Capítulo 3

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Trisha voltou o olhar para Bart, estudando-o. Ele ainda estava amarrado ao assento pelo cinto de segurança. Parecia estar inconsciente agora e suas mãos estavam penduradas, batendo no teto. Ela viu sangue cobrindo sua mão esquerda e a pegou com cuidado. Era difícil de ver já que ela estava do outro lado.
Praguejou mentalmente, percebendo que parecia ser um ferimento da batida. A pele estava rasgada e adivinhou que sua mão deve ter sido jogada pela janela que foi esmagada quando o carro capotou. Tocou sua palma com as pontas dos dedos, apalpando os ferimentos, e determinou que seu pulso também estava quebrado. Ele se ferrou ali, sem piada, já que a fratura não tinha sido exposta. Ele acordou.
— Bart? — Engoliu em eco. Sua voz continuava falhando. — Aonde mais dói além da parte do cinto de segurança e do seu braço?
— Minha perna — ofegou ele. Lágrimas escorriam dos seus olhos castanhos quando começou a chorar.
Droga. Trisha não podia ir mais além dentro da área do motorista já que o corpo dele estava no meio e o volante acima. Podia ver melhor se tivesse uma lanterna, uma vez que o sol estava se pondo, deixando o interior do veiculo escuro.
— Pode mexer os dois pés?
— Dói. — chorou ele baixinho.
— Mexa, Bart. — disparou. — Aqueles homens podem estar vindo atrás de nós. Mexa os seus pés. Preciso que me ajude aqui.
Ele gemeu de dor.
— Estou sentindo-os e acho que estão se mexendo.
Trisha assentiu, olhando para onde os pés dele estariam. Gotas de sangue não pingavam no teto onde ela estava aninhada. Outro bom sinal. Ela se forçou a permanecer calma e a pensar. Sua cabeça latejava, seu corpo estava dolorido e sentia dores. Ainda sentia gosto de sangue na boca e nem queria adivinhar a causa. Verificaria seus próprios ferimentos depois, mas no momento a prioridade era o jovem rapaz à sua frente.
— Me escute, Bart. Preciso que descubra se as suas pernas estão presas e se você pode sair daí. Preciso que mexa as pernas para ver se estão soltas. Está me entendendo?
— Dói. — choramingou.
Trisha apertou os dentes.
— Eu também estou com dor. Vamos. Ouviu quando eu falei dos caras que nos derrubaram aqui? Eles podem descer aqui e nos matar. Precisa me ajudar. Posso ajudá-lo mais se conseguirmos soltá-lo. Não posso fazer muita coisa por você agora já que não há espaço suficiente para tratá-lo no lugar onde está. Tenho que verificar seus ferimentos, mas preciso que saia desse banco para fazer isso.
— Ok. — chiou ele baixo. — Vou tentar.
Trisha lutou para ouvir algum sinal de Slade, mas não ouviu tiros.
Onde ele está? Experimentou um pouco de medo repentino. Ela e Bart não eram Novas Espécies.
Slade os deixaria para trás para salvar a própria pele? Realmente esperava que não. Talvez tenha ido atrás de ajuda, mas ele não avisaria primeiro? Simplesmente não sabia no que acreditar e isso realmente a incomodava.
— Eu consigo mexer as pernas. — Dor soava na voz de Bart.
— Fantástico. Eu sei que você só tem uma mão que dá para usar, mas você precisa usar o braço bom para tentar abrir a porta. Veja se ela abre.
— Não consigo.
Trisha se virou, olhando para o lado do passageiro. O porta-luvas se abriu e as coisas nele caíram. Foi rastejando até a pequena área debaixo do banco.
A janela permanecia inteira do lado do passageiro, mas estava rachada, como uma teia de aranha. Ela usou um papel que tinha caído do porta-luvas para cobrir os cacos de vidro que caiu no interior quando o carro capotou, para proteger o corpo.
