Capítulo 2

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Tenso. Era assim que Trisha descrevia a sua nova relação com o oficial ONE.
Slade patrulhava a seção humana de Homeland, a área em que ela vivia e trabalhava, e ele tinha que lidar com ele. Desde aquela noite eles mal se falavam. Quando o faziam, os dois pareciam chegar a um entendimento mútuo para não mencionarem nada pessoal. Dois meses tinham se passado assim.
O cara era agradável, mas ela queria que não fosse. Slade tinha um riso fácil, um afiado senso de humor, e toda vez que tinha que tratar com ele, a fizera sorrir.
Ele se certificava para que nunca ficassem sozinhos desde a noite em que lhe disse quem era. Estava bastante agradecida por esse fato.
Às vezes, quando ia para casa à noite, conseguia ver um vislumbre dele na rua escura. Podia sentir seu olhar e sabia que ele a seguia para garantir que chegasse com segurança em casa. Era o trabalho dele, lembrou-se. Arrependia-se de ter explodido com ele, mas tinha perdido a cabeça.
Havia algo de errado com ela. Chutava a si mesma mentalmente por ficar com muita raiva de um cara pelas razões que estava, sabendo que não era certo.
Tinha se sentido insultada por ele a ter esquecido. Só há um ano ele quis ficar dias com ela, a chamou de linda, e agora... Suspirou. Ele só achava que era bonita e lhe oferecia uma noite de sexo barata. Nem mesmo uma noite. Ele só me quer por algumas horas.
— Estúpida. — murmurou.
— O que?— Uma voz grossa falou suavemente detrás dela.
Trisha se assustou e virou na cadeira para fitar Slade.
Segurou o peito no lugar do coração.
— Não chegue perto de mim assim sem avisar de novo. Ia matá-lo fazer algum barulho ao andar?
As sobrancelhas dele arquearam e um sorriso curvou seus lábios cheios.
— Assim eu não conseguiria ter esse tipo de reação.
Ela suspirou.
— Estou feliz que pelo menos você ache isso engraçado. Eu com certeza não acho.
Ela olhou em volta da sala, percebeu que não tinha mais ninguém lá, e ficou instantaneamente tensa.
Uh-oh. Aquela era a primeira vez em que se lembrava deles estarem totalmente sozinhos desde a noite que a levou para casa. Tinham interagido um pouco quando ocorreram alguns problemas entre a humana, Ellie Brower, e o seu marido Nova Espécie. Fury foi baleado durante uma coletiva de imprensa onde alguns membros de um grupo de ódio haviam se infiltrado e durante sua recuperação uma enfermeira o drogou, tentando enlouquecê-lo. Eles tinham se visto naquela época, mas mantiveram a interação profissional.
— Do que precisa?
— Que bom que não perguntou o que eu quero. — Ele lhe sorriu, cruzando os braços sobre o peito largo. — Justice precisa viajar de carro e quer que você vá com ele. — Ele mexeu as sobrancelhas. — Disse que arrumasse a mala para dois dias. Eu não tinha ideia que você e Justice estavam dormindo juntos.
Trisha o olhou com raiva.
— Você sabe que o Sr. North e eu... Que não tem nada acontecendo entre nós. Ele é meu chefe e seu líder. Meus negócios com Justice são puramente profissionais.
A língua dele percorreu o lábio superior. Trisha a observou.
Levantou os olhos até os azuis dele, que a fitavam de volta.
— Eu sei, mas eu adoro ver você ficar toda rosinha quando fica com raiva. — Ele sorriu de repente. — Justice quer você pronta em uma hora.
— Mas...
— Uma hora. Não discuta comigo. Eu sou só o mensageiro.
— Mas para onde nós vamos? Estou de plantão hoje e amanhã. O que Justice quer comigo?
Ele deu de ombros, ainda sorrindo.
— Eu só passo as mensagens. Vejo você em uma hora, Doutora. Vou pegá-la em frente à sua casa.
Ela o viu deixar a clínica. Um palavrão passou pelos seus lábios antes que pudesse evitar.
Ele amava atormentá-la e tinha um verdadeiro talento para isso. Pegou o telefone para ligar para o Dr. Ted Treadmont, o segundo médico que contrataram por meio-período, para cobrir alguns dos seus turnos.
Eles realmente precisavam de uma equipe maior. Dois médicos e enfermeiros não eram o bastante.
Ela se lembrou de discutir aquilo outra vez com Justice quando falasse com ele. Ele dirigia os Novas Espécies, era o líder escolhido deles, e tomava a maioria das decisões em Homeland.
Ela olhou para o telefone, um pouco tentada a ligar para ele e dizer que não ia aonde quer que ele quisesse que fosse, mas mudou de ideia. Respeitava Justice e pela razão que fosse, ele precisava que fosse a algum lugar aonde teria que ficar por dois dias. Podia não querer ir, mas iria.
Trisha não tinha ideia do que levar. Soltou um palavrão e decidiu levar um pouco de tudo. Agarrou algumas calças jeans, umas de tecido, e algumas camisetas arrumadas junto com um vestido preto básico, só para garantir. Roupa íntima. Pegou um sapato de salto alto, um par de sandálias, e decidiu ir com os confortáveis tênis de corrida que calçava. Também colocou alguns suéteres para dormir.
Foi até o banheiro para arrumar a nécessaire. Maquiagem e itens pessoais iam dentro dela. Lembrou-se do xampu e do condicionador no caso de ficarem em um hotel. Odiava amostras. Seu cabelo era comprido demais para que elas servissem.
Um utilitário preto encostou-se em frente à sua casa. Trisha deu uma olhada no relógio e viu que ele tinha chegado quinze minutos mais cedo. Apertou os dentes. Slade realmente gostava de irritá-la. Ela pegou a bolsa, a maleta, e colocou uma mala estilo bolsa no ombro. O peso de toda a bagagem fez com que lutasse para sair pela porta da frente.
Ninguém veio ajuda-la. Olhou persistentemente para o guarda dirigindo o carro, mas ele só a observou enquanto fechava a porta e lutava com as chaves para trancar a fechadura. Um pouco da sua irritação passou já que o motorista não era Slade. Relaxou, respirou fundo, e se virou.
Tentou não grunhir enquanto ia pela calçada. Sua maleta era pesada e a bolsa machucava o seu ombro.
A porta de trás do veículo se abriu e Slade saltou de dentro. Ele lhe sorriu, olhando a sua bagagem. Sacudindo a cabeça, ele caminhou até a traseira do carro para abrir a mala. Saiu do seu caminho, riu, e lhe indicou onde colocasse suas coisas.
— Nossa, obrigada pela ajuda. — Ela o olhou com raiva.
— Eu disse que ficaríamos fora por dois dias, não duas semanas, Doutora. Acho que pode guardar suas próprias coisas se acha que vai poder vestir toda essa porcaria que enfiou nessas bolsas.
Ela de fato grunhiu quando levantou a mala para colocá-la na traseira do carro.
— Eu não sabia o que trazer e eu tive que colocar diferentes tipos de roupas. Economizaria bastante se alguém — ela o fulminou quando jogou a bolsa dentro — me dissesse para onde eu iria e do que isso se trata.
Ele fechou o compartimento traseiro.
— Vamos andando, Doutora. Não temos o dia todo para ficar aqui conversando.
Trisha estava fula. Agarrou a bolsa de mão com força. A porta de trás do utilitário ainda estava aberta, ela entrou antes que Slade pudesse entrar, sabendo onde ele estava sentado antes. Deu um sorriso maldoso a ele enquanto se aconchegava no banco ainda quente pelo seu traseiro. Ela fechou a porta e se virou para perguntar a Justice o que estava acontecendo. O carro estava vazio exceto pelo motorista e Slade, que abriu a porta do outro lado e entrou. A porta fechou.
— Vamos pegar Justice agora?— Ela odiava o tom esperançoso em sua voz.
Slade colocou o cinto de segurança.
— Aperte o cinto, Doutora. Não. Justice já foi. Vamos nos encontrar com ele em algumas horas.
Ela suspirou, travando o cinto.
— Para onde vamos?— Olhou para o guarda detrás do volante. — Eu sou a Dra. Trisha Norbit. Qual é o seu nome, motorista?
