capítulo 21

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"Meu bem, você me dá água na boca, vestindo fantasias, tirando a roupa."

Rita Lee

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Dante sentia cada musculo do corpo exaurido.

Quase que se arrastava pelo salão principal da ordem, as olheiras marcadas abaixo dos olhos num tom escuro, lhe deixando evidente as noites mal dormidas. Seu cabelo oleoso, preso naquele rabo de cavalo, sentia a pele suja, como se o talco das luvas de alguma forma tivesse se grudado em suas mãos, o jaleco parecia se fundir ao seu corpo naquela altura do campeonato, e sinceramente, não entendia como Marcela conseguia ficar ali por tanto tempo.

Acontece que no começo daquela semana, as coisas tinham sido corridas a amiga, e ele e Rubens se desdobraram juntos para atender os agentes que chegavam machucados aos montes, inquietos, teimosos, imprudentes.

Por isso Dante abandonou o pronto socorro na faculdade, aquilo era de mais para o estilo de vida pacato que gostava de levar.

Sentou-se na mesa próxima a copa, e não demorou para que lhe servissem café, sem ao menos pedir.

O pedido tinha sido no sábado, no domingo mesmo, os amigos todos sabiam, e na segunda, a ordem inteira sabia, provavelmente um presente de Carina e Antônio, mas Dante e Arthur estavam bem cientes que todos ficariam sabendo, nunca tinham feito questão de esconder.

Acontece que, nos últimos dias, alguma membros passaram a trata-lo de modo diferente. Alguns mais cordiais, outros muito pelo contrário, pareciam o detestar, fugiam de si como o diabo fugia da crus, com carrancas em face, antipáticos, mesmo nunca antes trocado uma sequer palavra com Dante.

Correu os olhos por aquele salão movimentado, encontrou a figura da sogra posta sobre o balcão do depósito das armas, e bem ao seu lado, lhe lançando um sorriso, Balu, parecia bem a sua companhia.

Bebericou o café, agradeceu bem a quem lhe serviu, mas seus olhos se voltaram a uma porta, a um corredor, imaginando se quem estava por trás dela se encontrava desocupado.

Mas apareceria lá? Sem mais nem menos? Precisava de uma desculpa para ver seu noivo ou deveria apenas abraça-lo sem mais ou menos? Não sabia.

Então pegou uma caneca, pois café, sem açúcar, uma pitada de canela, tão pouca que as vezes perguntava-se como sentia o gosto com tanta exatidão. Caminhou com as mãos ocupadas, a sua xicara já bebericada, a do noivo, intacta.

A porta entreaberta foi empurrada pelo pé, e lá dentro, posto atrás da mesa, sério e engravatado, estava seu amor.

O rosto centrado pareceu não o notar de princípio, mas as sobrancelhas se franziram, e os bicolores caíram sobre sua figura, animando-se, lhe lançou um sorriso, deixou a folha que tinha em mão de lado e se reencostou na cadeira.- Se não é meu ocultista favorito.- Fez graça e a xicara pousou a sua frente, exalando o perfume da especiaria, tão convidativo a si.

- Café?- Pergunto enquanto puxava uma cadeira para mais próxima a mesa, sentou-se, mas Arthur não pareceu tão satisfeito com aquilo.

Lhe lançou um olhar de quem questionava se aquilo era sério.- Amor, você não senta desse lado da mesa.

Dante estranhou, olhou para o noivo sem entender, o assistindo escorregar, distanciando a cadeira da mesa e lhe lançando um olhar malandro antes de dar duas batidinhas em sua cocha.- Não.

- Por que não?

- E se alguém entrar?

- A porta tá fechada amor, mais niguem além de você entra sem bater.- Dante o olhou muito serio, Arthur sorriu e deu mais uma batidinha, vendo Dante segurar a xicara de café e levantar-se. Comemorou aquela pequena vitória, o puxou pela cintura, o encaixando em seu colo e deixando a cabeça repousar sobre seu ombro.

alinhamento milenar - DanthurOnde histórias criam vida. Descubra agora