🍁Infantil

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Colocando tudo em uma pequena bolsa de pena, Lucien separava o que podia, desde pães e pedaços de bolo, até e partes de frango. Não sabia exatamente o que levar além de algumas galhos de camomila e hortelã. Tentou fazer o menor barulho possível, até mesmo comeu alguns pedaços de queijo, já que havia jantado bem mal.

- Que bonito mocinho. - A voz de Alis lhe congelou no lugar enquanto engoliu o grande pedaço de bolo que havia enfiado na boca.

- Alis, se não é minha Feérica favorita. - Fechando enfim a bolsa de pano, com um sorriso forçado, o Emissário riu sem graça. - Está tendo uma boa noite?

- Onde esteve? Passei no seu quarto para lhe entregar um chá e me deparo com a cama fria. - Colocando as mãos na cintura, Alis o repreendia com razão. - Para onde vai com toda essa comida?

- Sabe o que é... Eu estava fazendo uma patrulha antes de dormir, mas acabei achando um bichinho ferido e decidi cuidar dele. - De fato, em sua história tinha partes levemente alteradas. - E ele está morrendo de fome, tadinho.

- Bichinho é? - Serrilhando os olhos, a Feérica amadeirada decidiu ver até onde aquela mentira iria. - Que bichinho é esse meu querido Lucien?

- Um Morceguinho. - Disparou sem pensar duas vezes. - Ele voou demais e quebrou uma asa quando bateu contra uma árvore depois de fugir de um ataque de corujas.

- Lucien.

Negando com a cabeça o Grão-Feérico se aproximou de Alis. - É verdade, é apenas um bichinho. 

- Meu querido, você sempre teve um coração enorme. Se lembra daquela raposa? - O macho engoliu a seco, mal conseguindo olhar para a Feérica. - Foi com o Senhor Tamlin, mas ainda assim, você sabe que não pode salvar a todos, pense em você ao menos uma vez meu querido. - Alis colocou uma mecha do cabelo ruivo de Lucien atrás de sua orelha pontuda, mantendo sua mão amadeirada no rosto do Emissário.  - Esse... Bichinho, que seja, irá lhe acarretar em algum mal? Nossa Grã-Senhora não gosta de dividi-lo.

Sabia que Alis apenas estava tentando protegê-lo, assim como sempre fez. Por muito tempo, até os dias de hoje, ela foi como uma mãe, ao qual esteve ao seu lado nos maus e nos piores momentos. Quando Tam perdia a mão e lhe torturava por horas, era ela quem cuidava de si, muitas vezes até indo contra as ordens de seu Senhor para lhe levar um pouco de comida. Era Alis quem cuidava de seus machucados, lhe levava doces quando já estava quase sem sangue para oferecer ao seu Senhor.

A Feérica sabia que estava escondendo alguma coisa, sempre soube quando seu pequeno ruivinho estava mentido, e agora, temia mais do que nunca, afinal a Grã-Senhora era claramente instável.

- Vou ficar bem Alis, farei isso por todos nós. - Dando um beijo na testa de Alis, Lucien logo disparou dali. - Ah e eu acabei com todos os bolos!

Revirando os olhos, a Feérica sorriu, aquele macho não tinha jeito.

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- Está bem, eu trouxe de tudo um pouco, mas eu acabei com o bolo no meio do caminho então... - O Grão-Feérico parou de falar ao passar pela porta e notar que toda a casa estava limpa. 

Tudo estava em seu devido lugar, até mesmo as roupas espalhadas haviam desparecido. Não havia mais poeira, ou teias de aranha, era como se aquele lugar esquecido havia ganhado vida outra vez. E aquilo não agradou Lucien, mas preferiu ignorar o sentimento.

- Você fez tudo isso? - Ainda incrédulo, Vanserra observou seu intruso tentando cuidar de sua asa, parecia meio difícil fazer isso sozinho.

- Não tinha nada para fazer. - Respondeu sem muita vontade. 

Concordando com a cabeça, Lucien foi até a mesa deixando a bolsa de comida ali, mas notou que a flecha havia sumido.

- Está aqui a comida e eu também trouxe alguns remédios, esparadrapos... Linha e costura? - O Grão-Feérico mexia as mãos conforme ia citando. - Eu não sei o que vocês Illyrianos usam para isso... Creme para asas?

- É o suficiente. - Era o mais próximo de um agradecimento que o macho conseguiria dizer. - Nessa flecha, tinha algum tipo de veneno?

- Não, era uma flecha de freixo bem comum na verdade. Por quê?

- Porque já devia estar cicatrizando. - Respondeu meio impaciente.

Passando a mão por seu rosto, Lucien sentiu seu olho metálico falhar algumas vezes. - Quanto tempo isso vai demorar?

- Dias.

- Dias?!

- Dias.

- Maldita seja a hora que eu aprendi arco e flecha! - Vanserra encostou na mesa enquanto cruzava os braços. - E por eu ser tão bom nisso.

- Você teria me matado. - Afirmou o Illyriano. - Estava pronto para fazer isso.

- E ainda estou pensando nessa possibilidade. - Ironizou. - Por que está tão incomodado? Você teria feito o mesmo.

- Nós nunca saberemos.

- O que você quer? Um pedido de desculpas? - Indagou Lucien. - Me desculpe Morcego de gel... Por ter errado.

- Não me chame assim. - Rosnou o intruso. - Se você não tivesse atirado a flecha nada disso teria acontecido.

- E se você não estivesse me perseguindo nada disso teria acontecido.

- Agora a culpa é da vitima?

- A culpa é sua desde quando colocou essas malditas assas em território inimigo! 

Foi assim que um silêncio infantil tomou conta da casa, e por um instante Vanserra realmente cogitou a ideia de mostrar a língua para o Illyriano. Tudo bem, foram iguais a duas crianças discutindo grandes problemas, não levaria a lugar nenhum discutir quem era o culpado daquela tragédia.

 - Azriel.

- Saúde.

- Não. - O macho suspirou. - Esse é meu nome.

- Lucien Vanserra. - Se apresentou sem muita vontade.

- Eu sei. - O Illyriano recolheu as asas. - Ela falou muito sobre você, filho do Grão-Senhor da Corte de Outonal.

- Mas é uma fofoqueira mesmo. - Sussurrou.

- O que vamos fazer?

Grão-Feérico sentia sua cicatriz pulsando de dor, o obrigando a fechar os olhos para descansar a mente. - Eu não sei...

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Corte de Mentiras e Crueldade - [Luriel]Onde histórias criam vida. Descubra agora