Capítulo 18

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Trisha sentiu lágrimas quentes correndo pelo rosto quando o tiroteio cessou. Ela ouviu outro rugido, seguido de perto por algo similar a um uivo de lobo. Levantou a cabeça e viu Brass se levantar do chão. Moon estava na janela sorrindo.
— Devia ver isso. Tem uns dez dos nossos ali fora e já pegaram os imbecis. Um filho da puta está tentando fugir de Valiant. Ops. Ele achou que poderia fugir de Valiant. Agora ele está voando… ai. Estava imitando um pássaro, mas agora faz parte de uma árvore. Bem, era até cair no chão. Agora está morto. — Moon riu. — Isso deve doer. Parece que viu foi o tronco da árvore.
Trisha lutou para ficar de joelhos e fitar Harley, percebendo que ele não estava se movendo e instantaneamente tocou em seu pescoço. Um soluço saiu de sua garganta quando não encontrou um pulso. Agarrou a camiseta dele desesperadamente e a rasgou para examinar o ferimento aberto do lado esquerdo do seu peito.
— Oh não. — ofegou Brass.
Trisha se mexeu. Era difícil no colchão macio, mas ela ficou ao lado dele e inclinou a cabeça para ouvir suas vias aéreas. Trisha estava em cima dele, agarrando seu nariz com uma mão, apoiando-o com a mão detrás do seu pescoço, e cobriu sua boca para começar a respirar por ele. Soprou o ar, moveu os olhos para ver o peito dele subir e se sentou. Ela o soltou para apertar as mãos juntas em seu peito acima do ferimento. Contou em sua cabeça quando fez as compressões.
— Trisha? — Era a voz de Slade e ele estava perto.
— Chame o socorro — ofegou, sorvendo o ar e soprando na boca de Harley. Forçou o ar em seus pulmões outra vez. Fez mais compressões no peito. — Socorro aéreo. Do hospital de trauma mais próximo. Rápido.
— Trisha? — Slade estava muito perto, quase como se estivesse na cama atrás dela. — Ele está morto.
Trisha forçou o ar nos pulmões de Harley outra vez.
— Não! — recusava-se a desistir. Ele tinha usado o corpo para protegê-la até que chegasse a escada. Tinha tomado balas protegendo a ela e o seu bebê.
De jeito nenhum desistiria dele. Já tinha salvado pacientes com ferimentos piores. Continuou o que estava fazendo até parar, checar o seu pulso, e quase desmaiar de alívio.
— Há um batimento cardíaco. — Ela fitou o rosto dele para garantir que continuava respirando.
O alívio a invadiu quando ele respirou sozinho uma vez e então de novo. Seu pulso estava fraco, mas presente. Trisha estudou o seu peito e descobriu que era um ferimento que havia comprometido o seu pulmão.
— Alguém me arrume algo de plástico. Uma sacola, qualquer coisa. Rápido. O pulmão dele vai falhar.
Alguém lhe passou um saco de lixo novo e dobrado e ela se pôs a trabalhar enquanto Harley continuava respirando sozinho. Ela pôs pressão no ferimento. Tinha que ser cuidadosa e não colocar muito peso por medo de fazer o seu pulmão ferido falhar. Uma eternidade pareceu passar enquanto Trisha se ajoelhava ao lado dele até finalmente ouvir um helicóptero.
Braços a agarraram em volta da cintura.
— O socorro chegou. Eles não podem ver você, Doutora. Ninguém pode. Deixe-o. Moon vai segurar isso no lugar para você. — Slade a segurou, falando baixinho em seu ouvido. — Vamos, doçura. Já fez tudo o que podia fazer. Não são as nossas pessoas dentro daquele helicóptero, eles são que nem você, e se ficar aqui haverá muitas perguntas.
— Leve-a pela janela dos fundos — ordenou Brass baixinho.
Trisha virou a cabeça para encarar Slade.