Alcançou a maçaneta. Ela se movia, mas a porta não abria.
— Merda. — suspirou. Olhou e percebeu que a porta ainda estava trancada, e estendeu a mão.
Teve que se esforçar para alcançar o botão para destravar. Tentou a maçaneta de novo e desta vez ouviu um clique. Virou-se até ficar de costas e empurrou com uma mão enquanto agarrava a maçaneta. A porta abriu alguns centímetros antes de bater em algo do lado de fora.
— Duas vezes merda.
— Ei, Doutora. — Slade se abaixou para olhar dentro do veículo pela janela do passageiro. — Quer sair? Não vejo nenhum daqueles idiotas descendo atrás de nós por enquanto.
— Pode abrir a porta?
Slade levantou a cabeça para estudar a porta ao invés dela.
— Não sei. Vou ter que empurrar um pouco o carro de lado para ver se posso erguê-lo alguns centímetros porque a porta está presa na terra. — Ele parou. — Talvez. Prepare-se para balançar.
Ela entendeu o que ele pretendia fazer quando o viu se virar para plantar os pés ao lado da porta. Suas costas pressionavam do lado do utilitário. Ela abriu a boca para lhe dizer que ele não era forte o bastante para mover o carro nem mesmo um centímetro, mas então o veículo se mexeu um pouco debaixo de si. Ele empurrou o bastante para tirar o carro do chão.
— Empurre a porta. — grunhiu Slade. — Essa porra é pesada.
Trisha usou as duas mãos para empurrar com força a porta a uns bons centímetros do chão. Ela passou por cima da grama e da terra e abriu pela metade. Empurrou mais forte e conseguiu talvez mais alguns centímetros. O carro inclinou mais. Slade grunhiu e o utilitário caiu outra vez. A porta se enterrou na terra.
Slade se agachou próximo à porta aberta e colocou a cabeça para dentro.
— Me dê suas mãos que eu a puxo para fora.
A porta estava aberta pela metade, no máximo uns quarenta centímetros. Soltou um palavrão.
— Não acho que consigo passar.
— Eu estava brincando quando disse que precisava fazer uma dieta. Vamos tentar, doçura. Acho que você consegue. Vocês mulheres sempre acham que são maiores do que realmente são. Tem mais espaço do que você pensa. Saia de lado.
Trisha agarrou as duas mãos de Slade. Ele começou a puxá-la lentamente com ela virando de lado. Seus joelhos bateram no banco, mas quando ela se retorceu um pouco, conseguiu passa-lo. Slade a puxou de novo. Sua cabeça saiu pelo espaço apertado quando ela a colocou de lado e então seus seios e costas foram apertados.
Ela percebeu que estava presa. Seus seios a estavam prendendo.
— Isso não seria um problema se você não tivesse uns seios tão lindos. — riu Slade. — Uma mulher com pouco peito teria passado sem dificuldade.
Trisha o olhou com raiva enquanto o fitava.
— Me puxe logo! Isso não é muito confortável.
— Respire fundo e expire todo o ar. No três. Um. Dois. Três.
Trisha exalou até parecer que os seus pulmões estavam sendo esmagados dentro do peito. Slade a puxou. Ela ofegou enquanto Slade a puxava para longe do carro.
Ele soltou suas mãos antes de alcançá-la de novo aonde estava, deitada no chão.
Ele agarrou seus braços bem acima dos cotovelos e a ajudou a se levantar devagar. Estudou-a criticamente antes de encontrar seu olhar.
— Consegue ficar em pé?
Testando as pernas, Trisha assentiu.
— Estou bem.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Não diria isso se tivesse um espelho. Fique aqui e me deixe ver se eu consigo tirar Bocão do carro.
— A mão esquerda dele está esmagada e o pulso quebrado. — avisou Trisha. — Tente não tocá-la nem deixe que coloque peso nela.
Trisha baixou os olhos já que o seu joelho latejava e viu um rasgo em sua calça. Abaixou-se, lutou com um instante de tontura, mas passou. Tocou o tecido rasgado, manchado de sangue. Agarrou o tecido com os dedos e abriu mais o buraco. O som do tecido rasgando parecia alto para Trisha.
Olhou para o joelho de perto, encontrando vermelhidão e um pequeno corte que seus dedos testaram. Estava um pouco ensanguentado, mas não precisava de pontos. Ficou de pé para dar a volta no carro e sabia que tinha sofrido fortes hematomas.
O carro parecia acabado. Ela viu os painéis esmagados e o teto esburacado. A traseira tinha sofrido o pior. Havia uma abertura enorme perto da porta do motorista e a caixa do motor no canto da frente tinha sido destruída.
Ela a fitou enquanto Slade abria a porta. Parecia que tinham batido em algo de frente ao caírem. O palpite de Trisha era uma árvore, talvez até algumas delas tendo em vista o dano em toda parte frontal do veículo. Era um milagre que todos estivessem vivos. 
Virou a cabeça e olhou a montanha. Não conseguia ver a pista de onde estava, mas podia ver o caminho que o carro percorreu antes dele desaparecer em meio às densas árvores. Cacos de vidro, pedaços arrancados do carro e algumas roupas estavam espalhados pelo caminho.
Viu sua maleta quebrada perto de uma árvore. Estava esmagada e partida ao meio, como se alguém a tivesse golpeado com um machado. Estremeceu. Podia ter sido ela ou Slade se algum dos dois tivesse sido arremessado do veículo.
— Não! — Gritou Bart.
— Seja homem. — rosnou Slade. — Não pode ficar pendurado aí o dia todo. No três eu vou cortar o seu cinto e tirar você daí. Seu traseiro vai cair, mas eu seguro a sua cabeça. Um. Dois...
— Não. — gritou Bart, soando em pânico.
— Três!
Slade cortou o cinto de segurança e arrastou um histérico Bart para fora do carro. Trisha mancou os passos que faltavam até o homem chorando no chão quando Slade o soltou e se afastou. O olhar que Slade deu a Trisha expressava puro desprezo. Ele sacudiu a cabeça, apertou os dentes, e foi embora.
— Você lida com ele. Eu vou salvar o que puder. Vai escurecer logo.
Trisha se ajoelhou para examinar Bart, que chorava baixinho. Ela se encheu de simpatia pelo rapaz que estava no começo dos vinte, mas que agia como se fosse bem mais novo. Entendia o quanto devia estar assustado. Suas mãos varreram seu corpo, fez o que podia fazer sem a sua maleta médica. Tudo o que tinha disponível era o seu toque e sua visão para determinar o que era emergencial.
Examinou seu quadril e suas mãos apalparam uma de suas coxas, descendo pela perna até o tornozelo. Não ia tirar o seu sapato para se certificar, sabendo que se ele tinha ossos quebrados ali o sapato os manteria imóveis e controlariam o inchaço por enquanto. Levantou-se e agarrou sua outra coxa, circulando a mão de cima a baixo.
— Querem um quarto?— suspirou Slade. — Se me tocar desse jeito eu espero que tenha um anel de casamento para me dar, Doutora.
— Estou vendo se encontro mais ossos quebrados.— Ela nem sequer olhou por cima do ombro para Slade. — Por enquanto nada.
Trisha se endireitou e franziu o cenho para Bart.
— Aonde dói?
— Minha mão.
Ela explorou seu estômago e sua cabeça até ter passado as mãos por todo lugar.
— Como estão o pescoço e as costas?
— Estão bem. Minha mão dói. — Bart chorou baixo com o braço aninhado no peito.
Trisha virou a cabeça para olhar Slade.
— Ele pode ter ferimentos internos, mas eu não saberei com certeza sem levá-lo a um hospital. Os únicos que tenho certeza são o pulso e a mão. Pode pegar algumas roupas na minha mala? Preciso delas.
Slade torceu os lábios.
