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Simone Tebet:


Me remexo na cama, solto um gemido baixinho e logo me desperto de uma só vez, viro na cama, ficando de peito pra cima, fecho os olhos novamente mas já estou acordada, me sinto quente, o sonho tava tão real, logo sorrio de lado, isso então faz eu levar a mão para o outro lado do colchão, eu tava a ponto de fazer Soraya gozar, mas acordei.

Olho para o lado e vejo que está vazio, minha testa franze, no despertador ao lado vejo ser três e cinquenta da manhã, levanto rápido e preocupada com a sol, saio de nosso quarto para ir até a cozinha, talvez ela esteja lá, mas ouço um pequeno barulho no quarto de suas pinturas, vou até lá e percebo sua presença ali.

Em sua mão direita segura suave um pincel fino, na outra mão está a pequena paleta de cores mais neutras, sol está concentrada no que faz diante de si, vou adentrando o quarto devagar, não quero tirar seu foco, reparo bem no que ela faz, rapidamente me passa uns flashes pela minha cabeça.

_Não pode ser_ acabo falando, sendo que eu deveria ficar calada.

_Simone? tá aí muito tempo?_ pergunta ela ao se virar pra mim.

_Acabei de entrar_ meu olhar segue para o dela.

_Acordei sentindo saudades do nosso filho Simone_ diz, seus olhos estão beirando lágrimas.

_Por que não me acordou? eu poderia conversar com você amor_ digo.

_O seu dia anterior foi tão puxado, logo mais também será, quis te deixar descansando_ fala suave.

_Você sabe que pode me chamar a qualquer momento não sabe?_ ela assente.

Passo a mão pelo seu ombro, olhamos em silêncio para a tela com a obra já praticamente pronta, percorro meu olhar por cada mínimo detalhe, cada traço, tudo, estou surpresa com o que vejo, sua saudade lhe inspirou.

_Isso está perfeito sol_ eu digo, apesar de ser uma obra triste.

_Você achou?_ olho para ela.

_Tenho total certeza_ lhe faço um carinho no rosto.

_Foi assim que levaram nosso filho embora para sempre_ vejo que uma lágrima cai após ela dizer isso.

Eu limpo com o polegar, a faço levantar e sento no banco que ela estava, para logo lhe puxar para meu colo, passo os braços por sua cintura, beijo sua costa, puxo ela a fazendo encostar em meu peito, voltamos a olhar pra arte, é tão real, e dolorido ao mesmo tempo.

É a segunda vez que Soraya consegue fazer uma obra sobre a perda do nosso filho, a primeira foi ela retratando como se tornou a vivência de onde ele está desde que se foi, uma obra perfeita, capaz de tocar até a alma de quem olhá-la, só quem passou por isso sabe como é ser tocada pela arte.

Agora olhando essa segunda, não demora para que aquele sentimento de culpa venha a aparecer e fazer uma visita desagradável, de que eu poderia ter evitado, mas não a fiz, continuo em silêncio e olho a obra que se retrata de como tudo aconteceu com a sol naquele dia fatídico.

_O que significa isso aqui perto de você?_ pergunto quando surge a dúvida.

_É o sangue, a queda foi violenta, nosso filho começou a ir embora naquele momento_ sua voz embarga.

A abraço mais forte, suas mãos apertam meu braço em volta de sua cintura, somente nós sabemos o quanto dói quando vivemos essas lembranças, mas agora não consigo mais chorar quando lembro do meu filho, isso me dói, porque parece que eu o esqueci.

Nossa HistóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora