CAPÍTULO X

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Notas iniciais: Lá embaixo tem um trecho em itálico, é um flashback.

Espero que gostem e boa leitura.

🌼🛡️⚜️


Kelvin abriu os olhos devagar, piscando contra claridade sutil do quarto. A visão estava embaçada, como se tivesse dormido por muitas horas, e sentia o corpo pesado. Tentou se apoiar nos braços para levantar, mas um deles parecia preso. Ergueu um pouco a cabeça para ver qual era o problema, mas uma pontada forte acima da nuca o deteve. Não conseguiu conter uma exclamação de dor. Flor e Cândida apareceram em sua linha de visão num instante. Sequer tinha notado a presença delas.

— Kelvin? Fique deitado, querido, por favor! — ela olhou para Flor — Chame o meistre .

A criada saiu apressada e Kelvin sentiu a tia passar a mão por seus cabelos.

— O que aconteceu? — sua voz estava fraca e ele mal a reconhecia. Parecia que estava sem uso há dias. Limpou a garganta, mas sentiu a dor atrás da cabeça novamente.

Cândida apertou os lábios.

— Qual a última coisa que você lembra, meu amor?

Confuso com a pergunta, Kelvin apenas a encarou. Por que ela não contava logo o que tinha acontecido?

A cabeça ainda doía, então tentou relaxar contra o travesseiro e fechou os olhos, pois mesmo com as cortinas meio fechadas, a pouca luminosidade ainda incomodava.

— Você estava na carruagem e eu a cavalo. Estávamos conversando sobre... — apertou os olhos, tentando lembrar. Sua cabeça parecia cheia de fumaça — Sobre deixar Porto Real passar fome?... E você queria que eu e Ramiro fôssemos príncipes...?

Voltou a abrir os olhos e virou a cabeça para o lado, notando que o restante da cama estava vazio e arrumado, como se ninguém tivesse dormido ali. Quando encarou Cândida novamente, ela pareceu nervosa.

— Tia, onde está o Ramiro?

— A nossa conversa é a última coisa que você lembra? — ela ignorou a pergunta de Kelvin.

Ele franziu o cenho, mas respondeu. — Não, eu virei pra falar com o Ramiro... E eu vi... — fechou os olhos para se concentrar — Guardas reais. E eu senti... — Kelvin moveu o braço que não estava imobilizado e tocou o ombro enfaixado — Acertaram uma flecha em mim? — a tia tinha os olhos cheios de lágrimas quando assentiu — E eu caí do cavalo e bati a cabeça... Foi isso, não foi?

Viu Cândida confirmar com a cabeça e limpar as lágrimas. Olhou novamente para o lado vazio da cama e demorou alguns segundos para voltar-se lentamente para a tia, uma sensação esmagadora de medo descendo por seu peito. Puxou o ar com força, sentindo o coração acelerar devido ao nervosismo.

— Cadê ele, tia? Cadê o Ramiro?!

— Querido, por favor, acalme-se! — tentou conter o sobrinho, que se esforçava para levantar, perguntando incessantemente por Ramiro e ficando cada vez mais agitado por não receber notícias do marido.

Enquanto Cândida tentava acalmá-lo, Flor voltou com o meistre de Jardim de Cima, que tinha sido convocado às pressas para cuidar de Kelvin.

O homem tentou forçar o jovem a deitar novamente, vendo que sua agitação tinha feito o ferimento junto ao ombro se abrir e voltar a sangrar. Tocou o ferimento atrás da cabeça dele cuidadosamente, mas ainda estava fechado e seco, um bom sinal. Pediu à Cândida e Flor para segurarem Kelvin e se adiantou até uma caixa de madeira que estava sobre uma mesa, no canto do quarto. Dentro, tinha diversos frascos pequenos de vidro, fechados com rolhas. Alguns continham ervas secas, outros vedados com cera, continham pequenas quantidades de líquido. Apanhou um desses e quebrou o lacre, aproximando-se da cama, onde Kelvin praticamente brigava com a criada e a tia e chorava, chamando desesperado pelo marido.

Um Lorde pra MimOnde histórias criam vida. Descubra agora