Livia
Parecia que fazia horas que estavamos correndo, eu com certeza era muito mais lenta que Nero, sentia meu corpo doer, minha garganta estava travada eu queria acordar desse pesadelo. E o pior ainda é não ter tempo para chorar por Nanda, Já fazia um tempo que Nero tinha soltado minha mão e corria a minha frente, parecia determinado a atravessar essa floresta em uma noite inteira.
- Eu preciso parar- falei trêmula- por favor.
Nero parou abruptamente sem falar nada me fazendo chocar com o seu corpo, rapidamente me endireitei com medo da reação dele, eu não sabia ainda o que ele estava fazendo naquela cabana algo haver com uma tal de Elena, mas tudo parecia nublado para mim.
- Merda- disse com raiva- Vamos em frente paramos depois.
- Só cinco minutos, se não vou desmaiar.
Aquela droga de floresta parecia girar, eu me encostei em uma árvore, toda suada e ainda chorando, as lágrimas não paravam. Meu corpo estava estranho, meu estômago está pesado e logo tudo que eu havia comigo saiu pra fora, me inclinei para frente, vomitando tudo, até estar meio tonta.
Nero venho até mim com uma garrafinha de água na mão que ele tirou da mochila dada por Stuart.
- Pega a água,- disse me entregando a garrafinha- toma devagar se não vai se afogar.
- Como sabe meu nome?- Perguntei.
- Sua amiga me disse. Ela falou que você estava no andar de cima.
- Ela só queria fazer amizades influentes. O que você acha que vai acontecer?
- Para ser sincero faço ideia, eu vim apenas buscar minha noiva desaparecida e agora estou fugindo em uma floresta.
Nero pegou a água da minha mão e tomou um pouco. Ele me puxou para andarmos de vagar por mais alguns metros.
- Vamos descansar um pouco- disse sentado encostado em uma árvore- senta aqui perto de mim.
Me sentei ao seu lado praticamente grudada nele, na hora me senti letárgica o cansaço era muito.
- Nero? Você acha que o que Stuart falou é verdade? Ou ele só está nos levando para uma armadilha.
- Creio que não Lívia, eu sei muito bem reconhecer o desejo da vingança em uma pessoa.
Finalmente depois de uma longa caminhada eu consegui olhor para ele de forma calma e sem aquela agitação da corrida, ele estava de terno preto e camisa branca, com cabelos loiros curtos estavam um pouco molhado de suor. Eu já tinha visto ele no Campus antes, mas era sempre de longe e ele parecia intocável.
- Você tem olhos bicolores- disse em voz alta, eu nunca havia chegado perto o suficiente para notar que ele tinha um olho castanho e outro verde, além de uma tatuagem de relâmpago explodindo no pescoço.
- Tenho- afirmou. Seus olhos pareciam brilhar, era diferente- Liv se você quiser cochilar um pouco, não falta muito para amanhecer e logo que o sol raiar nos vamos continuar a caminhada.
- Você não vai dormir?
- Vou ficar de guarda, eu tenho só uma pistola com poucas balas e duas cargas, não posso bobear.
- Você vai se cansar. É difícil ficar acordado tanto tempo- expliquei bocejando em seguida.
- Não se preocupe eu sou treinado para isso já fiquei 70 horas vigiando.
- Como assim treinado?- questionei estranhando.
- Uma longa história que irei contar para você, mas agora não. Durma um pouco.
- Camorra.- Disse por fim, fechando os olhos sendo levada pelo sono........
De forma abrubta senti meu corpo cair, me acordando assustada e para minha tristeza cercada por árvores, respirei fundo olhei para o lado e Nero não estava, logo o desespero tomou conta do meu corpo. Ele prometeu não me deixar, mas porque eu deveria acreditar? Ele deve ter se dado conta de como eu sou um peso morto.
- Você acordou bem na hora- uma voz grossa ecoou pela minha cabeça, o alívio imundou meu corpo.
Olhei para trás encontrando seus olhos bicolores me encarando desconfiado. Ele não estava mais de blaze e gravata, penas com a camisa branca dobradas até os cotovelos.
