leve sorriso cruzou seu rosto.

— Tu não aguentaria — ele respondeu, sarcasticamente.

— Ai, tá me subestimando! — Chico rebateu, num tom de brincadeira. — Eu aguento fácil!

O paulista só faz rir.

— Tá certo, campeão — ele concordou, sarcasticamente. — Me carregue, então!

Toquinho não teve tempo de reagir. Antes que percebesse, Chico o agarrava pelas costas e o colocava no ombro com facilidade, como se fosse um saco de farinha.

—  Ué! — Toquinho exclamou, surpreso. — Cara, o que você tá fazendo?! Me põe no chão!

Chico ri e continuou a andar, segurando Toquinho pelas pernas.

— Fica quietinho aí!

Toquinho se contorceu em vão, tentando se libertar do amigo.

— Vai se foder, Francisco! — ele protestou, meio sem fôlego devido à posição desconfortável.

— Não fala assim que eu me ofendo. — Chico diz, sarcástico. — 'Cê tá gostando da viagem?

— Gostando o cacete! — Toquinho retrucou, tentando manter o tom irritado, apesar da gargalhada que ameaçava escapar dele.

— Tá gostando sim! Não adianta fingir. — Chico respondeu, animado. — A melhor carona da sua vida, confessa!

— Chico, eu vou matar você! Eu não tô brincando, cara...

— Mas você é insuportável, não é? — Ele põe o amigo no chão.

— Agora eu te quebro! — Ele corre atrás de Chico.

A risada dos dois é o único som que ecoa pelos becos. Toquinho logo sente o exaustão voltando, já que estava cansado por viajar o dia todo. Ele para na calçada para respirar, põe a mão no peito e faz uma careta.

— Cê tá velho, Toco!

— Cala a boca. — Ele diz ofegante.

Os dois retomam o caminho. Chico tem um cigarro entre os dedos enquanto escuta Toquinho contar sobre suas amantes. Ele solta a fumaça enquanto encara o céu, fugindo um pouco da realidade e mal percebendo o que o paulista lhe conta.

— Ei, Chico... qual era o lance do batom, hein?

— O Caetano tava inseguro sobre usar o batom... daí eu passei pra ele ver que não tem problema nenhum nisso, entendeu?

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