— Bart — ele disse com alegria. Encontrou o olhar de Trisha no retrovisor. — Nós vamos para o norte, para um resort particular.
Trisha franziu o cenho de forma desconfortável.
— Por que?
— Oh — Bart ligou o carro. — O Sr. North vem fazendo um monte de reuniões por lá. Eles acham que é remoto o bastante para deixar a imprensa bem desconfortável se quisessem tentar segui-lo até lá e acampar para descobrir o que está fazendo. Esperamos que eles não descubram até depois de tudo estiver resolvido.
Trisha ignorou Slade.
— Que tipo de reuniões? Você sabe?
— Oh, claro. — O rapaz era bem falante, o que agradou Trisha. — O Sr. North quer comprar umas terras por lá para os Novas Espécies. Ele marcou reuniões com todos os oficiais lá e com o cara que quer vender a propriedade. Eu ouvi que ele a quer presente caso alguém tenha perguntas sobre coisas médicas. — Ele pausou para respirar. — Ouviu esse rumores estúpidos sobre como as pessoas podem pegar parvo1 e coisas do tipo dos Novas Espécies, certo? Eu fiquei meio preocupado, mas Tiger jurou que era papo furado. Conhece Tiger, Dra. Norbit? Não é verdade, é? Não posso pegar uma doença de animais trabalhando com os Novas Espécies, posso? Porque isso seria algo que eu realmente odiaria. Acho que eles deviam nos dar um adicional de perigo se for verdade. Minha mãe diz que eu deveria procurar um veterinário e tomar algumas injeções só para garantir por...
1 Doença altamente contagiosa que causa febre em cães.
— Cala a boca!— rosnou Slade.
Trisha pulou com o tom da voz de Slade e Bart fechou a boca. Ela virou a cabeça para olhá-lo com raiva. Ele deu de ombros.
— Ele fala demais. Irrita-me.
Trisha tentou esconder seu desprezo.
— Eu lhe garanto que não pode pegar parvo dos Novas Espécies, Bart. Obrigada — ela acentuou as palavras — por me dizer aonde vamos e por que. — Ela deu uma outra olhada ferina para Slade. — Algumas pessoas não apreciam uma pessoa educada, mas eu com certeza o faço.
Slade se virou um pouco, encarou-a mais de sua posição no assento, e sorriu ao cruzar os braços. Ele olhou abertamente para os seus seios e manteve seu foco lá.
— Eu posso ser bem educado quando quero ser. Sei como estimular uma conversa. — Levantou o olhar e piscou para ela. — Sou muito bom com as minhas habilidade orais quando sou motivado.— Baixou os olhos para o seu colo e seu sorriso aumentou. — Sou muito bom com as minhas habilidades orais. Filho da puta. Trisha apertou os dentes, recusando-se a chamá-lo assim em voz alta. Ele não estava falando de conversas e ela sabia disso. Por que ele sempre tentava irritá-la? Talvez achasse que poderia envergonhá-la com as suas frases de duplo sentido sexual, mas ela era uma médica. Respirou fundo e forçou um sorriso. Tinha sido assediada por bêbados nas salas de emergência vezes demais para permiti-lo embaraçá-la.
— Habilidades orais são sempre algo maravilhoso de se ter, Sr. Slade. — Seu olhar desceu para o fecho da sua calça preta e se demorou por lá. Permitiu que seu olhar subisse lentamente pelo seu corpo para examinar cada pedacinho até estarem olhando um nos olhos do outro.
Ela viu que o seu sorriso tinha desaparecido, sabendo que foram suas ações que o tiraram daquele rosto convencido.
— Acho que pode dizer que eu tenho uma verdadeira fixação oral. — Sorriu mais, lambeu os lábios, deixando a língua passar lentamente por eles. A mandíbula dele apertou e ele se ajustou no banco. Notou seu interesse. — Uma boa conversa é muito importante, não acha? É tão estimulante e prazerosa quando feita do jeito certo. Como médica você pode se surpreender com o quanto se aprende sobre o assunto. Faz muito tempo que eu não tenho uma conversa realmente boa e às vezes quase me dói de vontade de querer alguém que consiga me estimular. — Estreitou os olhos. — Mas infelizmente ainda não conheci ninguém com quem realmente queira conversar. Só conheço imbecis que não têm sutileza alguma.
