Um Lorde pra Mim

CAPÍTULO III

Notas: nesse capítulo, eu menciono a Mão do Rei. Pra quem não conhece Crônicas de Gelo e Fogo/não assistiu Game of Thrones, é um cargo de confiança do rei, funciona praticamente como um "vice rei". Também menciono a Muralha, que é literalmente um muro gigantesco que separa o Norte da região além, que é considerada selvagem. Ser enviado pra Muralha é uma punição pra diversos crimes (alguns até vão por vontade própria, mas acredito que seja uma minoria). Pra terminar, a Fortaleza Vermelha é o nome do castelo da capital do reino, é onde mora a família real.

Eu tinha esquecido de colocar nas notas do primeiro capítulo, mas essa história é slow burn. "Ah, mas não vai ter nem um lanchinho?" Nesse capítulo e no próximo, não. Teremos um qualquer coisa no quinto e, se eu estiver inspirada, um jantar no sexto. "Ué, mas eles querem se comer desde o capítulo um..." Sim, mas eu quero escrever a construção, a base. Eles mal se conhecem, eles são dois emocionados! 😅 Eu quero que eles se conheçam e conversem e o aspecto físico da relação deles vai acontecendo junto, sabe?

Boa leitura!

🌼🛡️⚜️

Ramiro estava nas cozinhas do castelo, assistindo o cozinheiro, Zeza, ralhar com os assistentes que não limpavam as carnes ou cortavam os legumes da forma que ele tinha instruído. Se estava intimidado pela presença do Lorde, o homem não demonstrava. Talvez ainda lembrasse de Ramiro como a criança em quem ele sempre dava uns cascudos por assustar os porcos de sua criação

Antes de se tornar cozinheiro, Zeza tinha sido um criador de porcos, fornecendo diretamente para o castelo. Já preparava excelentes pratos, mas não o fazia profissionalmente. Após a morte do velho lorde, pai de Ramiro, e a derrocada da Casa Caswell, sem ter a quem vender sua produção, tratou de preparar tortas de carne e outros assados e vendê-los numa carroça para poder sobreviver. Quando Lorde Tyrell, suserano da Campina, enviou um gerente para Ponteamarga, o castelo dos Caswell, alguns anos mais tarde, para manter o feudo minimamente funcional, Zeza foi contratado como cozinheiro do castelo.

Surpreendeu Ramiro ao lembrar dele e estava até disposto a tratá-lo com a deferência necessária (mesmo que a contragosto) quando notou o quão desconfortável e deslocado ele estava. Brincou, então, dizendo que mesmo sendo lorde, ele não escaparia de uns cascudos se viesse bagunçar sua cozinha.

Ramiro não fora criado dentro das áreas nobres do castelo. Sua mãe trabalhava numa estalagem mas fora trazida para trabalhar em Ponteamarga a pedido do lorde, depois que ele a engravidou. Ela passou a trabalhar como lavadeira e Ramiro vivia pelas cozinhas e estábulos. Quando ele tinha doze anos, a esposa de Lorde Lorent, pai de Ramiro, aproveitou que alguns soldados estavam sendo enviados para controlar uma rebelião nas Ilhas de Ferro e tratou de mandar Ramiro embora como cavalariço deles. Despediu a mãe dele pouco depois. Tinha aturado aquele desrespeito por tempo demais.

A virada no entanto veio anos depois, quando Lorde Lorent descobriu que os dois filhos que tivera com a esposa não eram dele, pois ela tinha engravidado de um amante. Ele a flagrou na cama com o homem e na briga, ela gritou para todos ouvirem que ele morreria sem deixar linhagem pois seu único filho era um bastardo que ela tinha mandado para morrer na guerra. Enlouquecido de raiva, ele matou a esposa e o amante e expulsou os rapazes, antes de sair a cavalo, galopando pelos campos, sem destino, ainda gritando de raiva e ódio contra a esposa e seus filhos. Uma chuva pesada, com raios e trovões, começou a cair e soldados foram procurá-lo, pois horas depois ainda não tinha voltado. Encontraram-no caído, já morto, com uma grande ferida na cabeça e seu cavalo estava metros à frente, arredio e assustado. Devia ter empinado com medo dos relâmpagos e trovoadas e derrubou seu cavaleiro.

E assim, numa única noite, a Casa Caswell acabou.

Se não fosse por um único soldado, tão bom que era obedecido como se fosse um comandante pelos companheiros de batalhão, um bastardo que entrara no exército ainda criança como cavalariço, se tornou escudeiro e treinou, treinou e treinou até se tornar soldado. Apresentava-se apenas como Ramiro, rejeitando o nome de bastardo e consequentemente, o parentesco nobre.