capítulo 31

96 11 64
                                    

"Guarde um pedaço de mim
Um cheiro no lado da cama
Seu gosto na ponta do queixo
Meu sangue escorrendo seu peito

Vejo no tato sua pele
Tatuo com dedo o seu gosto
Não sigo mapas, desejo
Segredo e contato."

Gal Costa

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Dante tinha acabado de chegar em casa.

Jennifer o recebera com miados, passando por entre suas pernas, procurando por Arthur pela varanda para então o encarar com olhos amarelos, perguntando onde ele estava.

Dante se abaixou devagarinho, pegando a gatinha nos braços, alisando o pelo dela e a pondo contra seu peito, ouvindo um ronronar baixo, feliz por parte da gata que sem cerimonias enganchou as unhas por sua roupas, pubindo em seu torço até seus ombros, onde acomodando-se feito um papagaio, arrancando um riso meio surpreso de Dante.

Bateu as mãos pela calça, tentando não fazer nenhum movimento brusco enquanto resgatava o celular num dos bolsos, batendo uma foto para mostrar a Arthur, enviando-a.

Jennifer pareceu muito aborrecida quando Dante moveu-se, soltando um miado insatisfeito e pulando de volta ao chão, caindo é claro, graciosamente em pé.

O loiro espreguiçou-se, havia sido um dia e tanto na ordem. Yuki e Carina tinham achado um grimorio completamente inexplorado numa pequena missão de reconhecimento de campo, este do qual lhe foi pedido ajuda para melhor compreensão, resultando num dia quase que inteiro ao lado das amigas.

Mentiria se disesse que não havia sido divertido mas tão igualmente cansativo quanto. Sua mente rodopiava, quando fechava seus olhos podia ver as palavras gravadas em suas pálpebras. Sentia que precisava relaxar, não queria mais saber de trabalho por hoje.

Chegou em seu quarto ajeitando as coisas de dentro de sua bolsa de volta ao lugar, afinal era sexta, só voltaria ao trabalho na segunda aquela semana.

Estava pronto para ir ao seu banho, relaxar um pouco em baixo da água quente, quando, seus olhos bateram de relance num livro muito específico de sua estante. O livro que tinha comprado por causa de Marcela.

Talvez fosse sua capa laranja lustrosa de tão nova, talvez fosse o sentimento bagunçado de semanas antes que nunca imaginou que palavras lhe trariam.

Encarou o livro por mais tempo do que se julgaria normal, quase como se aquele objeto inanimado o encarasse de volta.

Sentou-se na cama, ainda voltado a estante, pensativo demais, imergindo em memórias vergonhosas sobre sua vida sexual. Sobre o sermão do padre, as conversas dos meninos de sua idade que eram desconfortáveis de mais para se manter perto, como se sentia estranho com Jasmin por perto e como tudo se bagunçou quando descobriram os beijos juntos.

Deitou devagarinho na cama, fechou os olhos, contemplando um pouco de sua existência, arrancando os sapatos, cobrindo o rosto com as mãos.

Lembrará dum momento que ainda corroia sua mente numa pura vergonha puberil. O desespero de ter acordado numa manhã de domingo que deveria ir a igreja, o problema foi a mancha no short do pijama, o constrangimento de descobrir-se num quarto cheio de outras crianças e ir ao banheiro correndo tentar entender o que tinha acontecido.

Lembrava-se de chorar inconsolável num canto sem saber ao certo o por que aquilo tinha acontecido, era um pecado, um que não tinha escolhido fazer, ele não tinha tido controle sobre seu corpo enquanto dormia, como poderia ter evitado aquilo? Será que Deus o perdoaria?

alinhamento milenar - DanthurOnde histórias criam vida. Descubra agora