— Você quer trocar de roupa? Dá um tempo, Doutora. Não pode ser tão soberba assim.
— Seu filho da puta imbecil. — explodiu Trisha, sua raiva crescendo instantaneamente. — Eu preciso rasgar roupas para enfaixar a mão dele. A alça da minha bolsa é do tipo que tem regulagem. Posso tirá-la e usá-la de tipoia para imobilizar o braço inteiro até a ponta dos dedos.
Slade corou um pouco.
— Vou pegar. Desculpe. — Ele se afastou.
Trisha suspirou, permitindo que sua raiva passasse. Todos eles estavam sob estresse. Slade voltou minutos depois. Usou uma faca para cortar suas melhores camisas em tiras. Trisha enfaixou a mão quebrada de Bart. Ele desmaiou quando o fez, o que era uma coisa boa porque Slade realmente parecia irado com o choro constante dele. Bart não chorava no momento enquanto estava desmaiado.
Trisha tirou vantagem disso e enfaixou sua mão ensanguentada e o firmou com a tipoia improvisada. Observou-o com cuidado, decidindo que se não o levassem a um hospital de trauma logo, ele perderia a mão inteira.
Declarou aquilo em voz baixa para Slade.
— Vou dar um jeito nisso. — Slade franziu o cenho. — Bem depois que eu criar asas e sair voando daqui. O que quer que eu diga? Estamos ferrados.
— Você poderia ir até a pista pedir ajuda ao invés de ficar aqui dizendo coisas inteligentes.
— E as duas caminhonetes lá em cima que tentaram nos tirar da pista, hein? Claro. Eles conseguiram e ainda podem voltar para garantir que estejamos mortos. Eles se dariam a esse trabalho para tentar nos matar. Eles também têm armas.
— Você não os viu descendo, certo?
A expressão de Slade endureceu de raiva.
— Eles podem ter voltado para pegar os idiotas da pick-up vermelha que eu enchi de furos. Possivelmente tem ainda mais deles vindo atrás de nós. Talvez eles queiram fazer uma festa. Podem estar vindo para cá neste momento. Vou checar enquanto você fica aqui. — Ele se virou e desapareceu do outro lado do carro.
Trisha se sentou. Sua cabeça doía e seu joelho latejava. Evitou mexer o seu ombro dolorido. Toda vez que estirava o braço direito tinha vontade de fazer careta.
Tocou-o com a mão esquerda e esfregou seu ombro machucado. Não estava deslocado e não sentia nada quebrado. Esperava que só fosse uma distensão muscular ou só um hematoma. Machucar cartilagens podia ser bem doloroso.
Bart acordou. Trisha sorriu para ele.
— Como está se sentindo?
— Com dor. Não quero mais esse trabalho.
Trisha assentiu.
— Não culpo você. Por que não tenta sentar?
— Eu não quero. Quando a ambulância vai chegar? Slade foi buscar ajuda?
— Ele foi se certificar que aquelas pessoas que nos tiraram da estrada não estejam vindo para cá nos procurar. Ele vai voltar e vamos sair daqui logo. Não se preocupe, Bart. Eu sou médica, lembra? Você está ótimo.
* * * * *
Slade ignorou seus ferimentos. A raiva o ajudava a subir o monte, cada um dos seus sentidos em alerta máximo. O cheiro de gasolina confundia o seu olfato, tornando difícil distinguir os cheiros. Ela tinha se derramado do carro por entre os escombros por onde atravessava e seu olhar ia para cima, procurando qualquer sinal de movimento estranho.
Trisha podia ter morrido. Consumiu-se de raiva ante a ideia. Definitivamente tinha se machucado. O cheiro do seu sangue ainda permeava sua memória, apesar do terrível cheiro de combustível. Meio que esperava que um ou dois dos imbecis que os atacaram tivessem descido. Adoraria matar os bastardos por a machucarem.