— Eu sou a médica dos Novas Espécies e ele precisa de mim.
Slade a segurou com mais força contra o corpo.
— Pense no bebê, Trisha. Eles podem fazer o que você pode por ele.
Ele a levantou completamente da cama e se apressou até a janela de trás. Balas a tinham quebrado na maior parte, mas os cantos despedaçados tinham permanecido. Brass passou pela janela primeiro e foi para cima do telhado da varanda, somente para desaparecer, saltando a extremidade. Slade agarrou Trisha, virou-a dentro dos braços e se abaixou. Eles quase não passaram pela abertura, mas conseguiram chegar ao telhado. Slade foi até a beira para dar uma olhada em baixo.
— Harley precisa de mim. Coloque-me no chão, Slade. — Ela se revirava desesperadamente, tentando dar uma olhada na cama e viu um vislumbre do seu amigo deitado imóvel com Moon em cima dele. — Por favor. Eu sou uma médica!
Slade parecia ignorá-la quando falou com outra pessoa.
— Consegue segurá-la?
— Sim — urrou Valiant. — Jogue-a.
Jogar-me? Os olhos de Trisha se arregalaram quando olhou para Slade, retirada de sua necessidade desesperada de monitorar a situação de Harley. A expressão fechada de Slade não a tranquilizou.
— Fique quieta como está, doçura. — Ele a ergueu para longe do corpo na beira do teto e a soltou.
Trisha teve uma sensação terrível de queda e grunhiu quando dois braços fortes a pegaram nas costas e por trás dos joelhos. Slade a soltou de uns dois metros e meio nos braços de Valiant. Ela fitou em choque o feroz Nova Espécie. Ele se virou e saiu em disparada para a floresta com ela presa ao seu peitoral maciço. O pânico a atingiu fortemente quando ele saiu correndo com ela. Eles alcançaram uma parte mais densa da floresta longe da cabana, mas ele continuou seguindo.
— Estamos longe o bastante — declarou Brass, correndo ao lado deles.
— Me levem de volt, — exigiu Trisha. — Eu preciso ajudar Harley. Eu posso fazer coisas que um médico não pode durante o voo. — Ainda conseguia ouvir o som de um helicóptero.
Eles provavelmente teriam dificuldade em estabilizá-lo e ela não tinha certeza de onde ficava localizado o hospital de trauma mais próximo.
— Eu preciso monitorá-lo e...
— Cale a boca. — rosnou Valiant.
O medo de Trisha superou seu ultraje de ser levada para longe do seu paciente. Ela selou os lábios enquanto o cara continuava correndo com ela dentro dos seus braços enormes, levando-a para mais longe da cabana.
Valiant finalmente desacelerou e baixou o olhar para Trisha, franzindo o cenho.
— Devia comer. — Ele olhou em volta, espiando os arredores.
Trisha ficou emocionada em ver Slade sair correndo da floresta atrás deles. Ele riu.
— Rota de fuga limpa. — Ele se aproximou de Valiant e abriu os braços. — Eu fico com ela. Obrigado.
Trisha encontrou seu olhar.
— Harley precisa...
— Os humanos estão com ele e você não vai voltar lá.
Slade estreitou os olhos escuros.
— Pode discutir comigo, mas não vai mudar nada. Você o salvou e agora cabe a eles garantir que sobreviva. Nossa prioridade é você e o bebê. Harley sabia que seria perigoso quando aceitou o trabalho e os riscos.
Lágrimas rolavam pelas suas bochechas. Queria protestar, mas percebeu quando ouviu o helicóptero se distanciar que eles já o tinham levado. Não podia fazer mais nada por ele. Só tinha que esperar que a equipe do resgate fosse das melhores e que o pulmão dele não falhasse. Seu coração poderia parar de novo. Umas cem outras coisas que podiam dar errado começaram a aparecer em sua mente até ela afastar todas as hipóteses. Não podia fazer mais nada por ele e se preocupar com os “e se” não faria bem a ninguém. Era uma profissional e sabia que tinha de deixar para lá até que ouvisse notícias do hospital.
Valiant a transferiu para os braços de Slade.
— Aqueles homens destruíram o interior da minha casa. — Rugiu Valiant com raiva. — Eu estava fora caçando e senti o cheiro deles. Eles já tinham ido embora quando alcancei a minha casa, mas eu os segui nessa direção.
— Sinto muito. — Slade o observou. — Obrigado pela ajuda.
— Ela é uma de nós.
Slade assentiu.
— Minha, especificamente.
Valiant arqueou uma sobrancelha.
— Agora faz sentido por que ameaçou me matar por ter tocado nela. Deveria alimentá-la mais. Está muito magricela. Ao menos deveria emprenhar uma grande se vai montar uma humana. Posso sentir todos os ossos dela.
— Eu não sou magricela — protestou Trisha baixinho, usando uma mão para enxugar o rosto. Ela fungou e sua raiva aumentou. Deve ter sido o estresse e o trauma, mas ela se sentia ofendida. — Eu precisava perder quatro quilos antes de engravidar. Também como bastante. Está me fazendo sentir como se não cuidasse de mim mesma. Sou saudável a ponto de ter excesso de peso que posso perder.
Slade limpou a garganta.
— Onde? Eu sou favorável aos seus seios e amo o seu traseiro exatamente como é.
— Sabe que eu vou ficar maior, bem maior, em alguns meses, não sabe?
Slade assentiu.
— Mal posso esperar para te ver gorda.
— Eu não serei gorda — emitiu faíscas. — Grávida e gorda não são a mesma coisa.
— Para onde devíamos levá-la? — Brass se aproximou.
— Pode levá-la para a minha casa — suspirou Valiant. — Só por um dia. — Ele disparou um olhar de aviso para Slade. — Só um.
— Obrigado. Sua casa é a mais perto e eu preciso escondê-la até a noite cair. Quero levá-la para a minha casa sem que ninguém a veja. Vai haver uma confusão por lá agora depois do que aconteceu. Em algumas horas as coisas vão se acalmar. — Slade mudou a posição dela em seus braços. — Eu a quero escondida rápido.
Valiant assentiu.
— Melhor ainda. Vamos.
— Pode me colocar no chão — Trisha informou Slade.
Ele sacudiu a cabeça.
— Está descalça. Só passe os braços em volta do meu pescoço e relaxe. — De repente ele sorriu. — A não ser que queira que a coloque nas costas de novo.
Ela passou os braços em volta do pescoço dele, lembrando-se do tempo depois do acidente e como os músculos de suas coxas tinham doído por dias depois de ser carregada que nem um macaquinho por ele.
Valiant foi na frente com Slade seguindo e Brass atrás.
— Onde está Moon? — Trisha virou a cabeça, procurando, mas não o viu. — Ele está bem? Ele não foi baleado também, foi?
— Ele está ileso. Ele quis ficar com Harley. — Respondeu Brass. — Ele fará a guarda dele enquanto estiver dentro do hospital humano.
— Alguém vai nos dizer como Harley está? — Trisha encontrou o olhar de Slade. — Por favor. Vou me preocupar até saber se ele sobreviveu.
Ele assentiu.
— Eu vou garantir para que receba notícias assim que tiver informações de sua condição.
— Obrigada. — Sabia que ele manteria a palavra.
* * * * *
Valiant vivia em uma casa enorme de dois andares. Trisha a fitou, surpresa. Era uma casa antiga em estilo Vitoriano, em muito boas condições. Alguém tinha restaurado adoravelmente o lugar a não ser que tivesse sido construído para imitar uma casa antiga. De qualquer forma, parecia autêntica e esplêndida.
— Essa é a terra que compramos que ficava ao lado do antigo resort — explicou Slade. — Uma senhora vivia aqui, mas seu filho morreu. Ela ficou completamente sozinha e não estava muito bem. Agora está em um asilo particular com uma equipe cuidado vinte e quatro horas dela. Pudemos comprar um monte de propriedades na área que circulava o resort. Pagamos quase o dobro do valor de mercado a eles para deixá-los felizes.
Valiant caminhou pelos largos degraus da varanda. As portas duplas estavam quebradas e Trisha fez uma careta. Uma das portas com vitrais tinha sido destruída e Trisha sabia que seria impossível substituí-la. Brass usou o pé para tirar o vidro do caminho enquanto Valiant os apressava para dentro da casa.
Trisha fitou o belo trabalho de carpintaria dentro do hall de entrada e o corrimão cravado a mão que levava ao segundo piso. Suas dúvidas sobre a verdadeira idade da casa desapareceram. O bonito trabalho de madeira brilhava com amor e orgulho, trabalhos manuais que não existiam mais, a não ser para os extremamente ricos. Valiant os guiou pelas portas duplas até uma enorme sala de estar. Trisha a fitou em horror.
— Eles destruíram a maior parte da casa — urrou Valiant. Ele foi até o sofá virado e o colocou de pé. — Coloque-a aqui. Nós três podemos ser capazes de deixá-la mais confortável.
— Eu sinto muitíssimo — disse Slade com sinceridade. — Vamos ajudá-lo a substituir o que foi destruído. — Ele depositou Trisha gentilmente no sofá antes de se afastar.
Trisha observava quieta enquanto os homens endireitavam os móveis. Estava grata que ninguém tivesse rasgado a mobília com uma faca. Valiant saiu para pegar uma vassoura e um espanador. Não demorou muito para que os homens terminassem de limpar.
— Posso usar o seu telefone? — Slade olhou para Valiant.
— Eles não destruíram o da cozinha. Use-o. — Slade desapareceu. Brass levou o lixo para fora. Valiant estudou Trisha de cara fechada enquanto ela devolvia a observação.
— Eu vi o que você fez por Harley. Ouvi dizer que é médica.
Ela assentiu.
— Eu trabalho em Homeland.
— Já trabalhou para as Indústrias Mercile? — A raiva tornava os seus olhos de gato exóticos uma visão assustadora.
— Não. Eu nunca vi um Espécie até depois que vocês foram libertos. Slade foi levado para a minha sala de emergências diretamente do laboratório de onde o resgataram.
Ele relaxou.
— Você parece muito nova para ser uma médica.
— Eu comecei a faculdade com quatorze anos. Sempre fui meio inteligente.
— Realmente trabalha em Homeland?
— Sim.
Valiant sorriu, todos os sinais de sua raiva desaparecendo.
— Ficou atraída por Slade? Ele é meio bruto.
Ela sorriu.
— Ele tem os seus momentos.
— Ouvi que algumas das nossas mulheres são mantidas em Homeland. Você também cuida delas?
— Quando precisam de mim.
— Me faria um favor quando voltasse lá?
— Sim — concordou instantaneamente. Ele tinha ajudado a salvar sua vida.
Os olhos dourados de gato estreitaram.
— Não quer saber o que eu quero antes de concordar?
— Você ajudou a salvar a minha vida e eu devo isso a você. Do que precisa de mim?
Ele hesitou.
— Eu quero uma companheira. Você falará com as mulheres para ver se há alguma interessada? É solitário por aqui. Eu quero uma mulher grande, robusta. Eu prefiro uma Espécie felina, mas contando que ela seja durona não serei muito exigente. — Ele pausou. — Eu assusto a maioria da minha espécie. Nossas mulheres não se assustam fácil já que foram criadas nos laboratórios. Eu cruzei uma vez com uma felina em cativeiro e ela não gritou ao me ver nem implorou aos homens que a trouxeram até a minha cela para a levarem embora. Todas as outras me recusaram. Primatas especialmente ficavam aterrorizadas ao serem apresentadas a mim.
Trisha teve que engolir com dificuldade e se lembrar de manter a boca fechada. Ele queria que lhe achasse uma namorada? Engoliu outra vez.
— Posso falar com elas. Tem umas doze mulheres Novas Espécies vivendo nos dormitórios em Homeland. Não tenho certeza de quantas são felinas, mas já vi algumas.
Ele assentiu.
— Eu já ouvi falarem. Fale com elas por mim e diga a elas que não sou tão assustador quanto aparento. — Ele se levantou de repente. — Está com fome?
— Um pouco.
— Eu vou atrás de uma comida decente para você. Mulheres grávidas devem comer com frequência e você precisa disso mais que a maioria. Está magricela demais. — Ele saiu da sala.
Trisha abraçou a própria cintura e deixou a conversa fazer sentido. Valiant era um homem grande. Se alguém a levasse para sua cela e pedisse que transasse com ele, provavelmente também surtaria.
Ela sacudiu a cabeça em descrença. Ele parecia legal quando se acalmava e não estava rosnando. Talvez uma das Novas Espécies ficasse interessada nele, mas ela não invejava a mulher. Ele era grande e feroz demais. Não acreditava que ele machucasse a pessoa com quem estivesse, mas somente a visão dele enfurecido seria suficiente para matar de medo qualquer uma que o namorasse se ele perdesse a cabeça.
Slade voltou sozinho e sentou no sofá, a centímetros dela.
— Eu falei com Moon. Harley está em cirurgia e está aguentando. Todos os homens que atacaram você foram pegos, mas a maioria morreu. Os três que sobreviveram estão sendo entregues as autoridades humanas e serão interrogados. — Ele a estudou. — Como está, doçura? Desde que se envolveu com a minha gente sua vida não teve muitos momentos de tédio, teve?
Ela hesitou.
— Eu não trabalhava para os Novas Espécies quando o vi pela primeira vez. Você me deixou muito curiosa, eu mandei meu currículo para Justice, então eu culpo você.
Ele sorriu.
— Sério?
— Sim.
— O normal seria pensar o contrário. Eu a agarrei quando acordei e a trouxe para a cama. Prendi-a debaixo de mim e lhe disse o que planejava fazer com você.
Ela podia sentir as bochechas esquentarem.
— É, bem, talvez tenha sido isso que despertou meu interesse.
O sorriso de Slade se alargou e ele estendeu o braço. Sua mão deslizou pela sua coxa para esfregar sua perna.
— Que parte a interessou? Eu sei que tinha certeza que queria mantê-la debaixo de mim por dias.
— Essa parte me deixou acordada várias noites, pensando em como seria se você tivesse o que queria de mim.
Ele se aproximou mais.
— Eu ainda não tive a oportunidade de fazer isso, doçura. Quero passar dias com você debaixo de mim.
— Não vai montar nela no meu sofá. — urrou Valiant.
Slade saltou para trás e sua mão soltou Trisha. Ele sorriu para Valiant.
— Desculpe. Não ouvi você entrar na sala.
— Estava concentrado demais na fêmea. — Valiant passou um refrigerante para Trisha e um bolinho de banana e nozes. — Me surpreende o quanto a nossa espécie amoleceu depois que fomos libertos. Antes ninguém poderia surpreendê-lo antes que tivesse ciência de sua presença.
— Antes nós éramos acorrentados a paredes e dormíamos em tapetes no chão. Antes nós éramos prisioneiros. O antes já acabou.
Valiant assentiu.
— Verdade.
— Eu tenho que lidar com as consequências do que aconteceu. — Slade olhou de forma intensa para Valiant. — Tudo bem se eu deixá-la e Brass aqui com você?
— Tudo bem, mas lembre-se que disse que ia levá-la para casa à noite.
Slade se levantou e seu olhar encontrou o de Trisha.
— Está segura aqui e eu voltarei em algumas horas quando o sol se pôr. Vou levá-la para a minha casa. Descanse um pouco.
— Ok. Volte logo.
Slade sorriu.
— Eu volto. Voltarei para você em breve.
Trisha estremeceu. Ela o tinha ouvido dizer aquilo antes, mesmo assim ele nunca voltou. Ao invés disso a evitou aceitando um trabalho supervisionando a Reserva. Ela o observou ir embora, percebendo que tinha que aprender a confiar nele ou sempre teria medo cada vez que se afastasse dela. Não queria viver assim.
— Não fique tão temerosa. Está segura comigo. É magra demais para atrair meu interesse sexual, Slade já a reivindicou, e eu estou com muita raiva pelo o que fizeram com a minha casa para me excitar com o seu tentador aroma feminino. Ele vai voltar. — Valiant rosnou baixo. — Ele sabe que eu acabaria com ele se me deixasse com uma humana por mais de um dia. Eu tenho que limpar algumas coisas. Relaxe. Durma. Só não saia daqui. Há um banheiro perto da porta de entrada caso precise usá-lo. Os invasores que adentraram no meu domínio não o destruíram. Brass vai me ajudar a consertar tudo.
— Vou? — Brass estava de pé na entrada.
Valiant assentiu.
— Eu sou maior e digo que vai me ajudar.
— Funciona comigo. — Brass piscou para Trisha. — Eu vou ajudar o felino gigante a limpar.
— Ficarei bem aqui descansando e não ajudando. — provocou Trisha.
Brass riu antes de se virar e seguir Valiant para fora da sala. Trisha terminou seu bolinho e deitou no confortável sofá até perceber que suas mãos ainda estavam ensanguentadas pelos ferimentos de Harley. Tinha ficado tão distraída com tudo o que aconteceu que não notou antes.
Fitou o sangue seco e lutou contra a vontade de vomitar. Levantou-se e foi procurar o banheiro, sabendo que aquela batalha estava perdida. Seu estômago pesava e ela quase não chegou a tempo de perder seu lanche. Dez minutos depois ela se esticou no sofá. A exaustão a ajudou a cair no sono rapidamente.
* * * * *
— Fico feliz em ouvir isso. — Slade desligou o telefone, o olhar encontrando o de Tiger, e ele exalou profundamente. — Harley sobreviveu à cirurgia. Justice enviou uma equipe humana para ajudar Moon a fazer a segurança dele com mais alguns dos nossos. Ele vai ficar bem.
— Tivemos notícias das autoridades. Eles querem permissão para irem até a cena do crime, mas Justice está lidando com isso com a ajuda de Fury. Não podemos permitir que entrem na zona selvagem e eu mandei um dos nossos recolher todos os pertences da doutora. Não queremos deixar nenhum traço dela lá caso a polícia consiga convencer Justice a permitir que vejam o local em que o ataque aconteceu.
— Obrigado. — Slade se inclinou na cadeira. Ergueu uma mão e passou-a pelo cabelo. — Eu podia tê-la perdido. Outra vez.
— Mas não perdeu. É por isso que eu não o invejo por ter uma humana.
— Um dia pode encontrar uma da qual não consiga resistir.
— Não me rogue pragas — Tiger o olhou com raiva.
Um sorriso curvou os lábios de Slade.
— Não é tão ruim.
— Você vai ser pai. É parcial. Sua mulher lhe deu um milagre.
Aquela realidade continuava fazendo o coração de Slade acelerar.
— Eu vou, mas ela é a única para mim muito antes de eu saber do bebê que cresce dentro dela. Estou feliz, mas preocupado. Ela não é Espécie. Humanas não são tão duronas quanto as nossas fêmeas. Eu penso em todas as coisas que poderiam dar errado.
— Pare. Ela é uma mulher de mente forte, se não é de corpo. Isso importa.