- Não pensou que eu tinha te deixado?- perguntou abrindo a mochila e tirando de lá um barrinha proteica.- Não é meu alimento favorito mas é o que temos.
- É um banquete- disse pegando uma barrinha- e sim eu pensei que você tinha ido embora.
- Por que eu iria?- questionou pegando a garrafa de água e me estendo, não era um café da manhã ideal mas era melhor que nada.
- Porque sou um peso morto- falei desviando o olhar.
- Eu agi de forma imprudente em invadir a cabana sem pensar muito. Se eu tivesse sido meramente inteligente eu teria chamado reforço, e essa hora você estaria tendo um café da manhã de hotel.
- Eu sou grata por você ter ido me pegar, se fosse outra pessoa tinha ido embora.- respondi com firmeza.
- Mesmo assim eu errei, na minha vida não tenho espaço para esse tipo de erro.
- Sim sua vida sendo o futuro da Camorra.
- Pergunte Lívia, antes de voltarmos a caminhar.
Ele era um homem perspicaz e capaz de ler qualquer pessoa desdo momento que Stuart falou Camorra, minha cabeça havia guadrado essa palavra até me lembrar de uma reportagem uma vez que eu vi sobre essa máfia super articulada que dominava Chicago e outras partes do mundo.
- Não sei exatamente como começar- disse devagar- E-eu, vamos começar por Camorra é o nome de uma mafia?
- Não só o nome, é uma mafia, eu sou Nero Savino e isso você já sabe. Eu sou o próximo Capo, por isso sou o futuro de toda a organização.
- Mafioso, tipo poderoso chefão?
- Um pouco mais complexo que isso, eu sou um empresário que irá assumir os negócios do pai.
- Negócios esses?
- Tráfico de drogas, mercadoria, armas. Muitas coisas. É um negócios bem abrangente.- Falou como se não fosse nada- temos negócios dentro da lei também.
- Que bom- disse irônica o que fez revirar os olhos, a última coisa que eu preciso é irrita-lo.- Quando sairmos daqui prometo não contar para ninguém.
- Você não vai- afirmou- e não foi uma ameaça, você vai estar me devendo e seu silêncio será o pagamento, por enquanto.
- Sua noiva, sinto muito.- Falei, me lembrando o motivo dele estar aqui.
- Obrigado- disse em um suspiro.- Uma pena, bem eu não queria casar com ela mas também não desejava a sua morte.
- Pensei que gostasse dela, pois ela seria sua rainha- disse outra vez bebochando.
- Quando você não está chorando você é bem insolente- acusou-me.- Era um casamento arranjado, é muito comum no meu meio.
- Entendo, acho algo bem vintage na verdade.
- Garota, garota- disse em tom de aviso.- Não me faça me arrepender de ter te salvado.
- Desculpa- disse assustada.
- Pensei que você seria um docinho mas é bem azeda, e pelo jeito mal agradecida.
- Não- me aprecei a dizer.- Só ainda não caiu a ficha que você é um criminoso.
- Prefiro empresário- disse sorrindo torto, nossa ele era muito bonito.- Não se preocupe não pretendo machucar você, basta manter as garrinhas recolhidas.
- Perdão- disse por fim.- Ainda tô nervosa depois de tudo.
-Vamos seguir em frente.- Mandou.
Segui a trás de Nero com ele sempre a frente. Hoje estava quente até demais para um outono, o sol estava castigando mesmo entre as árvores. Já estava pedindo socorro para parar de caminhar, mas a última coisa que eu queria era estressar Nero. Com isso engoli o cansaço e segui.Depois de horas caminhando minha visão se nublou meu corpo bateu no chão. Me senti sendo erguida, sem me dar conta me agarrei a Nero o abraçando apertado, meu olhos se encheram de água, não apenas pelo cansaço mas também pelo luto que não estava podendo viver.
Senti as mãos de Nero me acalentar passando pelas minhas costas trazendo conforto, seu cheiro estava para todo o lado era como se fosse floresta e segurança. Ergui a cabeça me deparando com seus olhos bicolores sérios, parecia um sonho, uma miragem sua mão foi até o minha testa.
- Vamos fazer uma pausa.- Falou me colocando sentada em um árvore.