Uma enorme massa rochosa interrompeu o seu progresso quando ele se viu de frente a uma parede rochosa de uns sete metros de altura. O carro tinha caído dela. A visão fez com que percebesse o quanto eles tiveram sorte de ter sobrevivido. A frente do veículo tinha sofrido o maior dano, mas se tivessem batido de lado...Estremeceu. Trisha teria morrido.
A lembrança dele tentando agarrá-la, tentando proteger seu corpo com o seu durante a pior parte do acidente iria assombrá-lo. Ela foi arremessada dos seus braços no final, quando sua cabeça bateu em metal. Foi forte o bastante para fazer seu corpo ficar mole. Assustava-o perceber como ela por pouco foi arremessada quando a viu ir parar no compartimento traseiro do utilitário.
O macho humano ao volante devia ter sido mais forte, mais durão, e os conduzido em segurança. Ao invés disso, medo e pânico o haviam dominado até que perdesse o controle da situação e do veículo. Apertou os dentes.
Devia ter insistido em dirigir, mas Justice desejou um humano ao volante para atrair menos atenção. Os vidros fumês escondiam Slade dos carros que passavam na estrada. Jurou que era a última vez que cumpria uma ordem dessas. Seria ele quem ia dirigir se Trisha viajasse outra vez.
Uma sensação de gratidão o encheu por ter exigido que fosse com Trisha. A ideia de ela ser atacada sem ele por perto o deixava gelado por dentro. Continuou a vasculhar a área acima, observando por qualquer sinal dos seus atacantes. Humanos seguiriam o caminho destruído para localizá-los. Talvez pensassem que tinham morrido.
Relaxou. Seu pessoal perceberia que tiveram problemas quando não chegassem logo. Estaria escuro antes que a ajuda chegasse, mas ele poderia manter Trisha viva sem importar quanto demorassem para encontrá-los. Um som o alcançou e uma pequena leva de terra caiu à sua esquerda. Instantaneamente apurou os sentidos.
— Porra — disse uma voz masculina. — Preciso de luvas.
— Fique feliz por termos uma corda. Acha que eles morreram?
— Não vou me arriscar. — outra voz de homem declarou. — Precisamos acha os corpos para provar que matamos aquelas aberrações animais. Vamos tirar fotos com os celulares.
— Espero que isso aguente. Tem certeza que os nossos pesos juntos não vão torar as cordas? — O homem que falou tinha um leve sotaque. — Eles tinham que cair bem aqui? É um terreno bem difícil.
Slade fez a volta, moveu-se rápido, e se escondeu por trás das árvores para conseguir ouvir melhor o som que vinha de cima. Ele avistou seis homens, todos em vários estados de vestimentas, mas a coisa que tinham em comum era as armas presas às suas costas. Seus lábios se abriram, as presas apareceram, mas conteve o rugido que ameaçava explodir ante a visão de seus inimigos.
Poderia lutar com eles, sentar-se e esperar para atacar, mas e se perdesse? Tinha perdido a arma na queda. Não podia atirar em nenhum deles nem para diminuir a diferença de números. Isso deixaria Trisha indefesa contra eles se falhasse em matar todos antes que acabassem com ele com balas. Os humanos a teriam sob sua misericórdia.
Um rosnado baixo o deixou quando ele se virou para voltar rapidamente até ela. Não arriscaria de modo algum a sua vida. Bart não lhe parecia um macho durão o suficiente para caminhar com os ferimentos que tinha. Enquanto se movia com velocidade, mas em silêncio, para evitar alertar os homens acima de sua presença, chegou a uma amarga decisão.
Teria que deixar o segurança humano para trás se ele se recusasse a fugir. Trisha poderia protestar. Ela tinha um coração mole, mas não importava o que custasse, Slade a salvaria.
Mesmo se tivesse que apagá-la e carregá-la sobre o ombro. Determinação fez com que corresse mais rápido para alcança-la.
* * * * *
—Temos que sair daqui agora. — urrou Slade de repente de trás de Trisha.