Ele rosnou para ela. Ela riu e virou o rosto do dele para fitar a janela e ver que deixavam Homeland. Os guardas no portão sinalizaram para que passassem. Trisha não se incomodou em olhar para Slade. Tinha medo que ainda estivesse olhando para ela. Virou-se na direção da janela e se ajeitou até encontrar uma posição confortável.
— Espero que não se importem, mas eu vou dar um cochilo.— Não conseguiu resistir. Virou a cabeça para encontrar o olhar de Slade. Ele ainda a observava e os seus incríveis olhos azuis a observavam sem divertimento. Ele parecia, de fato, irado.
— Tenha um ótimo cochilo, Dra. Norbit. Eu a acordo quando chegarmos — ofereceu Bart. — Se importa se eu ligar o rádio?
— De jeito nenhum. — Trisha se virou de volta para a janela, percebendo o quanto realmente estava cansada.
* * * * *
— Rápido. — urrou um homem. — Dirija mais rápido. Ele está bem na nossa cola.
Trisha acordou abruptamente quando bateu na janela. Grunhiu quando a dor explodiu em sua testa. Estava meio dormindo, desorientada, quando levantou a cabeça para olhar em volta do carro e saber o que estava acontecendo.
Slade estava inclinado entre os bancos e Bart ainda dirigia o carro. Trisha estudou o que os rodeava, vendo que estavam em uma área de floresta, numa pista dupla com árvores densas de cada lado. O sol tinha baixado no céu e logo seria noite. Ela segurou a testa onde ainda doía, mas tirou a mão para ver se havia sangue. Não havia.
— Pise mais fundo. — rosnou Slade. — Eles vão nos atingir de novo.
Quem vai nos atingir? Trisha virou a cabeça para olhar para trás. Viu um caminhão vermelho com uma grade de metal se aproximando da traseira do veículo. Sabia que sua boca abriu enquanto o caminhão chegava mais perto, pecebendo que iria bater neles. Ela ofegou baixo quando ele bateu no carro.
O utilitário desviou, ziguezagueando na estrada estreita. A cabeça de Trisha foi arremessada de novo nas costas do banco do passageiro. Seu cinto apertou dolorosamente seu colo quando ela percebeu que tinha tirado o cinto do ombro enquanto dormia.
— Oh meu Deus — Bart soava como se estivesse soluçando. — Eles estão tentando nos matar.
— Aperte o pé. — urrou Slade. — Nosso motor é melhor. Eles não bateriam em nós se você encontrasse seus colhões e acelerasse.
— Eu não consigo. — gritou Bart. — Vou perder o controle do carro. As curvas são muito fechadas.
— Da próxima vez, eu dirijo. — rosnou Slade.
Trisha experimentou medo quando observou os precipícios da estrada. Havia árvores por todo lado e um lado da pista era uma elevação rochosa alta enquanto que o outro, o que estava mais próximo deles, era um abismo com um vasto espaço de árvores. Olhou para baixo. Estavam subindo uma estrada que rodeava uma montanha.
— Chame ajuda. — disse, confusa e apavorada por acordar numa situação daquelas.
— Não tem sinal. — Slade rosnou as palavras, obviamente furioso.
Ele virou a cabeça, olhando para trás. Soltou um palavrão, jogando-se no banco próximo a Trisha. Ela ficou chocada ao ver a arma que tirou das costas. Era uma pistola preta.
— Ai, merda. — ofegou.
O caminhão bateu neles de novo. Trisha foi jogada contra a porta ao seu lado, mas desta vez conseguiu não bater com a cabeça. Ao invés da cabeça, sua mão foi esmagada entre seu corpo e a porta. Slade foi arremessado no banco do passageiro antes de se colocar de joelhos e se abaixar na parte de trás do carro. Apontou a arma.
— Tape os ouvidos, Doutora.
Tapou os ouvidos no momento em que Slade abriu fogo. Vidro explodiu. O som da arma disparando era de estourar os tímpanos. O carro desviava loucamente e quase ficou sobre duas rodas. Bart falou vários palavrões, dando uma curva rápido demais.