- Lívia, eu não sei seu nome completo porque não me fala.- Disse Nero em uma tática de me manter acordada.
- Lívia Tereza Vasconcelos de Melo.- Meu nome era bem comprido.
- Nossa- disse ele com uma risada rouca que era bem sexy.- Você é de qual país da América Latina?
- Brasil- respondi.- Vim pra cá já tem um tempo com minha tia, você é italiano. -Afirmei.
- Sim Nasci em Nápoles, é uma tradição da minha família que todos os nosso membros nasçam lá.
- Deixa eu adivinnhar por causa da máfia.
- Sim, e seus pais Lívia? Eles ainda estão no Brasil?- Questionou me entregando mais água. Tomei um gole longo tentando engolir o nó que se formou na minha garganta.
- Meus pais morreram.- Disse rápido.
- Como?- perguntou.- Se não quiser não responda.
- Acidente de carro.- Disse, inclinei minha cabeça para trás remoendo a morte dos meus pais e agora de Fernanda minha melhor amiga, quando dei por mim um soluço alto saiu da minha garganta, meu coração acelerou e minha respiração estava travando. Estava tendo uma crise de pânico, elas haviam parado já fazia uns três anos. O tremor percoreu meu corpo, minha mente estava imbaralhada e eu como todas as vezes achei que fosse morrer.
- Lívia- falou Nero, suas mãos seguravam minha cabeça- calma, tudo bem.
Senti que ele estava me abraçando, tentando de alguma forma me acalmar. Nero falava meu nome baixinho várias vezes tentei me apegar a sua voz e a seu toque para voltar a si. Quando olhei para a seu rosto ele estava calmo, fazia cafune em minha cabeça, me fazendo voltar.
- Me desculpe- sussurrei olhando para ele.
- Não por isso, você sempre tem essas crises?- Perguntou preocupado.
- Não tinha a alguns anos, acho que o estres foi de mais. Minha mente foi para a noite da morte dos meus pais para o choro abafado da minha tia, para a memória de Fernanda, ela não merecia.- disse balançando a cabeça com a voz embargando outra vez.
- Imagino que seja difícil para você essa situação.- Só agora me dei conta que ele tinha me colocado em seu colo, quase como se eu fosse uma criança.
- Minha tia deve perceber meu sumisso amanhã quando eu não voltar, ela vai chamar a polícia- Afirmei com esperança.
- Infelizmente Liv acho que eles forjaram a nossa morte como Stuart tinha dito.
- Ela deve estar arrasada- disse com desespero.- Ela só tem a mim.
- Calma gattina você vai voltar para ela, eu prometo.
Nero afirmou com tanta certeza que eu não poderia deixar de acreditar, eu senti que ele poderia fazer qualquer coisa.
- Vamos dormir aqui essa noite, caminhamos de mais.
- Obrigada- disse olhando para ele com uma quase devoção.
Nero me tirou de seu colo e colocando sentada no chão, eu me encostei na árvore olhando para o céu vi que o sol já estava quase indo embora, o tempo aqui parecia relapso, quando se dava conta já estava anoitecendo novamente.
- Não é uma boa escolha seguir a noite, sem praticamente ver nada. Além de ser perigoso- Afirmou Nero.- Acho que essa fuga vai demorar mais do que imaginamos.
- Eu estou atrasando você- Afirmei.
- Não pense nisso, vamos dividir uma barra hoje a noite e comer uma inteira amanhã de manhã.
- Tá bom.- Disse olhando ele indo até a mochila pegando a barrinha e seu blazer que ele havia guardado.
A noite pairava sobre nós, a temperatura caiu muito antes estávamos assando e agora conselando. Essa noite parecia mais escura que o normal, a lua não iluminava quase nada.
- Senta entre as minhas pernas- ordenou Nero- venha, vamos dividir calor corporal e ainda nos cobrir com o blazer.
Sem perdem tempo, me aconchegue a ele, Nero era enorme parecia ser dois de mim. Além de ser muito em forma, parecia que ele não se cansava, um físico de dar inveja. Depois que eu saísse daqui eu deixaria de ser sedentária nem que fosse um pouco.
- Sobre o que está pensando?- questionou Nero- você fez um som engraçado.
