História

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Nós seres humanos somos criaturas estranhas, insistimos em causas que sabemos estar fadadas ao fracasso. Será algum tipo de comportamento autodestrutivo? - Trechos do diário de um príncipe.


Esquerda, direita, direita, esquerda, essa sequência é tão familiar que meus punhos não têm dificuldades em coordenar os movimentos, continuo batendo e batendo até que meus dedos se acendem com chamas. Mas mesmo assim não paro, bato e bato até que o saco de pancadas cai no chão se transformando em cinzas. Isso acaba com minha torrente de golpes, e respiro fundo tentando controlar minha respiração.

— Está chateado com o quê? — A voz do meu pai atrai minha atenção, ele está parado na entrada do dojo, com roupas apropriadas para lutar.

— Nada. — Eu digo assim que meus pulmões me permitem. Ele se aproxima de mim, e dirigi um olhar rápido para as cinzas no chão. — É apenas meu treino matinal.

Ele não parece acreditar, mas não comenta mais nada sobre o assunto.

— Está cansado demais para continuar? — Ele aponta com a cabeça para o tatame.

— O senhor quer lutar comigo? — Ele franze a testa.

—:Não fique tão surpreso, posso estar um pouco velho, mas isso não vai me impedir de te dar uma surra.

— Está muito confiante para alguém que tem problemas nas articulações. — Eu me posiciono dentro do tatame, e faço a saudação formal.

—:Veja a forma como fala com o seu imperador, legionário. — Ele imita meu gesto, eu sorrio, e o ataco sem aviso prévio, ele desvia no último segundo.

— Muito lento Kawaki. — Ele investe pela direita, e também desvio.

— Só estava testando. — Ele murmura um som que indica sua falsa crença, e então investe contra mim, seus golpes são rápidos e consecutivos, então defendo minha posição.

Não deveria ter desacreditado seu valor como oponente, não há nada paternal na forma como ele me ataca, um dos seus golpes atinge o lado esquerdo do meu rosto, e sinto a ardência. Meu centro de equilíbrio falha com o golpe, e ele aproveita a chance me derrubando, mas ao cair o levo comigo, então estamos ambos no chão.

— Desista. — Ele diz assim que consegue me imobilizar, ficando por cima.

— Nunca. — Eu consigo me desvecilhar do seu aperto, e acertar um golpe em uma das suas costelas, um golpe que o derruba, então ele fica deitado ao meu lado.

Ele solta um suspiro cansado.

— Você é muito teimoso.

— Tive a quem puxar, nós três tivemos. — Ouço sua gargalhada.

— Está muito melhor agora. — Me movo até ficar sentado, e olho na direção onde meu pai está, o encontro observando o teto sorrindo.

— Eu acho que lutar contra um idoso, não é propriamente um bom medidor de habilidades. — Ele se movimenta, e imita minha posição, me encarando.

— Tenho anos de experiência em combate, e não sou um idoso, estou na etapa mais bonita da vida humana, uma esposa linda, três filhos teimosos e saudáveis, o que mais um homem poderia desejar? — Articulações melhores?

Amor Fati - KawasumiOnde histórias criam vida. Descubra agora