Trisha se virou para olhar para trás. Viu uma fumaça branca sair de debaixo do capô do pick-up vermelha, sem precisar ser informada que Slade tinha acertado o motor. Tinha que ter atingido o radiador ou outra coisa. O caminhão desacelerou e o carro se afastou. Slade parou de atirar. Praguejou quando largou o pente vazio e tirou outro cheio de dentro do bolso. Eles deram uma curva e o caminhão não estava mais atrás deles.
Trisha ficou de boca aberta. Seus olhos azuis olharam os seus.
— Você está bem, Doutora?
Ela conseguiu assentir.
— Quem eram aqueles?
Slade deu de ombros.
— Meu palpite é que não eram nossos amigos. — Ele se jogou no banco de lado, colocando a arma no assento entre eles. Tirou sua atenção dela para ver o dano à janela de trás. O vento entrava no carro pelo buraco. Ele tirou o celular do bolso. Abriu o aparelho, olhou para a tela por alguns segundos e disse um palavrão horrível.
— Ainda não tem sinal. — Seu olhar encontrou o dela. — Onde está o seu celular, Doutora?
— O meu também não vai ter se o seu não tem.
— Nunca se sabe. Nossas operadoras podem ser diferentes. Onde está? Não quero ficar aqui sentado debatendo isso. Prefiro tentar.
Ela fez menção de pegar a bolsa, mas não estava no lugar onde a havia deixado. Olhou para baixo e percebeu que havia caído no chão. Apontou para onde estava. Slade a pegou. Sua mão praticamente esmagou a bolsa quando a levantou. Em um segundo ele virou a bolsa, esvaziando todo o seu conteúdo no banco entre eles com algumas sacudidas bruscas.
Trisha teve que lutar contra a vontade de gritar com ele quando seu queixo caiu em choque.
Aquelas eram as suas coisas e ele simplesmente as jogou no assento como se fossem lixo. Enfiou a mão na bagunça que havia criado para encontrar o seu celular e abri-lo.
— Maldição. — rugiu. Jogou o celular no chão.
— O telefone é meu! Não o quebre.
Seu temperamento explodiu. Também estava assustada e com muita, muita, raiva. Desafivelou o cinto de segurança para se inclinar para frente e checar o seu celular. Slade a empurrou de volta no banco com a mão.
— Não vai funcionar mesmo. — rosnou, olhando-a com raiva.
— Jogue o seu telefone, não o meu. Isso é falta de educação.
— Me desculpe. Eu odiaria ser mal educado quando alguém acabou de tentar nos matar.
— Oi? — gritou Bart. — Tem outra caminhonete. Vocês podiam parar de brigar? Acho que temos outro problema. Parece que eles não estavam sozinhos!
Trisha virou a cabeça para fitar em horror para trás. Um segundo caminhão se aproximava rapidamente, esse uma pick-up azul que também tinha uma grade de metal, quase que idêntica a vermelha. Ela viu um homem se erguer na caçamba da caminhonete, um braço segurando a barra de metal acima da cabine para se manter de pé, e o outro braço erguido tentando mirar uma arma neles. Ela abriu a boca para gritar um alerta.
Slade segurou a camiseta de Trisha e a puxou para cima do banco. Seu corpo esmagou o dela, fazendo com que sua bolsa e os objetos dentro dela pressionassem seu estômago. Slade meteu a mão entre ela e o banco. Agarrou seu seio, apertou e tirou a mão. Ele achou a pistola e a tirou debaixo dela com nem um pouco de delicadeza. Um ruído alto soou, mas foi abafado já que as coxas de Slade estavam coladas em suas orelhas.
Minha cabeça no meio das coxas de Slade. Isso queria dizer que o peso em sua nuca... Apertou os dentes. Como Slade podia estar excitado quando alguém atirava neles? Ela lutou para sair do meio de suas pernas, mas seu peso maciço e esmagador a manteve quieta. Seus músculos apertaram de repente, quase esmagando a cabeça dela no processo.
— Fique quieta. — exigiu ele. — Está empurrando os meus ovos.
— Vá se foder. Saia de cima de mim. — gritou.
Uma mão larga de repente bateu com força no traseiro de Trisha, mandando uma explosão de dor ao seu cérebro, assustando-a.
