Família

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Com o passar dos anos, Sumire o observava, e percebia que ao contrário do que ela acreditava ele tinha sentimentos... uma variedade extensa deles, talvez mais do que ela mesma. - O começo.


— Você vai se mover em algum momento? — Kawaki está sentado na mesma posição, com a cabeça apoiada em umas das mãos sobre a superfície da minha mesa de trabalho, a pelo menos trinta minutos. Eu nem sabia que isso era humanamente possível.

— Eu deveria? — Ele ergue uma das sobrancelhas e me encara, esse olhar tem sido tão comum nas últimas horas.

— Receio que sim, pelo bem do seu sistema circulatório. —  Um sorriso sarcástico se apodera dos lábios dele.

— Acho que vou arriscar. —  Quando seus olhos pousam nos tubos de ensaio descartados, o sorriso morre. — Está tendo algum sucesso?

Ele tem acompanhado todo o meu progresso de forma atenta, se animando a cada vez que eu dou um sorriso confiante, o que não acontece há exatos trinta minutos.

— Não estou consigo encontrar uma forma de combinar a toxina com o ADN humano, preciso encontrar o reagente perfeito, um que irá fazê-lo se dissolver e ainda assim manter as propriedades da substância original.

— E não é isso que está acontecendo. — Ele afirma.

— E não é isso que está acontecendo. — Eu concordo, e me recosto no balcão atrás de mim, passo a mão pelo meu rosto em uma forma de dissipar parte da minha frustração. — Me desculpe por desapontá-lo.

Ele me olha por algum tempo, e então se levanta, ele caminha contornado a banca até que esteja de frente para mim.

Me dou conta que nunca reparei na  nossa diferença de altura absurda, e me repreendo, esse não é exatamente um momento oportuno para ganhar consciência disso. O rosto dele se uma transforma numa expressão serena, e tom de voz suaviza de uma forma que me surpreende.

— Você não me desapontou Kakei, eu estou procurando por uma cura à 10 anos, eu não estava esperando que você resolvesse tudo hoje, não cobre tanto de você. É um processo que vai levar tempo, e que vai te deixar frustrada algumas vezes, acredite, eu digo por experiência própria. Apesar de tudo isso eu acredito em você, acredito que você vai conseguir, e mesmo se não conseguir, não vai me desapontar nunca, porque você tentou me ajudar, e isso significa muito para mim.

Seu discurso me deixe sem palavras por algum tempo, e num impulso estúpido eu o abraço. Porque eu fiz isso? O corpo de Kawaki fica rígido, e sinto receio de que ele se afaste de mim... rezo para que ele não faça isso. Então braços fortes me envolvem, e o alívio toma conta de mim.

O batimento do coração dele está acelerado, me pergunto se está assim porque de certa forma isso foi tão inesperado para ele quanto foi para mim.

Ouço alguém pigarrear alto, e me afasto rapidamente dele, olho para a direcção da voz, e encontro Shikadai com uma mão na porta a impedindo de se fechar.

— Desculpem eu não sabia que estavam... — Ele faz uma pausa alternando o olhar entre nós. — Ocupados. Fui informado de que você estaria aqui.

Ele olha para Kawaki quando diz isso.

— Não está atrapalhando nada. — Eu me apresso em protestar. O rosto de Shikadai demonstra uma profunda descrença.

Amor Fati - KawasumiOnde histórias criam vida. Descubra agora