— Ela é bem durona.
Tiger bufou.
— Devia ver o seu rosto.
— O que foi?
— Nada. É muito óbvio que se importa muito com ela. Parece orgulhoso e feliz. — Tiger se levantou para andar pelo escritório. — Eles nunca vão nos deixar em paz e simplesmente nos permitir viver assim.
Slade sabia que Tiger falava dos humanos que os odiavam.
— Eu sei, mas podemos ter essa esperança. Disseram-me que as pessoas temem o que elas não compreendem. Talvez com o tempo eles aprendam mais sobre nós e vejam que não somos inimigos. Nós até segregamos nossas vidas das deles pela maior parte do tempo para garanti-los que estão seguros. Vários deles temem que sejamos instáveis ou que os atacaríamos sem provocação.
— Talvez esse seja o problema. Talvez estabelecendo nossos próprios ambientes não tenha sido o melhor caminho para fazê-los nos aceitar.
— Eu não sei, mas pense em todas as vidas que teriam sido tiradas se eles pudessem nos atacar e eliminar um por um. Pode não ser a melhor forma para fazer com que nos aceitem, mas é a melhor forma para que sobrevivamos. Eles não parecem prontos para serem nossos vizinhos no momento. Ao menos não todos eles. Precisamos aprender com o tempo como viver uns com os outros. Alguns Espécies odeiam humanos. Lembre-se da razão pela qual a Reserva é necessária. — Ele exalou forte. — Estou feliz por não ter o trabalho de Justice. O meu é terminar a Reserva, torná-la um refúgio seguro para o nosso povo e proteger Trisha. Tudo, além disso, é mais do que eu quero pensar no momento. Tentar lidar com o nosso pessoal já é difícil o bastante sem também ter que lidar com os humanos.
— Vamos ter que apertar a segurança outra vez. Eu não sei como vamos fazer isso. Nossos homens já estão cansados e exaustos de tanto trabalho. Nós estamos cheios de humanos que podem não estar aqui somente para trabalhar na construção. Aqueles homens que atacaram a cabana conseguiram trabalho de propósito procurando uma oportunidade para matar alguns de nós. Justice vai trocar alguns dos nossos para que possam descansar. Eu ficarei feliz quando estivermos funcionando cem por cento aqui e possamos fechar os portões para restringir a entrada de humanos.
— Não vai demorar muito.
— Eu sei. — Tiger se inclinou na parede. — Eu estou feliz que a sua doutora não tenha se ferido e que ela tenha conseguido salvar Harley. Aquilo foi incrível. Acabaria com você perdê-la e todos nós sofreríamos se o perdêssemos. Como está com toda essa questão de ser um perigo para ela? Ainda acredita que a reivindicando como sua vai colocar a vida dela ainda mais em risco?
— Eu entendi que ela está em perigo quer eu seja parte da vida dela ou não. Ela escolheu trabalhar para nós. Ela é dedicada. Estou feliz que tenha decidido me dar outra chance. Não vou decepcioná-la outra vez.
— Eu sei que não. — Um sorriso curvava as feições de Tiger. — Você já pensou que sua vida giraria ao redor de uma humana? Ou de uma mulher, para ser mais genérico?
— Não. — Slade devolveu o sorriso. — Mas desta vez estou feliz por ter estado errado. Essa é uma surpresa das boas que a vida jogou no meu caminho.
— Não jogue o trabalho todo em cima de mim. — Rugiu Tiger. — Eu sei que não vai querer sair do lado dela, mas Brass fez um ótimo trabalho protegendo-a e não posso terminar a Reserva sem você. Nós somos um time. Pode protege-la tanto quanto a nossa gente.
Slade assentiu.
— Aumentar a segurança da Reserva irá aumentar a dela. É tudo a mesma coisa agora.

Slade - novas espécies 2 - Laurann DohnerOnde histórias criam vida. Descubra agora