— Meu rosto está bem aqui, Doutora. Não me machuque que eu não a machuco.
Trisha só gritou. Estava com raiva, com medo, e sua bunda doía onde ele tinha batido com sua palma enorme. Algo bateu com força no carro e fez Slade sair de cima de Trisha. Eles foram jogados para frente e o corpo dela deslizou com o dele. Os dois bateram nas costas dos bancos da frente juntos.
— Dirija. — ordenou Slade para Bart com brusquidão. — Mais uma batida dessas e... MERDA!
Merda? Trisha ficou alarmada com o tom de Slade. Um segundo depois o carro correu loucamente.
Ela e Slade de fato foram arremessados completamente do banco. Ouviu o grito de um homem.
Bart. Então bateu com força de volta no assento com todo o peso de Slade caindo sobre ela. Ouviu um barulho horrível quando tudo sacudiu, pulou e solavancou tão forte que se perguntou se também se quebraria ao meio. Uma explosão alta encheu o ar de repente um segundo depois do carro virar e ela ser arremessada de novo. Gritou em puro terror. Não sabia o que estava por cima nem por baixo. Não sentia nada além de dor, medo, e a sensação de movimento.
Mãos agarraram suas coxas, ala caiu no corpo de Slade de qualquer jeito, de forma impiedosa. Ouviu vidro se quebrando como se tivesse explodido. Metal rangia e batia ruidosamente, em um volume ensurdecedor. Trisha continuou a gritar, mas tudo parou de se mover de repente.
Ofegou, deitada em algo duro. Seu ombro, mão e ouvidos doíam. Tentou se acalmar e abrir os olhos, mas instantaneamente desejou que não tivesse aberto. Descobriu seu corpo espalhado pelo teto do carro. A janela traseira quebrada estava bem à sua direita, dizendo-lhe que de algum modo tinha sido arremessada para o compartimento de bagagem.
Ela olhou para a terra e a grama no chão, só a um braço de distância. Perto da traseira do carro havia um grosso tronco de árvore. Finalmente caiu a ficha em sua mente que o carro havia parado de cabeça para baixo.
Moveu-se, o que fez com que a dor explodisse da perna até o joelho. Gemeu.
Colocou as mãos no teto e tentou se levantar, mesmo com os ombros doendo, mas só conseguiu levantar um pouco a cabeça. Virou para a esquerda para ver Slade a alguns centímetros dela. Estava deitado de lado com as costas para ela, a cabeça perto do seu quadril. Ele moveu os braços quando tocou seu rosto.
— Merda. — grunhiu Slade. — Doutora? — Sua voz ficou mais grossa quando seu corpo inteiro se sacudiu. — DOUTORA?— Seu tom era mais forte em alarme.
— Estou atrás de você. Você está bem? — Trisha limpou a garganta. Sua voz falhou quando falou.
Slade virou a cabeça para olhá-la.
— Bem. Está muito ferida?
— Com dor, mas viva. Consegue ver Bart? Tudo o que eu vejo daqui é você e o banco de trás.
Slade se moveu um pouco e grunhiu quando levantou a cabeça.
— Eu o vejo. Está amarrado de cabeça para baixo, mas se mexendo. Consigo ouvi-lo respirando.
Um gemido de dor veio da frente do carro. Trisha lambeu os lábios secos, instantaneamente sentindo gosto de sangue. Começou a ir à direção da terra, na intenção de sair de dentro do carro.
Uma mão agarrou sua coxa.
— Não. — ordenou Slade.
— Eles tinham armas. Não sei o quanto capotamos, mas eles podem estar perto. Se você sair pode se tornar um alvo fácil.
— Oh, Deus. — soluçou Bart suavemente.
— Eu tenho que ajudá-lo. — Trisha encontrou o olhar de Slade.
Suas narinas dilataram.
— Ok. Passe por cima de mim para chegar até ele. Tem muito vidro quebrado debaixo de mim e eu não quero que se corte. Fique dentro do carro. Se não conseguir alcançá-lo do meio dos bancos, esqueça o assunto até eu sair e dar uma olhada primeiro. Preciso descobrir se estamos fora da linha de tiro deles.