Ela deu um pulo e virou a cabeça, fazendo uma careta. Seu ombro gritou em protesto pelo movimento repentino.
— Qual é o problema?
— Seis homens estão vindo atrás de nós. Eles têm cordas e armas com eles. Acho que foi isso que lhes custou tanto para descerem. Onde caímos é escarpado da estrada.
— Talvez seja ajuda. — Bart soava esperançoso.
— Com armas amarradas nas costas? — Disparou Slade. — Por favor. Chegarão aqui rápido. — Slade se virou. — Levante. Vou levar o que achar que seja útil para que sobrevivamos e já vamos. Vai escurecer em breve e isso vai nos ajudar a escapar deles.
Trisha lutou para se levantar e tentou fazer com que Bart segurasse sua mão para puxá-lo pelo seu braço bom. Ele sacudiu a cabeça com determinação.
— Não. Eu ficarei aqui. Tem que ser aquelas pessoas anti-Novas Espécies. Vou lhes dizer que sou humano e eles me arrumarão socorro.
— Ficou louco? — Ofegou Trisha. — Eles tentaram nos matar e acha que dizendo a eles que é humano vai importar para aqueles tipos?
— Eles odeiam os Novas Espécies e tenho certeza que foi por isso que nós fomos atacados. Talvez até achassem que estava transportando Justice North. Eles realmente o odeiam.
Slade voltou trazendo a bolsa de viagem de Trisha. Chegou perto dela e passou a alça por cima de sua cabeça e debaixo do braço, simulando uma tipoia sem lhe pedir permissão. Evitou colocar a alça em seu ombro dolorido. Surpreendeu-a que ele obviamente tivesse notado ela evitando aquele lado. Ele parecia furioso ao olhar para Bart.
— Estamos indo. Acho que eles vão mata-lo, então levante o seu traseiro daí e mexa-se se quiser viver. — Slade rosnou as palavras. — Vai morrer se ficar aqui, garoto. Não tenho tempo para segurar sua mão enquanto tenta achar seu cérebro. Não perderei a minha vida nem a dela ficando aqui tentando colocar juízo na sua cabeça. Fique de pé.
Bart retribuiu o olhar raivoso de Slade.
— Eu sou humano e eles não vão me machucar. Irão chamar uma ambulância.
— Você vai morrer, mas eu não tempo para discutir. Foi avisado. Eu tentei e é tudo que posso fazer por você. — Slade se virou e segurou o rosto de Trisha com uma mão larga, forçando-a a olhar para ele. Seu olhar intenso se encontrou com o dela. — Precisamos correr e ficar bem longe deles. Você está mancando e eu vou levá-la nas costas. Eu a colocaria na frente, mas o terreno é difícil e vou precisar das mãos livres. Não discuta comigo, Doutora. Eles estão vindo. Vamos morrer se ficarmos aqui.
Trisha tinha que concordar. Não tinha dúvida de que aqueles homens eram perigosos.
— Ok.
Slade virou as costas para ela e se agachou. Virou a cabeça para espiá-la e abriu os braços de lado.
— Suba.
Ela não passeava nas costas de alguém desde que era uma menininha. Não hesitou, contudo, quando subiu nas costas de Slade. Passou os braços num aperto folgado em volta do seu pescoço, garantindo que não ia estrangulá-lo e prendeu as coxas no seu quadril quando se levantou. Trisha olhou para Bart no chão.
— Venha com a gente. Por favor?
— Eles não vão me machucar. Ligarei para Homeland quando chegar no hospital. Vou lhes dizer o que aconteceu e eles mandarão ajuda para vocês.
— Última chance. — rugiu Slade ao se afastar do carro. — Venha conosco ou morra.
Ele se moveu rapidamente pelas densas árvores, sem esperar que Bart respondesse. Trisha se segurou.

Slade - novas espécies 2 - Laurann DohnerOnde histórias criam vida. Descubra agora