- Estava pensando que deveria ser menos sedentária, acho que faço muito pouco exercícios.
- Por que está pensando nisso agora?- Questionou com uma risada gostosa.
- Porque você está muito enforma, faz essas caminhas como se não fosse nada. E eu literalmente quase desmaio.
- Faz parte do meu trabalho estar no pique, mas não é algo que eu gosto muito.
- Sério?- Perguntei desacreditada- você parece aqueles caras loucos por academia.
- Só pareço, eu gosto mais de praticar artes marciais do que erguer peso, mas faço tudo.
- posso fazer uma pergunta?- Falei baixinho.
Nero fazia movimentos circulares na minha costa para me aquecer e esquentar as mãos, parecia ser íntimo de uma forma que eu estava gostando.
- Claro, se eu puder fazer também.
- Como você sempre quis ser um mafioso?
- Meu caso foi herança então não pude fugir, meu pai atualmente é o Capo mas ele vai se aposentar e ir embora para Nápoles e eu ficarei em seu lugar. Minha vez- disse com a voz grave aveludada- Quantos anos tem?
- 19- disse abismada achei que seria outra coisa.
-Uma menina.- Constatou.
- Sou bem gradinha- bufei.
- Estuda no The University of Chicago. Qual seu curso?
-Era minha vez de perguntar- Disse ranzinza- Eu faço história, pretendo me especilizar em História da Arte.
- Interreceira, isso te faz parecer uma senhora de 60 anos super metida- disse com uma risada ácida.
- Como você consegue ser tão idiota- suspirei- Eu acho interessante- dei de ombros.- Já pensou em ser uma pessoa normal?
- Não, sempre soube o que seria. Sou treinado desde meus 13 anos.
Meu queixo caiu, uma criança era isso que ele era. O silêncio tomou conta da noite que agora já estava um breu completo.
- Além de fazer um curso de senhora, o que você faz?
- Eu trabalho junto com minha tia.-Contei- Ela tem uma confeitaria, eu sirvo mesas ajudo no preparo das bolos e comidas.
- Uma caixinha de surpresas gattina, o que faz no seu tempo livre?
- Bem, eu leio vejo séries. Não canso de ver The Office, sempre revejo nem que seja só meus episódios favoritos.- Repodi animada.- E você? O que faz? quando não é Dom Corleone.
- Eu malho, fodo- disse como se não fosse nada.- Quase nunca tenho tempo para ver TV, já vi um ou dois episódios de The Office. A Pam é bem gostosinha.
- Que ridículo-disse revirando os olhos- você não era noivo?
- Liv, eu já expliquei casamento arranjado- falou dando de ombros.
- Então vocês ficavam com outras pessoas.- Afirmei.
- Eu ficava- respondeu- Ela não.
- Porque ela te amava? - Questionei interessada.
- Não, com certeza não.- Falou rápido- as mulheres da mafia se casam virgens. É uma tradição, a cerimônia de casamento tem vários acontecimentos. No final da consumação do ato- adoçou as palavras.- É apresentado o lençol com a prova da inocência da noiva.
- Nossa que machista- respondi indignada.- Vocês homenzinhos podem transar com todo mundo e as mulheres tem que se guardar para vocês.
- Não fui eu que criei as regras- declarou na defensiva.
- Mas você usufrui delas- acusei irritada.
Nero bufou como um touro, claramente não gostando do rumo da conversa.
- Acho melhor dormir.- Falou por fim- Amanhã é cedo.
Sem querer estender a conversa que qualquer forma me aconcheguei em Nero. Minha cabeça ainda rondando nossa conversa, Como ele podia ser tão idiota e tão legal ao mesmo tempo? Tão bonito, forte,sexy. Dormir Lívia, dormir.
O sono estava bom até que a mão de Nero Tampar minha boca, me fazendo acordar. Ele fez um sinal para ficar quieta com as mãos e logo consegui ouvir sons de passos bem atrás de nós.
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Encurralados
ChickLitLívia é uma jovem universitária que foi convidada por sua amiga Nanda para uma festa em uma cabana na floresta Blackwood. Mesmo não muito empolgada ela aceitou para agradar sua amiga, o que ela não esperava era que seria encurralada em uma floresta...