— Quer que eu passe por cima de você? Mas...
— Vá logo, Doutora. Não estou brincando sobre os cacos de vidro. As janelas quebraram. Vidros reforçados uma ova. Isso é vidro temperado, mas tem partes afiadas. Passe por cima do meu corpo e vá até ele primeiro e eu vou sair para dar uma olhada onde estamos depois. Com sorte rolamos o bastante da colina para que eles não nos achem, mas podem estar descendo a pé para terminarem o trabalho. De qualquer forma, não quero ficar por aqui por muito tempo. Eles sabem onde estamos e podem nos encontrar muito facilmente. Tenho certeza que deixamos uma trilha para que sigam.
Trisha se virou de lado. Só tinha espaço suficiente para sair de baixo do banco de trás antes de encontrar o olhar de Slade. Ele lhe deu um sorriso que não alcançava seus olhos.
— Você sabe que quer vir para cima de mim, Doutora. Essa é a sua chance.
Trisha franziu o cenho.
— Você é um completo bundão.
Ele piscou.
— Não é com a minha bunda que me preocupo quando estiver em cima de mim. Cuidado com os seus cotovelos e joelhos, doçura.
Ela abriu a boca para lhe dizer que agora não era o momento para que começasse com as suas merdas, mas Bart soluçou na frente. O sorriso de Slade apagou.
— Ande, Doutora. Eles podem estar descendo para nos procurar e eu não quero ser furado que nem um peixe num barril.
Trisha estendeu os braços com cuidado para colocar as mãos dos lados da cabeça de Slade. Ele se moveu de repente, estendendo as mãos para ela.
— Coloque as mãos nas minhas. Tem vidro. Eu vou te levantar o máximo que puder. Depois coloque as mãos nas minhas pernas. Cuidado com os joelhos, Doutora. Falando sério.— Ele piscou.
— Por mais que queira ver o quanto eu sou grande, preferia que sentisse o tamanho com as mãos.
— Bastardo. — sussurrou Trisha, sem realmente falar sério.
Ela lhe deu um sorriso corajoso, sabendo que ele estava sendo um imbecil só para distraí-la. Estaria surtando com a situação em que se encontravam se não fosse por Slade. Despencaram parte de uma montanha, homens com armas poderiam estar a caminho do local do acidente, e Slade tentava fazer com que se concentrasse nele ao invés de no perigo.
— Obrigada. — sussurrou baixinho, colocando as mãos dentro das dele. Enroscou os dedos nos dele, as palmas juntas, quando Slade segurou seu peso.
Ele começou a puxá-la para cima do corpo. Trisha levantou o resto do corpo com os joelhos. Tentou não notar quando seus seios esfregaram o rosto de Slade e como seu estômago se aproximou o bastante para sentir sua respiração quente pelo tecido fino da camiseta.
— Talvez queira considerar fazer uma dieta se sobrevivermos a isso. — sugeriu Slade baixinho.
— Beije a minha bunda.
Ele riu.
— Não é a sua bunda que está em cima do meu rosto no momento, Doutora. Só consigo trazê-la até aqui. Por mais que eu goste de onde está, mexa-se, doçura.
Seus joelhos alcançaram os ombros dele. Ela agarrou suas coxas com as mãos, sabendo que ou teria que apoiar o corpo no dele e deslizar até os seus pés, ou passar por cima dele com os joelhos.
— Rápido, Doutora.
Ela cuidadosamente colocou o joelho em seu ombro. As mãos dele de repente agarraram o seu quadril quando levantou a parte inferior do seu corpo como se estivesse fazendo uma flexão. Empurrou-a para frente.
Trisha quase foi arremessada no meio dos bancos da frente, mas ao invés disso, foi só a sua cabeça que acabou entre eles com o painel acima dela. Apertou-se pelo espaço estreito. Conseguia ver Bart agora. Slade saiu de debaixo de suas pernas, que ainda estavam em cima dele.
— Não se mexa, Doutora. Eu vou sair. Foi bom te conhecer caso ouça tiros.
— Tenha cuidado. — ela alertou.

Slade - novas espécies 2 - Laurann DohnerOnde histórias criam vida. Descubra agora